O bispo do Algarve presidiu esta noite à Procissão do Enterro do Senhor em Faro, cuja última edição se tinha realizado em 2019 e que foi agora retomada após a pandemia de Covid-19.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

D. Manuel Quintas manifestou-se “satisfeito” por “ter sido possível retomar depois de três anos esta procissão que diz tanto a todos os farenses” e “também a tantos do Algarve” e aos visitantes que a eles se associam.

Antes da saída do cortejo, junto à igreja da Misericórdia, o bispo diocesano pediu ao cónego Rui Barros Guerreiro, capelão e presidente da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia de Faro que promove a procissão, para fazer o sermão.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Perante alguns milhares de pessoas, incluindo também transeuntes, mirones e curiosos que, uma vez mais, acorreram à igreja da Misericórdia, em plena baixa da capital algarvia, o sacerdote lembrou que “o tempo cronológico está dividido entre o a.C. e o d.C. (antes de Cristo e depois de Cristo)” e que também o “coração” e a “vida” “têm um antes de Cristo e um depois de Cristo” para garantir que “a repetição da Páscoa todos os anos não é uma repetição estéril”. “É uma graça e uma nova oportunidade que Deus nos dá. É um sinal do Senhor, não obstante os nossos atrasos e as nossas traições para com ele e para com os outros. É, simplesmente, dizer isto: Jesus ainda não se cansou de nós. É o sinal do amor fiel com que o Senhor acompanha a nossa vida. Ainda que parte de nós viva como se Jesus ainda não tivesse vindo, ele está pacientemente à nossa espera, ele caminha pacientemente connosco, ele dá-nos uma oportunidade para que o nosso coração e a nossa vida possa fazer esta passagem interior do antes de Cristo ao depois de Cristo”, sustentou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Façamos esta procissão com este pensamento: Jesus não se cansa de mim. Mas agora falta aquilo que é essencial: a minha resposta. Qual é a resposta que eu dou a este Jesus que está à minha espera, que espera que eu faça a transição, a passagem do antes de Cristo para o depois de Cristo?”, interpelou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Mas o cónego Rui Barros destacou ainda que aquela procissão seria também uma “uma profissão” e “uma manifestação pública” de fé. “Nós, que acreditamos no Senhor morto e ressuscitado, vamos caminhar por estas ruas dizendo que este Senhor dá sentido à nossa vida, à nossa história e que, cada vez, toma mais conta de nós”, concluiu.

A Procissão do Enterro do Senhor mais imponente realizada no Algarve percorreu as principais artérias da baixa farense, perfumadas pelo rosmaninho que lhe serviu de tapete, e voltou a contar com a participação do Coro de Câmara da Sé, sob a direção do maestro Rui Jerónimo, que interpretou alguns trechos de música sacra relativos à morte de Jesus.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

As celebrações da Semana Santa em Faro remontam a 1678, ressaltando pela sumptuosidade a tradicional Procissão do Enterro do Senhor, evocando a paixão de Cristo, sendo as ruas ricamente decoradas e as varandas e janelas adornadas com colchas e velas acesas para acolher o cortejo. O secular préstito procura anualmente reviver, com densidade orante silenciosa, o episódio protagonizado por José de Arimateia. Pilatos, depois da confirmação da morte de Jesus, entregou o corpo de Cristo a este membro do conselho do Sinédrio para que fosse sepultado.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A Procissão do Senhor Morto –, a terceira de maior expressão realizada no Algarve, logo depois da de Nossa Senhora da Piedade (Mãe Soberana) em Loulé e da das Tochas Floridas em São Brás de Alportel –, sai aberta por uma representação a cavalo da GNR e um friso de tochas. Segue-se a matraca, cujo som áspero, que se ouve ao longe, simboliza as ondas de ódio amontoadas à volta de Cristo. A certa distância vem o guião ladeado por duas lanternas. Alguns metros desviada, a iniciar as alas os balandraus com tochas, a cruz com o lençol pendurado. Entre as alas, o “tumbinho” carregando o corpo de Cristo, debaixo do pálio, e, no meio, seguem os três andores comportando as imagens de Nossa Senhora, o apóstolo João e Maria Madalena, os três que permaneceram junto à cruz.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Participaram ainda no préstito, que contou com o acompanhamento da Associação Filarmónica de Faro e da banda da Sociedade Filarmónica 1º de Maio de Lagos, autoridades civis e militares, as Ordens Terceiras de Nossa Senhora do Monte do Carmo e Franciscana Secular, a Irmandade da Misericórdia, os Bombeiros Sapadores de Faro, o Moto Clube de Faro, os grupos de jovens católicos da cidade, os agrupamentos do Corpo Nacional de Escutas, os grupos dos Escoteiros de Portugal e a companhia da Associação de Guias de Portugal, entre outras entidades e instituições.

Para além dos apoios habituais da Câmara Municipal e do Moto Clube de Faro, a edição deste ano contou também com a colaboração da União das Freguesias de Faro, da Junta de Freguesia de Montenegro, Associação de Desenvolvimento Comercial da Zona Histórica de Faro, entre outras entidades comerciais. A procissão foi transmitida em direto nas redes sociais pela Mais Algarve.