O Presidente da República de Cabo Verde, que visitou no passado dia 30 de julho a comunidade caboverdiana residente no concelho de Loulé, lembrou que “a diáspora é um dos pilares essenciais da identidade” daquele país africano e que “as comunidades são extraordinariamente importantes”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

José Maria Neves falava no Centro Paroquial de Loulé, onde teve lugar o encontro, após os cumprimentos nos Paços do Concelho e a visita ao espaço museológico dos Banhos Islâmicos e à Casa Senhorial dos Barreto.

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“Somos uma nação diasporizada. Temos uma diáspora que é fundamental para entendermos Cabo Verde e todo o seu percurso histórico”, afirmou o Presidente da República caboverdiano.

José Maria Neves destacou “toda a solidariedade” e “toda a amizade daqueles que estão fora para com Cabo Verde” nos “momentos difíceis da pandemia”. “As remessas aumentaram enormemente e muitas famílias teriam uma vida muito mais difícil se não fosse a solidariedade daqueles que estão fora”, divulgou, ressalvando que também os migrantes caboverdianos “tiveram um grande desgaste” e “muito sofrimento por causa da pandemia”. “Mas em nenhum momento se esqueceram de nós, que estávamos lá, sempre pensando que estávamos numa situação de maior precariedade e precisávamos de ajuda, da amizade e da solidariedade de todos que estavam fora. Queria, do fundo do meu coração, agradecer-vos por isto”, sustentou.

Acompanhado pelo ministro das Comunidades, Jorge Santos, o Chefe de Estado de Cabo Verde realçou que “a diáspora tem contribuído enormemente para a abertura do país” e anunciou que o Ministério das Comunidades apresentou recentemente a visão estratégica do Governo caboverdiano para criar “novos patamares de participação da diáspora no processo de desenvolvimento do país”.

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“Temos gente de todas as especialidades espalhada pelo mundo. Imaginem se colocarmos todos esses talentos ao serviço de Cabo Verde”, afirmou José Maria Neves.

Acompanhado também pelo embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, o Presidente da República realçou que “os primeiros embaixadores de Cabo Verde são as caboverdianas e os caboverdianos que residem” em cada ponto do globo.

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Salientando que a comunidade caboverdiana em Loulé, uma das mais numerosas em Portugal, é “extraordinariamente trabalhadora”, José Maria Neves agradeceu a “forma muito amiga” como o autarca louletano se referiu à comunidade caboverdiana. “Pudemos ver o carinho como as caboverdianas e os caboverdianos são tratados aqui, a forma muito fraterna como se refere ao cónego César Chantre, um caboverdiano que vive e sente Cabo Verde, mas tem convivido aqui com os algarvios, os louletanos e tem sido também uma âncora importante da comunidade caboverdiana no Algarve”, afirmou.

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“Sempre me referem a festa de 1 de maio como uma grande festa e dizem-me que conta sempre com a presença do cónego César chantre. É um orgulho para nós ter esse detalhe importante no Algarve e, particularmente, neste município”, prosseguiu José Maria Neves, que foi agraciado pelo presidente da Câmara de Loulé com a entrega da ‘Chave do Humanismo’, a “distinção maior” do município, dedicada apenas a “ilustres convidados e às personalidades merecedoras da mais alta distinção do concelho de Loulé”.

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Vítor Aleixo lembrou que a comunidade caboverdiana já tem mais de meio século de presença no concelho. “Os primeiros caboverdianos fixaram-se aqui aquando da construção da fábrica de cimento da Cimpor. Esse desenvolvimento inicial não parou de crescer com a vinda de novos imigrantes de Cabo Verde”, afirmou, considerando que a “história da presença da comunidade caboverdiana no concelho de Loulé é uma história com momentos muito felizes, que correu muito bem”.

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O presidente da Câmara de Loulé sublinhou que os caboverdianos construíram a comunidade louletana “com o seu trabalho e a sua educação”. “Desde então esta comunidade não parou de aumentar, dando um contributo ativo para o desenvolvimento social, cultural do nosso concelho”, sustentou, lembrando que “grandes nomes da música como Dino d’Santiago, figuras incontornáveis da comunidade católica como o senhor vigário geral Carlos César chantre ou mesmo trabalhadores anónimos”, “pessoas muito concretas de carne e osso que têm nome e que são também uma riqueza” de Loulé. “Esses trabalhadores do setor da restauração, da hotelaria, da construção civil são exemplo da preciosa participação desta comunidade na vida e funcionamento do concelho de Loulé, da sua inserção e cooperação pelo prestígio e reconhecimento nacional e internacional do nosso município”, completou, agradecendo aos caboverdianos “por terem participado activamente na construção” do município. “Muito têm contribuído para o nosso desenvolvimento social e económico”, acrescentou.

Por fim, agradeceu à Igreja Católica. “A Igreja, ao longo dos anos, tem apoiado e acompanhado de forma espiritual e religiosa a comunidade caboverdiana, não só no seu dia a dia mas também na organização de encontros culturais e sociais como é o caso de hoje”, referiu, considerando Cabo Verde um “país amigo e que estará sempre no coração da comunidade louletana”.

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No encontro que teve início com o ‘Cântico da Liberdade’, hino nacional de Cabo Verde, interpretado pelas crianças da Associação Esperança e Paz e contou também com a atuação de batocadeiras, o pároco de Loulé foi o primeiro a discursar. “Os nossos irmãos caboverdianos sempre têm sabido, com sabedoria e empenho, inserir-se a trabalhar nos espaços que habitam. Também aqui nesta bela cidade que os acolhe e que também deles tanto recebe, a presença de vossa excelência reforça certamente a importância simbólica desta casa, também sinal de um povo, de um país, de uma família. E é certamente esperança de um futuro que desejamos rico de humanidade, paz, de progresso, de felicidade. Seja bem-vindo”, afirmou o padre Carlos de Aquino, pedindo ao Chefe de Estado para se sentir “em casa, em família”.

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A representante da comunidade caboverdiana em Loulé justificou que “muitos caboverdianos” gostariam de ali estar aqui, “mas o trabalho impede-os de vir dar um abraço” ao seu Presidente. “Também quero realçar um elemento da nossa comunidade, o senhor padre César Chantre que sempre nos tem ajudado e guiado, que por compromissos pastorais não foi possível estar presente”, acrescentou Filomena Varela.

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“Esperamos também ardentemente que vossa excelência possa vir novamente ao Algarve e prometemos fazer uma grande festa em convívio, não só de caboverdianos mas com outras nacionalidades, particularmente os portugueses que nos têm recebido muito bem”, prosseguiu, acrescentando que os caboverdianos são “pessoas de muito trabalho”, mas que têm a sua terra “sempre no pensamento e no sangue”. “Poderá sempre contar connosco para que Cabo Verde seja cada vez maior e os nossos filhos possam ficar orgulhosos das nossas tradições”, assegurou.

A tarde contou ainda com alguns momentos para os caboverdianos apresentarem ao seu Presidente algumas interpelações.