As palavras são do bispo do Algarve na Eucaristia que ontem ao final da tarde presidiu na Sé de Faro e que marcou o reinício das celebrações eucarísticas com participação presencial de fiéis, após o interregno de 11 semanas por causa da pandemia de Covid-19.

D. Manuel Quintas referia-se concretamente ao Dia da Igreja Diocesana do Algarve que anualmente é celebrado no Domingo de Pentecostes. “Embora impedidos, infelizmente, de realizarmos o encontro diocesano que tínhamos programado, queremos celebrar este dia e esta Eucaristia, com este espírito, o que implica invocar o Espírito Santo e deixar-se inundar pelos seus dons, passando, como os apóstolos do medo à coragem e à ousadia do anúncio e do testemunho de Cristo ressuscitado”, afirmou na Eucaristia, transmitida em direto nas plataformas digitais de Folha do Domingo e da Mais Algarve.
“Desde o dia 15 de março, em que estávamos impedidos da celebração comunitária da Eucaristia, que estas plataformas se disponibilizaram para levar a todos aqueles que estavam impedidos da participação presencial da eucaristia. Hoje felizmente estamos aqui hoje já reunidos com o grupo que é possível”, congratulou-se o bispo do Algarve na mensagem que dirigiu à diocese.
“É com o coração cheio de alegria que nos encontramos novamente reunidos em Eucaristia, em comunhão com toda a nossa diocese: cada paróquia com o seu pároco e eu convosco na nossa catedral, na celebração da missa estacional em dia de Pentecostes e da nossa Igreja diocesana. Estou certo de que o fazemos com alguma emoção pelas saudades que já sentíamos, devido ao longo tempo em que ficámos impedidos de nos encontrarmos, inclusive da celebração da Semana Santa, da Vigília Pascal e da Páscoa da Ressurreição, com tudo o que estas celebrações significam na vivência da nossa fé e no nosso testemunho de Cristo Ressuscitado”, sustentou, lembrando o “contributo insubstituível da participação na Eucaristia” para a “fortalecer” a comunhão que nunca deixou de ser mantida “pela fé e pelo amor” “em Cristo”.

“Passados onze domingos, eis-nos de novo reunidos, para celebrarmos o Dia do Senhor, o dia da Palavra proclamada e acolhida em comunidade, o dia da Eucaristia, Pão de vida eterna que, após este tempo de privação, vem fortalecer os laços fraternos que nos unem nesta grande família que constituímos, a Igreja católica no Algarve”, prosseguiu.

O bispo do Algarve aproveitou ainda a primeira missa de reencontro com os diocesanos que vieram de vários pontos da diocese para, numa alusão ao atual tempo de pandemia, apelar a uma renovada Igreja missionária. “Uma Igreja que perdesse a capacidade de surpreender, diz-nos o Papa Francisco, seria uma Igreja frágil, doente e moribunda, a precisar de ser «internada», quanto antes, numa «unidade de cuidados intensivos». A precisar, acrescentamos nós, de ser conduzida novamente ao cenáculo e de ser ligada ao «ventilador» do Espírito, de modo que possa atuar sobre cada um dos seus membros, com fortes rajadas de vento, e daí resulte uma Igreja desinstalada, a respirar a plenos pulmões, uma Igreja missionária”, metaforizou.
D. Manuel Quintas admitiu ainda que este “tempo de privação” possa ter despertado mais “o sentido e o significado do ser Igreja doméstica, Igreja em família”. “Gostaria que a redescoberta da intensidade dessa vivência não esmorecesse agora”, afirmou.

O bispo diocesano manifestou ainda o desejo de que as eucaristias em todo o Algarve após a sua suspensão a 13 de março fossem marcadas pela “esperança” e nelas sejam incluídas “diversas intenções” pela “Igreja diocesana e cada uma das suas comunidades paroquiais, tendo presente, de modo particular todas as famílias”, pelos “que faleceram ao longo destes meses (vítimas ou não da COVID-19) e para os quais não foi possível realizar um funeral condigno”, pelos “que se encontram nos cuidados intensivos ou apenas hospitalizados”, pelos “que se encontram a recuperar nas suas casas”, pelos “que, na linha de frente, continuam a combater, de muitos modos, esta Pandemia”.
D. Manuel Quintas acrescentou ainda “as crianças que viram adiada a sua primeira comunhão, os jovens que viram adiado o seu crisma”, assim como “o batismo de algumas destas crianças, dos adultos eleitos no primeiro domingo da Quaresma para serem batizados e receberem os sacramentos de iniciação na Vigília Pascal” e “tantos que tiveram de adiar também o seu matrimónio”.


O bispo do Algarve exortou ainda a que se continue a observar as orientações da Conferência Episcopal Portuguesa e da Direção-Geral da Saúde. “Era importante que tivéssemos todos em conta a segurança, mas também a serenidade. Queremos ser responsáveis na participação daquilo que nos compete neste bem comum e queremos todos vencer o medo que ainda possa existir. O medo, quando exagerado, atrofia-nos, deixa-nos prisioneiros. É preciso libertar-se desse medo, mas de maneira responsável, privilegiando sempre a segurança e estou certo de que isso vai acontecer. Que o Espírito Santo nos ajude a vencer medos e temores que possam afastar-nos da Eucaristia dominical, conscientes de que todos somos importantes e necessários para, com serenidade, responsabilidade e confiança, cumprimos quanto nos é pedido, de modo contermos a propagação deste vírus”, afirmou.

A Eucaristia de ontem – concelebrada por dois sacerdotes recuperados da infeção de Covid-19, a quem o bispo diocesano saudou particularmente –, para além dos procedimentos de segurança, ficou ainda marcada pela valorização do ato penitencial, pela renovação das promessas do batismo e pelo rito de aspersão com a água benzida no seu início, pela instituição de um seminarista no ministério dos acólitos após a homilia e pela oração da Avé Maria e pela bênção apostólica no final.