Li, há pouco tempo, uma pequena obra sobre a situação religiosa actual respeitante, sobretudo, aos países de tradição cristã, cujo eco continua a ressoar na minha mente causando-me certa tristeza e grande apreensão a par, está claro, de um sentimento de esperança cristã.
Entre outros aspectos, ali se referia secularização da sociedade, a dessacralização do mundo, da transposição do sagrado, a desclaricalização e a descristianização…
O fenómeno da secularização, como sabemos, não é só de agora ainda que, actualmente, tenha tomado contornos muito especiais.
Mas já Durkheim, e fundador da sociologia moderna, na segunda década do século passado, escrevia: "Se há uma verdade que a história colocou fora de dúvida é este: que a religião abarca uma porção cada vez mais reduzida da vida social; no princípio estendia-se a tudo: todo o social era religioso. As duas palavras eram sinónimas; depois, pouco a pouco, as funções políticas, económicas e científicas, libertam-se da função religiosa, constituem-se à parte e tomam um carácter temporal cada vez mais acentuado…"
Na verdade, infelizmente, os valores religiosos deixaram de ocupar o topo da escala dos valores e Deus é rejeitado e a descrença actual, reveste-se de numerosas formas com predomínio talvez da chamada indiferença religiosa…
É certo que estes fenómenos não são exclusivos desta época, pois, são de todos os tempos como inúmeros textos da Sagrada Escritura e muito particularmente os Salmos a eles se referem…
Mas também é verdade que o ateísmo, em determinadas sociedades parece campear, aparecendo até como que organizado com sentido de verdadeira militância…
Sem dúvida que se, por um lado, a descrença e a indiferença religiosa se expandem, pelo outro, têm aparecido movimentos e grupos verdadeiramente interessados no aprofundamento da dimensão religiosa, com desejos sinceros de fazerem a experiência do religioso, a experiência de Deus…
Daí que, apesar de todas as vicissitudes, os países de tradição cristã hão-de vencer, a crise religiosa e o Reino de Deus continuará a estabelecer-se porque a presença do Espírito Santo, de um modo sempre misterioso, continuará a assistir, a iluminar e a fortalecer os cristãos e a Igreja.
Joaquim Mendes Marques
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico