Motivados pela presença dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na sua paróquia, os jovens da matriz de Portimão mobilizaram-se ontem à noite para ajudar na elaboração dos cabazes de alimentos que a Cáritas paroquial prepara semanalmente para entregar aos mais necessitados.


Divididos por grupos e de fichas na mão com os nomes dos beneficiários e respetiva listagem de alimentos a incluir em cada cabaz, os voluntários – alguns já crismados e outros pertencentes a grupos de catequese do 10º ao 12º ano – elaboraram algumas dezenas de sacos de alimentos.
A presidente da Cáritas Paroquial de Portimão explicou ao Folha do Domingo que vários colaboram regularmente com a Cáritas e que alguns fazem mesmo parte da equipa de voluntários. “A partir do 10º ano de catequese, ao fazer o compromisso, alguns optam por fazer voluntariado e são inseridos nas valências de que dispomos”, afirmou Manuela Santos.


Carla Ventura, animadora do grupo de jovens já crismados e catequista dos catequizandos do 10º ano, acrescentou que “a iniciativa partiu deles quando souberam da vinda dos símbolos”. Aquela responsável disse que escolheram aquela atividade “pela questão do serviço”. “Para mostrar que o serviço à comunidade tem a ver com o Papa João Paulo II e com a missão que ele nos deu de amar os outros”, justificou aquela animadora que também é membro do Comité Organizador Diocesano da JMJ e do Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve.
Após o serviço, os jovens dirigiram-se à igreja onde permaneceram a cruz e o ícone mariano para fazer uma oração de agradecimento. “Na impossibilidade de os símbolos nos acompanharem até à Cáritas devido às suas dimensões, viemos nós junto deles para rezar em ação de graças pelo dom da caridade. Darmos graças a Deus por a nossa comunidade, de forma voluntariosa, preparar semanalmente tantos cabazes para poder auxiliar neste momento menos feliz tantas e tantas famílias da nossa cidade. Agradecer a Deus pelo bonito serviço destes servos da messe do Senhor, voluntários da Cáritas, que semanalmente, de forma quase invisível, preparam, entregam, mas acima de tudo, em nome da nossa comunidade, acolhem estas pessoas que precisam de ajuda”, introduziram.


Durante a oração, os jovens e as restantes pessoas presentes foram convidadas a um momento de veneração e interiorização junto daqueles objetos simbólicos, podendo apresentar a sua prece em silêncio.

A Cáritas Paroquial de Portimão distribuiu 204 toneladas de alimentos em 2020 e este ano já vai em 230, mais do dobro do que no ano 2019 em que distribuiu 114 toneladas. Aquela instituição da paróquia matriz de Portimão está neste momento a assistir 370 famílias (952 pessoas), mas Manuela Santos considera que o número “certamente ainda vai aumentar”. “Baixou um pouco no Verão porque as pessoas estavam a trabalhar, um trabalho sazonal, mas agora muitos deles já estão desempregados e já estão a voltar outra vez”, lamenta a presidente da Cáritas.
“Em abril estávamos a apoiar 504 famílias, 1229 pessoas)”, recorda, comparando com o período pré-pandemia de 2019 em que apoiavam 187 famílias, constituídas por pouco mais de 500 pessoas. “As famílias que nos têm aparecido agora devido à pandemia até tinham uma vida mais ou menos estável se estivessem os dois [membros do casal] a trabalhar, mas a falta de trabalho e o fecho de algumas casas comerciais obrigou a que as pessoas ficassem desprotegidas”, conta, acrescentando que “muito pouca gente tem economias que dê para dois anos” e que muitos apareceram pela primeira vez a pedir ajuda.
“Já tivemos aqui engenheiros que, de um momento para o outro, ficaram desempregados”, testemunha, explicando que por detrás das situações súbitas de pobreza há, muitas vezes, outras razões como os divórcios. Manuela Santos refere que a maioria dos pedidos surge por parte de portugueses, mas também de “muitos brasileiros”, de ucranianos, entre outras nacionalidades.
A Cáritas de Portimão promove ainda ações de formação com os utentes, com formadores da DECO ou da associação ‘In Loco’ pelo menos duas vezes no ano. As formações incidem em áreas como a gestão doméstica e financeira, o desperdício alimentar, a poupança e eficiência energética, entre outras como a gastronómica que ajuda os beneficiários a perceber que pratos que podem confecionar com o cabaz que lhe é atribuído. Estes cabazes, para além dos alimentos não perecíveis, são complementados com frango ou legumes.
O banco de alimentos é composto por bens mensalmente provenientes do Fundo Europeu de Apoio a Carenciados (FEAC), do Banco Alimentar Contra a Fome e da Câmara de Portimão, com quem colabora aquela Cáritas, e da compra feita pela própria instituição com as receitas da loja social que tem para venda de roupa usada a preços simbólicos. A Cáritas de Portimão é que tem assistido com alimentos as pessoas sem apoio familiar que estão em isolamento profilático ou mesmo infetadas com Covid-19, no âmbito da colaboração com a autarquia. Manuela Santos refere que esse trabalho abrandou um pouco nos últimos meses, mas este ano chegou a representar 8 a 10 cabazes entregues por dia.
Para além do banco de alimentos e da loja de roupa, a Cáritas de Portimão conta ainda com as valências de barbearia social, que acolhe todas as terças-feiras, das 15h às 17h, os seus utentes ou referenciados por outras instituições; o refeitório social, que atualmente dá almoço e jantar, de segunda a sexta-feira, a 30 pessoas; e o projeto “Nutrição Entérica”. Este último visa apoiar pessoas com necessidade de nutrição artificial por perda da via oral, que não tenham recursos financeiros para adquirir os produtos necessários à sua alimentação e é realizado em articulação com o Serviço de Gastrenterologia do hospital de Portimão que deteta pacientes nesta situação e os encaminha para a Cáritas que assume o papel de facilitadora/mediadora no processo.
A instituição conta com cerca de 90 voluntários. “Temos uma equipa espetacular, trabalhamos de manhã à noite e conseguimos assegurar as valências todas”, diz Manuela Santos, explicando que 50% daqueles colaboradores são reformados e os restantes 50% são igualmente pessoas “com muita boa vontade e disponibilidade” nas quais se incluem os jovens. “Se não tivéssemos fé não estávamos aqui. Com esta pandemia toda, com muitas das famílias em casa, nós nunca deixámos de vir para aqui. Foi um período muito difícil”, destaca.
Os símbolos da JMJ têm vindo a peregrinar pela Diocese do Algarve desde o dia 29 de outubro e serão amanhã levados até Mértola, onde serão entregues aos representantes da vizinha Diocese de Beja para prosseguir a peregrinação de dois anos pelas dioceses portuguesas rumo à JMJ de 2023 em Lisboa.
A Cruz da JMJ foi entregue pelo Papa João Paulo II aos jovens em abril de 1984 e marcou o início de uma peregrinação da juventude de todo o mundo; em 2000, o mesmo pontífice confiou aos jovens uma cópia do ícone de Nossa Senhora ‘Maria Salus Populi Romani’.