Foto © Luís Forra/Lusa

O Presidente da República presidiu ontem, na Fortaleza de Sagres, à sessão evocativa dos 50 anos do sismo de 28 de fevereiro de 1969, abalo que destruiu centenas de edificações e causou um número indeterminado de mortos no Algarve.

A sessão promovida pela Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES), pela Associação Portuguesa de Meteorologia e Geofísica (APMG) e pelas Câmaras Municipais de Lagos e Vila do Bispo pretendeu sensibilizar e chamar a atenção da população para o risco sísmico em Portugal, “envolvendo quem tem responsabilidades no estudo, definição e implementação de medidas que garantam a minimização deste risco”.

O sismo de 28 de fevereiro de 1969, com epicentro registado na zona do Banco de Gorringe – a sudoeste do cabo de São Vicente, em Sagres -, teve uma magnitude estimada em 7.9 graus na escala de Richter e foi o mais recente abalo sísmico sentido em todo o país a provocar vítimas e a destruição de centenas de estruturas em Portugal continental.

O abalo telúrico foi o terceiro maior registado em Portugal, a seguir ao de 1755 em Lisboa e ao de 1909 em Benavente.

“De um modo geral todas as localidades algarvias foram afetadas, mas foi no barlavento do Algarve que se registaram os maiores danos, principalmente nos concelhos de Lagos e de Vila do Bispo, este último com o registo de mais de 400 edificações destruídas”, disse à agência Lusa o historiador Artur de Jesus.

Apesar de os jornais regionais da época apontarem vários feridos e apenas um morto em Lagos, o historiador indicou que “esse número pode não ser correto”, existindo referências que apontam para 13 mortos, dois dos quais devido aos efeitos diretos do sismo e outros atribuídos ao susto.

“Oficialmente apenas há referência a um morto no concelho de Lagos”, sublinhou.

A edição de 08 de março de 1969 de Folha do Domingo apontava os maiores danos nos concelhos de Vila do Bispo, Aljezur, Lagos e Silves, referindo que neste último concelho o abalo arrasou quase por completo uma aldeia. “No sítio das Fontes dos Louzeiros, perto de Alcantarilha, das 16 casas existentes, só uma ficou intacta”, referia aquela edição.

O presidente da SPES alertou ontem para a ausência de controlo de qualidade do risco sísmico nas construções, e defendeu a edificação de estruturas de acordo com os regulamentos e legislação existentes.

“Num país que tem como marca histórica o terramoto de 1755, que foi pioneiro na construção sismo resistente e que está na vanguarda do conhecimento nesta área, é estranho que a preocupação com o risco sísmico seja hoje reduzida”, disse João Azevedo, na sessão evocativa.

Durante a sua intervenção na abertura da sessão, o engenheiro civil e presidente da SPES alertou para o facto de existir “em alguns aspetos uma real regressão na garantia da segurança dos cidadãos e dos seus bens face aos sismos”.

“A segurança é um direito constitucional”, destacou aquele responsável, acrescentando que “a ausência de controlo de qualidade é quase exclusiva da componente estrutural dos projetos”.

De acordo com João Azevedo, quase tudo o que é projetado e está dentro de uma estrutura é objeto de uma certificação ou inspeção, menos a própria estrutura, o que considera “bizarro”.
Segundo o presidente da SPES, muitas construções antigas e algumas edificadas após a existência de regulamentação sísmico/resistente “não oferecem garantias de segurança face a ações sísmicas intensas”.

João Azevedo recordou ainda que, apesar da legislação relativa a intervenções em edifícios existentes determinar que não podem diminuir as condições de segurança e de salubridade nem a segurança estrutural do edifício, “não é isso que se passa”.

“Face ao que vemos em muitos contentores de resíduos de obras de reabilitação, é evidente que a legislação não é respeitada. São corriqueiramente feitas remoções de paredes estruturais, únicos elementos resistentes aos sismos para se conseguir uma divisão mais ampla ou uma montra mais larga, não poucas vezes com a conivência de profissionais e responsáveis”, frisou.

Na opinião do presidente da SPES, embora as construções públicas tenham melhorado ao nível da segurança, continuam a verificar-se algumas situações preocupantes com infraestruturas mais antigas.

“A maioria dos hospitais, mesmo que não colapsem, não terão condições de funcionarem normalmente após um sismo intenso”, alertou João Azevedo, recordando que aquando do sismo em 1969 o Hospital de São José “sofreu danos avultados, mas que atualmente a situação seria bem pior”.

Para aumentar a segurança sísmica, o engenheiro civil apontou a construção de edifícios importantes com sistemas conhecidos “como isolamento de base, algo semelhante a uns patins ou um barco, que isolam os edifícios das ondas sísmicas e que proporcionam a segurança, não só do edifício como do seu equipamento sensível”.

Durante a tarde, decorreu em Lagos uma sessão de sensibilização para o risco sísmico, com a presença de vários oradores.

com Lusa