A polícia britânica, em simultâneo com a polícia alemã, lançou ontem um novo apelo público de informação sobre um homem alemão, suspeito de envolvimento no desaparecimento de Madeleine McCann em Portugal em 2007.

O homem de 43 anos, atualmente a cumprir pena de prisão na Alemanha, terá vivido no Algarve durante períodos entre 1995 e 2007 e registos telefónicos colocam-no na área da Praia da Luz no dia em que a criança inglesa desapareceu.

A Metropolitan Police, que está a investigar o desaparecimento numa investigação designada por Operação Grange, identificou uma carrinha caravana branca de marca Volkswagen que o suspeito, que não foi identificado, usou para viver e também um automóvel Jaguar ao qual teria acesso.

A polícia identificou também dois números de telemóvel, um usado pelo suspeito e que terá recebido uma chamada entre as 19:32 e 20:02 de 03 de maio na zona da Praia da Luz, e outro que iniciou o telefonema e que poderá ser uma “testemunha altamente significativa”.

O Sub-Comissário Adjunto da Metropolitan Police, Stuart Cundy, disse ontem que o suspeito passou a interessar aos investigadores na sequência de um apelo público em 2017, no âmbito do 10.º aniversário do desaparecimento.

“O nome deste homem era conhecido da nossa investigação. Não vou dar detalhes sobre como era conhecido, mas já era conhecido antes de recebermos informação nova em 2017. Desde então temos continuado a trabalhar de forma muito próxima com colegas em Portugal e na Alemanha”, afirmou.

Este homem é a atual linha de investigação da polícia britânica, que chegou a identificar 600 “pessoas de interesse” e outros quatro suspeitos, que foram descartados após serem interrogados buscas realizadas em terrenos em Portugal.

“Temos boas relações com os colegas em ambos os países. E sei que estamos todos determinados em saber o que aconteceu e ver se este homem esteve envolvido no desaparecimento da Madeleine ou não”, vincou.

Madeleine McCann desapareceu poucos dias antes de fazer 4 anos, em 03 de maio de 2007, do quarto onde dormia juntamente com os dois irmãos gémeos, mais novos, num apartamento de um aldeamento turístico, na Praia da Luz, no Algarve.

A polícia britânica começou por formar uma equipa em 2011 para rever toda a informação disponível, abrindo um inquérito formal no ano seguinte, tendo até agora despendido perto de 12 milhões de libras (14 milhões de euros).

A Polícia Judiciária (PJ) reabriu a investigação em 2013, depois de o caso ter sido arquivado pela Procuradoria-Geral da República em 2008, ilibando os três arguidos, os pais de Madeleine, Kate e Gerry McCann, e um outro britânico, Robert Murat.

Suspeito acusado de crimes de abuso sexual de menores

O Bundeskriminalamt, o Departamento Federal de Policia Criminal da Alemanha, confirmou, em comunicado, estar a investigar o cidadão de 43 anos, acusado de vários crimes de abuso sexual de menores, pelo desaparecimento de Madeleine McCann.

Na página oficial do BKA, pode ler-se que o suspeito, que se encontra preso na Alemanha, foi acusado de vários crimes, entre eles abuso sexual de crianças, estando atualmente a cumprir pena “por outras causas”, sem especificar quais. O investigador Christian Hoppe, do BKA, numa entrevista à estação televisiva ZDF, acrescentou que o homem está a cumprir pena de prisão também por delitos de droga.

“No passado, o suspeito já tinha sido condenado a pena privativa de liberdade, duas vezes por abuso sexual de crianças do sexo feminino”, adianta o documento do BKA.

O homem terá vivido “mais ou menos permanentemente no Algarve durante períodos entre 1995 e 2007, inclusive por alguns anos numa casa entre Lagos e a Praia da Luz” e desempenhado vários trabalhos.

“Durante esse período, exerceu vários biscates na área de Lagos, entre outros, na restauração. Há também indícios que ele também ganhou a vida a cometer crimes como roubos em complexos de hotéis e apartamentos de férias, além de tráfico de drogas”, continua a nota do BKA.

