Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A presidente da Federação Portuguesa pela Vida veio alertar no passado dia 17 de março que existe “uma contracultura que se apresenta com as chamadas questões fraturantes” que é preciso combater.

Na segunda tertúlia de um conjunto de cinco que as paróquias de São Luís e da Sé de Faro estão a promover durante esta Quaresma, Isilda Pegado considerou, por isso, ser “preciso defender uma cultura”.

“É preciso que na sociedade continuem os valores que defendem este humanismo e por isso aceitei ir para o Parlamento”, afirmou a antiga deputada do PSD, lembrando a sua passagem pela Assembleia da República e que nesse período ganhou a consciência de que “a sociedade estava tomada por estas organizações, nomeadamente a APF [Associação para o Planeamento da Família], que faz a promoção do aborto em meio escolar, neste momento acompanhada por outras associações que fazem, mais do que o aborto, fomentam outras questões da chamada ideologia do género, como sejam a promoção da homossexualidade, a defesa dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, a adoção por pares homossexuais”.

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A oradora disse haver “uma agenda escondida que é preciso combater no centro político”. “Todas as organizações que defendem estas causas fraturantes estão muito bem organizadas, sabem aonde vão buscar dinheiro a nível internacional e nós, os que defendemos a vida e a família, estamos muito desorganizados, não temos gente, não temos dinheiro”, lamentou.

“Estamos a ver destruir a civilização”, alertou. “Os direitos humanos nascem na igualdade e igual dignidade de todos os seres humanos, coisa que hoje estamos a destruir: aquele que é doente não é igual a mim, aquele que está em fim de vida e não é muito produtivo, não é igual a mim, aquele que está por nascer não é igual a mim porque eu posso destrui-lo. Esta destruição do cerne da nossa civilização espalha-se em todos os sentidos”, sustentou.

“Até hoje vivemos numa sociedade que está assente na igual dignidade de todos os seres humanos, mas isto já é só papel”, lamentou, considerando estar-se “a caminhar para uma sociedade em que o mais forte tem o poder de aniquilar o mais fraco”. “A injeção é a confirmação de que a tua vida não vale nada”, completou, referindo-se à eutanásia.

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Sobre esta questão, Isilda Pegado enalteceu o “empenho fantástico da Igreja inteira” no último debate que culminou com a não aprovação dos projetos-lei que pretendiam a implementação da eutanásia. “Mais do que nunca, a Igreja teve um papel ativo nesta campanha”, considerou, alertando que a questão “vai voltar na próxima legislatura”. “É preciso organizarmo-nos, é preciso fazermos aquilo que está ao nosso alcance. É preciso falar com aqueles que estão à nossa volta”, recomendou, considerando ser “preciso formar associações, grupos que façam aulas de educação para a sexualidade com respeito e com valores”.

Aquela responsável considerou a ideologia do género a responsável pela “destruição da organização social” que pretende “pôr o homem como indivíduo”. “A ideologia do género é muito mais do que a questão da homossexualidade ou da mudança de sexo. A ideologia do género nega a realidade porque, em última instância, negar a realidade é negar Deus”, destacou, apontando um exemplo. “O poder que o Estado tem de tirar as crianças às famílias – pondo-as em instituições, suportando o custo de uma criança numa instituição que é por mês superior a 2.500 euros, em vez de dar 400 euros a uma mãe para que ela possa cuidar do seu filho ou de alguma forma acompanhá-lo – é um aspeto da questão da ideologia do género”, defendeu.

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A presidente da Federação Portuguesa pela Vida lembrou que a primeira investida contra a defesa da vida humana aconteceu há 35 anos. “Abriu-se uma nova página de história em Portugal”, considerou, lembrando ter sido em 1984 que, pela primeira vez, se fez a “primeira luta contra o aborto, que depois viria a ser aprovada a lei que permitiu a legalização do aborto nos casos de malformação do feto, perigo de vida para a mãe e violação”. “Foi a primeira brecha que se abriu na defesa da vida humana e que tem marcado estes 35 anos da história portuguesa”, lamentou.

Aquela responsável lembrou que se seguiu, em 1998, o primeiro referendo sobre o aborto e disse que, de 2005 a 2011, “foram anos difíceis” por terem sido aprovadas mais leis para “destruição da família”. “A primeira foi a Lei da Procriação Medicamente Assistida que aprovou a criação de embriões excedentários, embriões para investigação científica, a reprodução heteróloga, isto é, deliberadamente criar crianças sem pai e feitas a partir da inseminação por banco de esperma”, recordou, acrescentando que se seguiu em 2007 novo referendo ao aborto.

“A grande diferença entre o referendo de 1998 e o de 2007 é que no primeiro, o primeiro-ministro Guterres, católico conhecido, se tinha demitido do papel [interventivo] e em 2007 o primeiro-ministro [José Sócrates], a política, os partidos estavam em força no referendo”, comparou, considerando que “na direita, o empenho político era muito menor”. “O CDS, de alguma forma, empenhou-se, mas o PSD com Marques Mendes teve sempre uma atitude muito cautelosa por não querer ferir suscetibilidades”, acrescentou, lembrando que “em 2008 foi aprovado o divórcio a pedido”, “em 2009 a lei da educação sexual obrigatória dentro das escolas, em 2010 o casamento entre pessoas do mesmo sexo” e, em 2011, a lei da mudança de sexo.

Isilda Pegado constatou que “quando a esquerda vai para o poder quer fazer estas leis fraturantes”. “Seria normal que, quando a direita vai para o poder, quisesse reverter essas leis, mas não é verdade. Há uma cultura que está instalada em todos os partidos que, mesmo quando está no poder, o centro-direita tem medo de reverter este quadro legal”, criticou, acrescentando que este não a preocuparia “se a lei não formasse a mentalidades das pessoas”. “Havendo uma lei, as pessoas aderem àquela forma de viver”, observou, considerando que “hoje o aborto está desvalorizado” e “não lança, em cada pessoa, aquele tremor que há 20 anos havia”.

“Estamos a travar esta destruição”, acrescentou, referindo-se ao trabalho realizado pela Federação Portuguesa pela Vida desde 2002 e por todas as “associações de defesa da vida, da família e da maternidade” que dela fazem parte. “Quando uma mulher pensa no aborto é porque está numa aflição, pelo menos na larga maioria dos casos. E, portanto, não basta dizer não. É preciso dar-lhe a mão”, acrescentou lembrando o que levou à constituição daquelas instituições.

A ativista pró-vida lamentou que a primeira lei que, “simbolicamente”, a atual maioria de esquerda no Parlamento tenha revogado tenha sido a lei de apoio à maternidade e paternidade, aprovada na sequência da “iniciativa legislativa de cidadãos” em 2014, após a recolha de 90.000 assinaturas, “quando o governo de centro-direita parecia nada fazer perante esta realidade do aborto”. “Até arrepia pensar que há uma maioria que revoga uma lei de apoio à maternidade e da paternidade”, afirmou.

Isilda Pegado prometeu ainda um “inquérito aos candidatos ao Parlamento Europeu sobre estas questões”, cujas respostas serão conhecidas. “Temos a consciência de que muita desta ideologia entra por via da União Europeia”. “O nosso voto não pode ir para pessoas que, no Parlamento Europeu, aprovem leis a favor da experimentação em embriões, leis que limitam o acesso aos programas de financiamento em Cabo Verde ou na Guiné ou em Angola se não for introduzida a chamada saúde sexual e reprodutiva nas mulheres, isto é, o aborto”, defendeu, lamentando o que considerou ser “uma chantagem internacional à conta de vidas humanas”.