Aproxima-se a Quaresma e, nos tempos que correm, essa realidade é para alguns aberrante, para outros insólita e para um grande número incompreensível.

Aberrante enquanto se afasta da norma, insólita enquanto fora de uso, difícil de entender e incompreensível enquanto misteriosa e para além da compreensão dos que apenas vêem e se fixam nas realidades e nos valores deste mundo.

De facto, actualmente, quarenta dias de oração, de jejuns, de esmolas e de penitência não cabe no entendimento de muita gente!…

É bem sabido que no Natal, na Páscoa, nos Santos populares e em muitas outras festividades todo o mundo participa na exteriorização do gozo e da alegria, mas, infelizmente, a maior parte fica por aqui, olvidando o sentido espiritual e a autêntica finalidade dessas mesmas festividades!…

Quanto à Quaresma campeia a ignorância, pois, só os cristãos autênticos, os que procuram, de facto, viver o compromisso da sua fé, atingem e procuram viver o sentido profundo e real do tempo quaresmal ao assumirem a Quaresma como meio ou caminho necessário e indispensável para poderem chegar à Ressurreição e às alegrias pascais.

Por estas alegrias todos anseiam, embora muitos pensem que podem lá chegar sem passar pela Paixão, pela penitência e talvez por muitos outros sofrimentos que, no fim de contas, são o pórtico para a autêntica felicidade.

É que sendo também a Quaresma como o tempo próprio para voltarmos para Deus, somos, por isso mesmo, convidados à verdadeira conversão respondendo ao convite de Jesus que perdura e ressoa pelos séculos: "Está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho".

De facto, o reino de Deus está sempre próximo, o reino de Deus é Jesus Cristo e quem acredita N’Ele e, verdadeiramente contrito, O seguir vai pelo caminho de salvação, vai em direcção ao Pai do Céu que "não quer a perdição do homem, mas antes que se converta e viva".

É, pois, com esta convicção e certeza do amor misericordioso de Deus que devemos cumprir e viver o tempo quaresmal que a liturgia e a palavra de Deus nos vai indicando, revelando-nos, ao mesmo tempo, a acção e o interesse do Pai do Céu que em Jesus Cristo nos chama sempre à comunhão filial consigo.

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico