A igreja matriz de São Bartolomeu de Messines acolheu, na tarde do passado dia 21 de setembro, centenas de fiéis não só daquela vila e freguesia do concelho de Silves como de outros lugares, que ali se deslocaram em romaria a Nossa Senhora da Saúde.
Em comunicado, a organização explica que “a festa é desde há vários séculos a principal cerimónia religiosa que ocorre naquela paróquia”. “Este ano a solenidade teve um cunho especial por se comemorarem os 200 anos da criação da Feira de Nossa Senhora da Saúde, popularmente designada Feira de Setembro”, acrescenta o documento.
“Em 1824 as autoridades locais fizeram uma petição ao rei D. João VI, para a criação de uma feira franca de lojas, gados e todos os mais géneros, nos dias 20, 21 e 22 de setembro de cada ano, nas imediações da ermida de Nossa Senhora da Saúde, para, com o produto obtido no terrado, aumentarem e dignificarem a solenidade da festa. O requerimento teve como terceiro signatário (precedido pelo pároco e de um outro clérigo) José Joaquim de Sousa Reis, na qualidade de recebedor, que ficaria para a história como o Remexido, por aqueles anos uma personalidade extremamente empenhada no desenvolvimento local”, refere ainda o comunicado, lembrando que “o monarca acedeu ao pedido e a feira foi autorizada por Provisão Régia de 7 de julho de 1825, realizando-se o primeiro certame em setembro seguinte” e que “a festa de Nossa Senhora da Saúde passou a contar, a partir de 1825, com uma feira, e com ela deixou de ter um cunho local, para passar a suprarregional”.

A Eucaristia da festa deste ano foi presidida pelo padre António Martins, messinense e capelão da igreja de Nossa Senhora da Bonança, ao Rato em Lisboa e concelebrada pelo pároco local, padre Getúlio Bica. O padre António Martins recordou desde logo as suas memórias de infância, quando acompanhado dos avós e dos pais participava naquela festa que “une crentes e não crentes, identificados com uma cultura comum de inspiração cristã”, para logo acrescentar: “na veneração desta imagem, que a todos nos une, queremos honrar as nossas origens, os nossos pais, a nossa terra”.
O padre António Martins não deixou de enaltecer a beleza da imagem de Nossa Senhora da Saúde, de madeira policromada, de tamanho próximo do natural, muito provavelmente, obra do famoso escultor régio, Joaquim Machado de Castro (1731–1822), sediado em Lisboa.

Durante a celebração houve três apontamentos musicais pelo grupo Algarve Trio (piano, violoncelo e violino), “as quais contribuíram para a dignificação daquele momento solene”, refere a informação.
Seguiu-se a tradicional procissão até ao Santuário, acompanhada pela Banda da Sociedade Musical e Recreio Popular de Paderne e de seguida, no mesmo local, o sermão a cargo do padre António Martins, que lembrou a superação da subida. “Porque esta procissão, a subir, é expressão da vida em ascensão, em superação dos próprios limites, em vontade de caminhar mais alto. Este subir em altura é símbolo da nossa procura de Deus. Acompanhámos a imagem da Senhora da Saúde à sua ermida. Mais uma vez o digo, e todos o sentimos: a beleza da imagem oferece-nos consolo e ternura. Apresenta Maria como mãe forte, segura de si, mulher e mãe feitas e cumpridas, que nos apresenta e oferece o Filho, Menino nos seus braços a ser acolhidos por nossas mãos, pelo nosso coração. Aquele Menino parece agora saltar de mão em mão, ser erguido aos saltos por todos nós. O Menino é-nos dado, salta agora em nossos colos, passa em nossas mãos”, realçou.

O sacerdote traçou ainda o historial do culto a Nossa Senhora da Saúde que se terá desenvolvido em Lisboa, entre meados do século XVI e XVII, num período em que a cidade foi fustigada pela peste. Levando-o a concluir que o culto em Messines poderá advir dessa altura. “Aqui estamos como católicos, como messinenses, ou ligados a esta terra por trabalho, amizade, dedicação. Aqui estamos integrados numa festa que tem a sua origem e identidade religiosa (católica), mas cumpre-se verdadeiramente como católica, para todos, a incluir todos e todas. É festa de fé, mas também de cultura; é arraial popular, e encontro de todos. A Senhora da Saúde nos une a todos”, referiu nas suas palavras finais.
“O arraial, abrilhantado por Filipe Romão, decorreu à noite no salão dos Bombeiros Voluntários e teve como objetivo a angariação de fundos para uma intervenção no adro e sacristia do Santuário de Nossa Senhora da Saúde, que ameaçam ruir”, refere ainda a organização.