“As autoridades investigadoras conhecem alguns dos veículos que ele usava na época, vários pontos de contacto e um número de telemóvel português”, acrescenta o Departamento Federal de Polícia Criminal.

O Ministério Público de Braunschweig, no estado da Baixa Saxónia, está também envolvido na investigação porque foi nesta região onde o suspeito residiu antes de deixar o país.

O BKA sublinha estar a trabalhar na investigação em estreita cooperação com as autoridades britânicas e portuguesas apelando a todos os alemães, numa mensagem já difundida num programa do canal ZDF, que colaborem com informações que possam ser úteis.

Investigação admite que Madeleine possa estar morta

O investigador Christian Hoppe revelou que Madeleine McCann pode ter sido alvejada quando o suspeito assaltava o apartamento da família e que possa estar morta.

Na entrevista à estação televisiva ZDF, Hoppe não descarta ainda assim o sequestro da criança, nem um ataque provocado por motivos sexuais, mas sublinha que a investigação indica que “a criança está morta”.

“Não podemos excluir essa possibilidade. Mas também é possível que o suspeito, depois de uma intenção inicial de roubo, tenha depois cometido um crime sexual”, avançou.

“Além do infrator inicial, pode haver outros que souberam do crime, da localização do corpo de Maddie ou até que tenham participado”, respondeu, quando questionado sobre a existência de cúmplices.

A primeira pista sobre o suspeito terá surgido em 2013, mas revelou-se insuficiente para uma detenção ou investigação. Mas outras provas que foram surgindo acabaram por dar-lhe força.

PJ prossegue investigação em Portugal e confirma envolvimento de cidadão alemão

A Polícia Judiciária adiantou que prosseguem em Portugal diligências no âmbito da investigação ao desaparecimento da criança inglesa, confirmando as suspeitas de envolvimento do cidadão alemão detido.

“Em estreita articulação com as Autoridades Alemãs (BKA) e Inglesas (Metropolitan Police), na partilha de informação, na realização de atos formais de investigação e de perícias, em Portugal e no estrangeiro, foram recolhidos elementos que indiciam a eventual intervenção, no desaparecimento da criança, de um cidadão alemão”, informa a Polícia Judiciária portuguesa numa nota publicada na sua página oficial na Internet.

Na mesma nota, “a Polícia Judiciária confirma que, no âmbito da investigação ao desaparecimento de uma criança inglesa, ocorrido no Algarve em 2007, continuam a ser desenvolvidas diligências, para o cabal esclarecimento da situação”.

A PJ diz ainda que “a família da criança desaparecida foi informada destes desenvolvimentos investigatórios, pelas autoridades inglesas”.

Investigação prossegue no DIAP de Faro com inquirição de testemunhas

O Ministério Público revelou ontem que o inquérito sobre o desaparecimento de Madeleine McCann e que ontem conheceu novos desenvolvimentos, encontra-se em investigação com diligências em curso, designadamente inquirição de testemunhas.

A secção de Portimão do Departamento de Investigação e Ação Penal de Faro informou que a investigação em curso “tem-se desenvolvido com a cooperação das autoridades inglesas e alemãs”.

No âmbito do inquérito estão a ser “realizadas todas as diligências que se revelem pertinentes” e adequadas para apurar as circunstâncias que rodearam o desaparecimento da criança.

Pais continuam determinados em descobrir a verdade

Os pais de Madeleine McCann manifestaram ontem a esperança de encontrar a filha desaparecida em Portugal, “descobrir a verdade e levar os responsáveis à justiça”, na sequência de um apelo público da polícia britânica sobre um novo suspeito na investigação.

“Tudo o que sempre quisemos foi encontrá-la, descobrir a verdade e levar os responsáveis à justiça. Nunca deixaremos de ter esperança de encontrar Madeleine viva, mas seja qual for o resultado, precisamos saber, pois precisamos ter paz”, referiram Kate e Gerry McCann, num depoimento publicado ontem.

O casal agradece às polícias envolvidas na investigação. “Gostaríamos de agradecer ao público em geral pelo apoio contínuo e incentivar qualquer pessoa que tenha informações diretamente relacionadas ao apelo a entrar em contacto com a polícia”, concluíram.

com Lusa