A presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve (UAlg) garantiu na última quarta-feira que “há muitos alunos com problemas financeiros” devido à pandemia de Covid-19.

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Raquel Jacob – que tomou posse no dia 7 de janeiro deste ano, após ter sido eleita no dia 3 de dezembro do ano passado – foi a convidada da edição desta semana da iniciativa ‘Quartas com Cristo’, promovida pela Capelania da UAlg, que desta vez teve como tema “Desafios em Tempos de Mudança”.

“Tivemos pessoas que tiveram de abandonar as casas por não terem possibilidade de pagar a renda, pessoas que não estavam a conseguir garantir o pagamento da propina”, afirmou, como exemplo, na rubrica com transmissão online em direto na página de Facebook da capelania.

A Associação Académica criou o email apoio.estudante@aaulag.pt para receber pedidos de ajuda. Raquel Jacob explicou que o objetivo foi o de superar maneiras, “todas elas muito impessoais”, de pedir ajuda. “Muita gente ainda tem, infelizmente, vergonha [de pedir ajuda], constatou, acrescentando que todos os casos que chegam à associação são reportados aos Serviços de Ação Social ou à Reitoria.

A representante dos estudantes disse ainda que os motivos económicos, a par dos sanitários, foram a justificação para a maioria dos alunos que responderam a um questionário promovido pela AAUAlg sobre as aulas presenciais ou online, indicarem “que não pretenderiam regressar ao ensino presencial”. “Mais de 80% desses 4.000 não tinham condições para regressar ao ensino presencial porque tinham abandonado residências e não poderiam sujeitar-se de novo a vir procurar uma casa, muitos não tinham condições económicas para regressar dos países para onde já tinham ido ou não tinham mesmo condições sanitárias”, referiu.

Raquel Jacob reconheceu que “faz falta o ensino presencial”, mas considerou ser necessário “desenvolvê-lo de outra forma”. Para aquela estudante do curso de Ciências Biomédicas, o momento atual deve servir para “repensar aquilo que é o ensino superior”, que defendeu dever apostar “mais na presença” e na “discussão”, “do que na avaliação teórica”.

“Estes tempos, em que estamos tão afastados, devem servir para percebemos o quão próximos precisamos de estar”, acrescentou, considerando que as ferramentas utilizadas para prosseguir as aulas permitiram “encontrar mecanismos que não prejudiquem os estudantes daqui para a frente”, por exemplo, quando um aluno não puder estar presente nas aulas “por motivos de força maior”.

A dirigente estudantil testemunhou ainda que a “associação, que acabou de sair de uma situação de crise financeira muito recentemente, vê se agora abraços com uma possível crise financeira”. “Além de termos ficado sem os nossos eventos, tanto arraiais como a Semana Académica – que são, não só uma fonte recriação para os nossos alunos, como também uma fonte de receita que permite manter o funcionamento normal da Associação Académica – acabámos por ter de fechar também os nossos serviços e temos muitos ordenados para pagar”, afirmou, referindo-se aos dois bares e aos dois centros de cópias.

Raquel Jacob explicou que quase todas as atividades programadas pela associação foram canceladas, algumas delas agora com dificuldades acrescidas para poderem vir a ser reprogramadas como a parceria empresarial para atribuição de bolsas de estudo que “estava a ser uma ideia muito bem recebida”, mas agora “ficou mais difícil”, devido às dificuldades vividas pelas empresas.

De entre as atividades canceladas, a presidente da AAUAlg lamentou não ter sido possível realizar a Semana Académica com a sua “bênção das pastas”. Nesse sentido, agradeceu a mensagem do bispo do Algarve que abriu aquela edição do ‘Quartas com Cristo’. “Tínhamos esperança que fosse possível fazê-la de uma outra forma, se calhar, alternativa, mas o mais parecido possível com o que era normal. Temos andado a procurar soluções. Está tudo em cima da mesa entre a Associação Académica e o capelão (que é quem faz a ligação direta entre a universidade e a diocese) para conseguirmos proporcionar aos nossos finalistas uma bênção das pastas. Mas, mais uma vez, dependemos muito das autoridades de saúde e, da parte deles, ainda não há nenhuma resposta positiva”, adiantou.

A dirigente académica lamentou haver um “estigma em relação ao jovem universitário” em Faro e defendeu uma maior exposição dos projetos da academia para solucionar a questão. “ Se eu quero ser valorizado, tenho de mostrar que tenho valor. Não temos de ter medo de sair para a rua com os nossos projetos. É esse balanço entre o que acontece em Faro às quintas à noite e os projetos fantásticos que os nossos alunos são capazes de produzir, para além de tudo aquilo que nossa formação já dá à região, que vai fazer a cidade perceber que nós somos muito valiosos”, afirmou.

A presidente disse ainda que a Associação Académica “veria com bons olhos” a criação de um “espaço de silêncio e espiritualidade” dentro da UAlg. “Seria um desafio enorme”, considerou, realçando a importância do respeito entre os que professa alguma fé e os que não o fazem. “A única coisa que quero em troca é que tu respeites que eu acredito e acho que é só isso que é essencial. Acredito que se todos nos respeitarmos uns aos outros, ninguém enfrenta dificuldades”, concluiu.