
O presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família, que foi um dos dois delegados da Conferência Episcopal Portuguesa no Sínodo dos Bispos de novembro passado em Roma sobre os jovens, veio explicar ao clero do Algarve que, no âmbito da juventude, é preciso “passar de uma pastoral de eventos, de acontecimentos, para uma pastoral de processos, de acompanhamento”.

D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa, que foi também o relator do grupo de trabalho de língua portuguesa (Circulus Lusitanus), veio na passada terça-feira ao Algarve apresentar as linhas gerais do documento final do Sínodo dos Bispos, intitulado “Os jovens, a transmissão da fé e o discernimento vocacional”, realizado entre 4 e 28 de novembro de 2018.

No encontro com bispo, padres e diáconos do Algarve, inserido no âmbito das celebrações do Dia do Seminário de São José de Faro, D. Joaquim Mendes explicou que “a questão do acompanhamento foi também um tema forte no Sínodo”, onde se manifestou o desejo de “uma Igreja que acompanha” e se apontou entre os “desafios urgentes” a necessidade de “estabelecer percursos de acompanhamento na fé”.

“A comunidade, no seu conjunto, é o sujeito principal do acompanhamento”, sustentou, acrescentando que o apoio pedido também é referente ao ambiente digital. “Os jovens pediram muito que os acompanhássemos neste âmbito”, contou, explicando que, ao nível do acompanhamento, uma das três prioridades pastorais explanadas no documento final é a “formação de acompanhadores” e que, concretamente, a “formação de catequistas” foi um aspeto “muito acentuado”.

O prelado testemunhou que o Sínodo desejou “que os jovens sintam a paróquia como prolongamento da sua família”. “Se calhar temos de cuidar mais a pastoral familiar para que as nossas paróquias sejam mais família de famílias (e não só conjunto de fiéis) e família para os que não têm família”, observou, acrescentando que a “integração entre os diversos âmbitos da pastoral” deverá incluir ainda as áreas juvenil, vocacional, escolar, universitária, entre outras, para “passar de um trabalho por setores para um trabalho de projetos”.

O delegado sinodal enfatizou, por isso, que importa “passar da pastoral juvenil de entretenimento” que oferece um “colecionismo de experiências” para uma “pastoral juvenil em chave vocacional”. O prelado explicou que isso implica “qualificar vocacionalmente toda a pastoral juvenil” e que uma “maior coordenação entre a pastoral juvenil e a vocacional” foi também um aspeto “muito acentuado” na Assembleia Geral Ordinária. Em declarações ao Folha do Domingo, o presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família acrescentou que irá realizar-se uma reunião com os responsáveis dos três secretariados nacionais da pastoral juvenil, vocacional e ensino superior. “Vamos ver que caminho podemos fazer juntos”, adiantou.

Ao clero, D. Joaquim Mendes realçou, por outro lado, que importa “passar da lógica da delegação para a lógica da corresponsabilidade”, o que implica “repensar a catequese e a ligação entre a transmissão familiar e comunitária da fé, tendo presente os processos de acompanhamento”. O bispo auxiliar de Lisboa contrapôs a “disponibilidade dos jovens” a “um certo autoritarismo e desconfiança dos adultos e pastores que não reconhecem suficientemente a sua criatividade e tem dificuldade em partilhar responsabilidades”. “Nos nossos conselhos pastorais paroquiais e diocesanos que lugar têm os jovens?”, questionou, acrescentando que o Sínodo apontou para uma percentagem de 25% na constituição juvenil daqueles órgãos consultivos.

Nesse sentido, destacou que “os jovens têm desejo grande de participação e responsabilidade”, “estão disponíveis para assumir responsabilidades” e que é preciso “valorizar a responsabilidade dos jovens em relação à Doutrina Social da Igreja”, propósito simbolicamente visibilizado na oferta que o papa fez do ‘DoCat’ (versão juvenil do Compêndio da Doutrina Social da Igreja) a 34 jovens. “Os jovens desejam trabalhar para construir uma comunidade fraterna, acolhedora, alegre e empenhada profeticamente na luta contra a exclusão social”, acrescentou, explicando que o acolhimento dos refugiados e migrantes “foi um dos pontos muito sublinhados no Sínodo”.

Lembrando que “caminhar com os jovens não se trata de fazer qualquer coisa para eles, mas viver em comunhão com eles, crescendo juntos na compreensão do evangelho e na procura de formas mais autênticas para vivê-lo e testemunhá-lo”, o bispo auxiliar de Lisboa destacou que “a participação responsável dos jovens na vida da Igreja não é opcional, mas é uma exigência da vida batismal” e “um elemento indispensável para a vida da comunidade”. D. Joaquim Mendes acrescentou que, “como fruto deste Sínodo, a Igreja quer fazer com os jovens um caminho da ressurreição que conduza à missão”. Neste sentido, contou que “valorizar e potenciar a missão dos jovens na evangelização dos outros jovens foi também um tema forte” da assembleia.

D. Joaquim Mendes – que está também na organização da próxima Jornada Mundial da Juventude de 2022 em Lisboa como responsável pela dimensão pastoral e pela relação com o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida – referiu-se também aos “obstáculos” na aproximação dos jovens à Igreja. “Escândalos sexuais e económicos, a falta de preparação dos ministros ordenados para compreender a sensibilidade dos jovens, fraco cuidado na preparação da homilia e na apresentação da palavra de Deus”, foram os principais pontos referidos.


Aquele responsável, que enumerou 15 núcleos temáticos generativos da assembleia sinodal que poderão “ajudar a operacionalizar” algumas das suas propostas, disse que o documento final “deve converter-se para todos em objeto de estudo, reflexão, análise e verificação pastoral”. “O documento contém reflexões – e, atrevo-me a dizer, profecias – e linhas de ação para uma renovação pastoral com e para os jovens. É um «mapa» que a Igreja é chamada a seguir para orientar os próximos anos”, sustentou, acrescentando que para entender o documento é “preciso conjugá-lo com o documento pré-sinodal [Instrumentum Laboris]”, orientador do Sínodo.

“O caminho percorrido neste Sínodo – que é tão importante como o documento ou mais –, é aquele que o papa quer que nós procuremos nas nossas comunidades cristãs”, alertou, lembrando que na próxima segunda-feira será apresentada a exortação apostólica pós-sinodal de Francisco.

D. Joaquim Mendes considerou que o Sínodo foi “como um novo Pentecostes” que “procurou olhar os jovens com a atitude de Jesus para discernir na sua vida os sinais da ação do Espírito”. “O Sínodo é um apelo dirigido à Igreja para descobrir no seu interior e na sua ação um renovado dinamismo juvenil”, concluiu, explicando que isto se aplica “sobretudo na Europa porque noutros continentes este dinamismo está bem vivo”.
