Realizou-se entre 9 e 13 deste mês uma nova edição do ‘Rover’ com a participação de 80 elementos dos 34 agrupamentos algarvios do Corpo Nacional de Escutas (CNE), entre 62 Caminheiros e Companheiros (escuteiros dos 18 aos 22 anos, respetivamente dos ramos terrestre e marítimo, pertencentes à IVª secção), 8 dirigentes e 10 membros da equipa organizadora.

Promovida pela Equipa Regional para a IVª secção da Junta Regional do Algarve do CNE, a atividade teve lugar no Castelo de Castro Marim, onde foi montado o acampamento, e como imaginário a história de um rei que, tendo três filhas, renegou a mais nova em benefício das restantes duas que, depois de lhes ter cedido o trono, o expulsaram e abandonaram na sua velhice. No entanto, foi a mais nova que, tendo perdoado a sua ação, lhe valeu na hora de maior necessidade.

No dia 9 de manhã os participantes concentraram-se junto à igreja matriz de Castro Marim, foram divididos por quatro «províncias», denominadas com nomes de localidades algarvias na época medieval – ‘Portus Magnus’, ‘Ossonoba’, ‘At Tabira’ e ‘Al Olea’, – e realizaram a montagem do campo. Erguido o acampamento assistiram à leitura do «Comunicado Real» com o qual se deu a abertura do campo e, após o jantar, foram levados de olhos vendados de autocarro até quatro pontos diferentes entre Castro Marim e Odeleite para realizarem um raide noturno de cerca de 20 quilómetros até àquela aldeia. Durante a noite puderam pernoitar em escolas para não ficarem ao relento.

Após esta «Prova de Bravura», que procurou sensibilizar os jovens escuteiros para a condição vivida pelo monarca do imaginário na sua última fase da vida, chegados a Odeleite já no Domingo de Ramos (10 de abril), cada grupo («província») teve de prestar «Vassalagem», ou seja, realizar serviço voluntário, ajudando as pessoas mais idosas e necessitadas no que elas precisassem, fosse pequenos trabalhos domésticos ou trabalho no campo.

Ao final tarde foram trazidos de autocarro de volta a Castro Marim para o jantar e para a celebração do Domingo de Ramos, presidida pelo padre Nuno da Rocha, assistente do Agrupamento 1370 de Vila Real de Santo António. No decurso da eucaristia, os escuteiros, que tinham sido convidados a trazer de casa 100 ml de água salgada, verteram os seus diferentes «mares» para um recipiente comum numa dinâmica que os convidou à partilha do «sal» “imperfeito” de cada um e “com algumas impurezas à mistura”.

No dia 11, após a oração da manhã, os participantes realizaram uma «Caçada» que na prática consistiu na participação em cinco ateliês com produtores locais na Casa de Odeleite sobre o fabrico de pão, compotas, queijo, empreita e cestaria. Ao final da tarde regressaram a campo e, depois do jantar, participaram na reflexão noturna em torno da interrogação “Quanto vale o teu sal?” que deu seguimento à dinâmica iniciada na noite anterior. Caminheiros e Companheiros foram levados a inferir que “o sal também pode valer muito mais a partir do momento em que é utilizado para salgar quando é partilhado com quem mais precisa”. Isso mesmo ficou simbolizado no gesto do reenchimento dos recipientes de cada um com a água com o “purificado” sal de todos.
Para melhor compreensão deste processo, os escuteiros realizaram no dia 12, após a oração da manhã, a «Safra do Salineiro», ou seja, a visita à Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António que inclui salinas e constitui uma das mais importantes zonas húmidas do país, tendo como objetivo a conservação da Natureza, assegurando o equilíbrio dos ecossistemas, a melhoria das condições de vida das populações residentes e valorizando as atividades tradicionais e a proteção do património paisagístico.

Após o regresso a campo, as «províncias» participaram num «Torneio Real», um jogo no castelo que teve como finalidade a conquista das chaves daquela fortificação para a entrada e obtenção da sua bandeira. À noite decorreu o «Banquete Medieval» – com a presença de convidados, entre os quais o chefe regional do CNE, Luís Cabrita, e a vice-presidente da Câmara de Castro Marim, Filomena Sintra, entidade que a organização diz ter apoiado de forma incondicional o ‘Rover’ -, seguindo-se o tradicional Fogo de Conselho.

No dia 13, após a oração da manhã, realizou-se a «Investidura dos Cavaleiros» com a entrega dos certificados de participação após a assinatura e a lacração, o «Levantar Guarda», ou seja, a desmontagem do campo e o encerramento da atividade, intitulado «Em defesa do Reino».

Em declarações ao Folha do Domingo, a secretária regional pedagógica explicou que o ‘Rover’, atividade da IVª secção onde se partilham valores de fraternidade e de serviço, marcou “um abrir de ciclo” após a pandemia e a renovação dos elementos daquela secção escutista. “Tivemos miúdos que nunca tinham feito uma atividade da IVª secção”, sustenta Vanda Brazona, garantindo que “este ‘Rover’ era mesmo necessário e foi muito bom porque eles saíram de lá mesmo unidos enquanto Clã Regional”. “Um dos grandes objetivos do ‘Rover’ era que eles se conhecessem e que ficassem unidos para terem vontade e motivação para continuar nos agrupamentos”, reforçou.

Aquela responsável explica ainda que a organização da atividade, para além dos membros da Equipa Regional para a IVª secção, contou ainda com seis ex-Caminheiros/Companheiros, candidatos a dirigentes, convidados. “Achámos que tinha sentido esta atividade ser organizada por Caminheiros. No entanto, como tínhamos vindo de uma situação pandémica de dois anos quase sem atividades nenhumas, achámos que, se calhar, não era justo estarmos a impedi-los de viver a atividade para pertencerem à equipa. Então surgiu a ideia de convidar candidatos [a dirigentes] que também têm experiência de caminherismo para nos ajudar nesta tarefa”, justificou.

O CNE, fundado no Algarve em 1932 pelo cónego José Augusto Vieira Falé, conta atualmente com 34 agrupamentos e com um contingente de Caminheiros/Companheiros de mais de 200 elementos.