O parlamento rejeitou hoje dois projetos de resolução apresentados pelo PEV e pelo BE sobre a requalificação da linha férrea do Algarve, que receberam críticas do PSD e do CDS-PP, alegando que falta ao país “combustível financeiro” para realizar o projeto.
O projeto de resolução do PEV recomendava ao Governo que procedesse “às obras de duplicação das vias, à eletrificação e à renovação de toda a linha ferroviária do Algarve”; a “uma maior articulação dos horários dos comboios regionais com os comboios de longo curso”; que “assegurasse ligações diretas dos comboios regionais que circulam entre Vila Real de Santo António e Lagos, em ambos os sentidos” e que “procedesse ao desenvolvimento da ligação ferroviária convencional entre o Algarve e a Andaluzia”.
A proposta foi votada ponto por ponto. O ponto dois, referente à “articulação dos horários dos comboios regionais com os comboios de longo curso”, foi aprovado por unanimidade. Os restantes foram rejeitados com os votos contra do PSD e do CDS-PP e com os votos a favor do PS, PCP, BE e PEV.
Também o BE entende que o investimento nesta linha é urgente, uma vez que “o estado de conservação dos diversos troços é muito desigual”, dada a degradação de algumas das suas plataformas e estações, a desadequação dos horários ou a necessidade de mudar o material circulante.
“Urge a eletrificação e ajustada sinalização elétrica, a duplicação da linha férrea, o ajustamento dos horários dos comboios de longo curso com os comboios regionais ou a almejada ligação ferroviária convencional entre o Algarve e a Andaluzia”, lê-se no documento levado a votação.
O projeto de resolução do BE foi rejeitado com os votos contra do PSD e do CDS-PP e com os votos a favor do PS, PCP, BE e PEV.
A falar pelo PSD, o deputado Mendes Bota considerou que a “fotografia” que PEV e BE fizeram da linha está “desatualizada” e criticou as propostas apresentadas por considerar que os partidos não “fizeram contas”, argumentando que falta ao país “combustível financeiro” para realizar o que os dois projetos de resolução pedem.
“A situação já não é exatamente igual à que relataram, a duplicação da linha não é a maior necessidade. Precisamos do troço entre Faro e Olhão. Quanto ao resto, a grande necessidade é a eletrificação”, afirmou, acrescentando que, “em 10 anos, o défice das empresas e das estruturas ferroviárias chegou aos 16,7 mil milhões de euros”.
O deputado Paulo Sá, do PCP, lembrou que “o Algarve aguarda há longos anos uma intervenção de fundo, que se impõe”, acusando o Governo de ter sempre a mesma resposta para dar às propostas de investimento público: “Não há dinheiro, dizem. Não há dinheiro para investimentos que promovem o bem-estar social, mas há rios de dinheiro para a banca e para o grande capital”.
Para o CDS-PP, “a importância e a necessidade da requalificação desta linha, a par da sua eletrificação” são um facto, mas, afirmou Pedro Morais Soares, é preciso encontrar um equilíbrio entre “as alterações necessárias para melhorar o serviço e a realidade das contas públicas”.
“Isto parece quase um TGV. O CDS defende que temos que estabelecer prioridades e perceber o que pode ser feito para melhor as condições de mobilidade das pessoas, dadas as condições atuais”, acrescentou.
Miguel Freitas, do PS, afirmou que o partido “encara estes dois projetos de resolução como um sinal político importante, no sentido de melhorar a mobilidade interna no Algarve”, acrescentando que entende que “a discussão deve fazer-se”, passando “pela criação de uma autoridade regional de transportes”.