Várias dezenas de veículos e mais de uma centena de pessoas cortaram hoje a autoestrada espanhola A49, que liga as regiões da Andaluzia e do Algarve, durante um protesto de agricultores espanhóis contra os preços baixos pagos ao produtor.
Dezenas de veículos, na sua maioria tratores, e mais de uma centena de pessoas saíram cerca das 10:30 (hora de Lisboa) de uma área de serviço que se encontra no sentido Espanha – Portugal, perto da cidade fronteiriça de Ayamonte, e entraram na autoestrada, paralisando o trânsito, inicialmente apenas nesse sentido.
Contudo, conforme constatou a Lusa no local, pouco depois, alguns dos manifestantes que seguiam a pé atrás da caravana de veículos saltaram o separador central da via e bloquearam o trânsito também no sentido Portugal – Espanha, antes da saída 131 da A49 para Ayamonte Este, apanhando de surpresa os automobilistas que seguiam de Portugal para Espanha.
O troço começou a ser reaberto ao trânsito cerca de uma hora e quinze minutos após o corte. O bloqueio começou cerca das 10:45 (hora de Lisboa) e os agricultores começaram a desmobilizar aproximadamente às 12:00, momento as partir do qual o trânsito começou a fluir, conforme constatou a Lusa no local.

Carlos Costa, um dos automobilistas que não conseguiram escapar ao protesto e que ficaram imobilizados na autoestrada, disse à Lusa que “não sabia de nada”, reconhecendo que, apesar do transtorno, “pelo menos” ainda lhes “deram alguma fruta”.
O condutor referia-se às caixas de framboesas e morangos que os agricultores distribuíram pelos automobilistas nos dois sentidos, embora os mais afetados tenham sido os que tentavam entrar em Portugal provenientes de Espanha.
No sentido contrário, pouco depois do bloqueio na autoestrada, a polícia espanhola começou a desviar o trânsito por uma via paralela à A49, que atravessa o polígono industrial de Ayamonte e que permitia aceder à autoestrada já depois da zona do protesto.
Os manifestantes reivindicam a melhoria dos preços pagos aos produtores agrícolas, que atualmente não permitem cobrir custos de produção, disse à Lusa o secretário-geral da União de Pequenos Agricultores de Huelva (UPA-Huelva), Manolo Piedra.
O protesto dos agricultores e criadores de gado da província espanhola está inserido nas “manifestações a nível nacional” que têm vindo a realizar-se na última semana em várias cidades espanholas, mas o foco estará centrado nos “problemas mais específicos que a província de Huelva tem relativamente a outras províncias”, acrescentou.
“Queremos reclamar preços justos na nossa cadeia de produção, porque temos produtos como o morango, o mirtilo ou os citrinos, pelos quais estamos a receber abaixo dos custos de produção, e observamos como as grandes superfícies vendem esses produtos a preços que estão 600 ou 700% acima do que nos pagam a nós”, justificou Manolo Piedra à Lusa.
A UPA-Huelva quer que “o dinheiro que o consumidor está a pagar” por esses produtos quando vai ao supermercado “também chegue aos produtores”, que são também vítimas da “concorrência desleal” de mercados do exterior da União Europeia, que não estão abrangidos pelas mesmas regras e exigências que os produtos produzidos nos países-membros.
“Estamos no clube da Europa e não entendemos como num clube tão exigente em questões fitossanitárias e de qualidade, entram depois produtos de países terceiros que não têm os mesmos requisitos e exigências”, chegando “aos consumidores espanhóis e portugueses a preços mais baixos”, argumentou.
A mesma fonte considerou também que, a nível nacional, países como Portugal e Espanha não podem aceitar uma redução “tão acentuada, na ordem dos 14%”, dos montantes provenientes da União Europeia através da Política Agrícola Comum (PAC), como propõem alguns países dos 27.
A água é outro dos problemas que levam os agricultores de Huelva a protestar porque, alega Manolo Piedra, a conduta de transferência de água desde as barragens do norte da província “ainda não chegou” até às zonas do sul, onde estão muitos dos campos de produção de morangos.
É também necessário, segundo o dirigente associativo, renovar um túnel que faz o transporte de água, uma vez que o atual “já tem 70 anos e pode qualquer dia romper-se”, deixando os produtores que a ele recorrem sem alternativas.
A cidade de Ayamonte, na província espanhola de Huelva, região da Andaluzia, é a última antes da Ponte Internacional do Guadiana, que liga a região autónoma da Andaluzia ao distrito de Faro.
com Lusa