
O Presidente da República de Cabo Verde veio no passado domingo ao Algarve para se encontrar com a comunidade cabo-verdiana.

A vinda de Jorge Carlos Fonseca ocorreu no contexto da deslocação a Portugal para participar, a convite do homólogo português Marcelo Rebelo de Sousa, numa homenagem oficial ao ex-presidente Ramalho Eanes que se realizou na passada segunda-feira.

No domingo de manhã, o Chefe de Estado de Cabo Verde foi recebido com a sua comitiva presidencial no Cine-Teatro Louletano pelas autoridades locais e regionais, entre as quais o presidente da Região de Turismo do Algarve, Desidério Silva, e os presidentes das Câmaras de Loulé, Vítor Aleixo, e de Lagos, Joaquina Matos, onde existem as duas maiores comunidades algarvias de cabo-verdianos.

Falando aos seus compatriotas que vieram de todo o Algarve para o receber, Jorge Carlos Fonseca destacou a “diversidade” e a “pluralidade” do povo cabo-verdiano. “A maior riqueza que Cabo Verde tem – país pequeno, mas com uma alma gigantesca – é a sua cultura e a sua identidade”, afirmou.

O presidente disse que deve “ouvir, dialogar, saber e conhecer para poder, com outras autoridades cabo-verdianas, procurar melhorar e resolver os problemas” dos seus concidadãos. Jorge Carlos Fonseca lembrou que o Presidente da República tem “grande poder”, mas o maior “é dialogar com a sociedade”.

Apontando os principais desafios do seu país em matéria de economia, de insegurança, de emprego, de política fiscal, de disciplina e de educação e enumerando também os progressos do seu país feitos desde a década de 70 do século passado, o Chefe de Estado, em final de mandato, disse não querer terminar o mesmo sem vir ao Algarve. Jorge Carlos Fonseca pediu às entidades algarvias que apoiem ainda mais os imigrantes do seu país. “O que lhes peço é que façam um bocadinho mais e ajudem a resolver os problemas que a nossa comunidade tem do ponto de vista da integração social. Espero que a minha presença contribua um pouco para que essa relação esteja, cada vez mais, sólida”, afirmou, lembrando que Portugal e Cabo Verde são “dois países muito amigos” em que a “cooperação é fácil”.

Por fim, desafiou os cabo-verdianos a “sonharem chegar o mais alto possível com trabalho, força e ambição”.

A embaixadora de Cabo Verde em Portugal disse que a “comunidade trabalhadora cabo-verdiana no Algarve, historicamente ligada à construção civil, conheceu nos últimos anos uma evolução grande devido à própria evolução da região do Algarve, agora muito presente no turismo, nos hotéis, restaurantes e atividades à volta do turismo, mas também muitos estudantes”. “A comunidade de estudantes cresceu muito”, adiantou Madalena Neves, que informou estar em cima da mesa a “proposta de se reanalisar a localização” do consulado honorário de Cabo Verde no Algarve em Portimão.

Aquela diplomata destacou ainda as celebrações anuais do dia 1 de maio como um “momento alto da celebração da comunidade que mantém viva a cultura cabo-verdiana” com o “engajamento do vigário geral [da Diocese do Algarve], um amigo que põe todo seu empenho quer no atendimento à comunidade, quer na atenção que dedica a essa festa”.

O vigário geral da Diocese do Algarve, que assiste também há muitos anos a comunidade cabo-verdiana no Algarve, testemunhou o contentamento dos imigrantes com a visita do seu presidente. “Quando os cabo-verdianos souberam da vinda do seu chefe de estado não calcula a alegria que perpassou por toda a gente, o que significa que os cabo-verdianos precisam muito destes gestos”, afirmou o cónego Carlos César Chantre.

O presidente da Câmara de Loulé destacou que Loulé, há mais de 40 anos, “acolheu e se habituou a viver e trabalhar com cidadãos oriundos de Cabo Verde”. “A comunidade cabo-verdiana vem tendo um papel relevante na construção e formação de uma região turística de excelência mundialmente reconhecida. Os imigrantes cabo-verdianos fossem eles simples pedreiros, jardineiros, empregados de limpeza e de restauração ou até médicos e professores, de maneira discreta, e em muitos casos, sem consciência da real importância do seu trabalho, tantas vezes mal remunerado, conquistaram por direito próprio um lugar visivelmente honroso no seio da nossa comunidade”, afirmou Vítor Aleixo.

A sessão de boas-vindas, que contou também com a presença da cônsul geral de Cabo Verde em Portugal, Edna Marta Monteiro, incluiu a forte sonoridade do típico funaná com a atuação de Lígia Pereira, do grupo de batuque “Boa Esperança”, de Benvindo Barros e de Dino d’ Santiago e prosseguiu com uma tertúlia com os cabo-verdianos a questionarem o presidente sobre problemas com que se confrontam diariamente.

Jorge Carlos Fonseca seguiu depois para o Centro Paroquial de Loulé, tendo sido recebido pelo pároco, padre Carlos de Aquino, onde almoçou com a comunidade cabo-verdiana.
