O bispo do Algarve desejou “que a luz que brota da cruz gloriosa de Cristo ilumine e dê sentido a todas as situações de sofrimento e morte da vida da humanidade”.



Na celebração desta tarde de Sexta-feira Santa — em que a Igreja assinala a Paixão e Morte de Jesus perto da hora em que se acredita que Cristo terá morrido — D. Manuel Quintas lembrou a situação na Rússia e na Ucrânia, mas também os palestinianos, o povo israelita e a situação na faixa de Gaza.


Na celebração a que presidiu na Sé de Faro, o bispo diocesano recordou que uma das dez preces da oração universal (vulgarmente conhecida como oração dos fiéis), que em cada Sexta-feira Santa ganha particular expressão, é dedicada aos “governantes de todas as nações, para que Deus dirija sua mente e o seu coração na procura da verdadeira paz”. “Esta oração hoje tem de partir mesmo do fundo do nosso coração”, afirmou, aludindo a “tantas atrocidades que se cometem, tanta gente inocente cada dia que vê a sua vida truncada, de maneira tão injusta, sem explicação”.


“Sabemos como vivemos um tempo de grande instabilidade que nos provoca grande desconforto a todos os níveis do ponto de vista humano pelas guerras que há, pelas atrocidades que se cometem, pelo desrespeito pela pessoa humana. Mata-se e esquarteja-se como se nada fosse. Ficamos perplexos como é possível haver estas atitudes e estes gestos nos dias de hoje”, prosseguiu.

Mas aquele responsável católico não se referiu apenas às “grandes guerras”. D. Manuel Quintas lamentou também as “pequenas guerras”. “Somos surpreendidos cada ano com o aumento das vítimas de violência doméstica. Mesmo entre nós, mesmo nesta região do Algarve. A guerra começa no nosso coração e deve também aí começar o princípio da paz. Por isso, ao rezar uns pelos governantes, por aqueles que presidem aos destinos dos povos, peçamos ao Senhor também que semeie a paz no nosso coração e que nos faça também semeadores e construtores da verdadeira paz”, acrescentou.



Na catedral de Faro, a celebração da Paixão do Senhor iniciou-se, como acontece em todo o mundo, em silêncio, com o bispo do Algarve — paramentado com a cor vermelha que a liturgia católica associa aos mártires — a prostrar-se diante do altar descoberto, e terminou também em silêncio. “Iniciámos esta celebração em silêncio e conclui-la-emos também do mesmo modo. Não se trata de um silêncio vazio, sem sentido, mas de um silêncio que se transforma em oração, em grito fecundo, testemunha do amor sem limites de Deus pela humanidade”, explicou D. Manuel Quintas, acrescentando: “possa este silêncio, contemplativo e orante, que caracteriza esta sexta-feira santa e também o dia de amanhã, ser expressão do acolhimento do amor até o fim que a cruz gloriosa de Cristo quotidianamente nos transmite”.

O bispo do Algarve realçou ainda que “levar a própria cruz” “é condição para seguir Cristo como seu discípulo. “Por isso, hoje somos convidados, mais uma vez, a entender e a acolher o sentido e o significado da cruz de Cristo, da cruz de cada dia. Foi por nosso amor e por nossa salvação que ele se deixou crucificar como gesto supremo de amor, de serviço. Por isso, a cruz permanece sempre como mistério de amor de um Deus que se dá a si mesmo, que se humilha, que não resiste aos que o crucificam e que se deixa crucificar. Por isso, a cruz é sempre convite à oração e à contemplação”, afirmou, exortando a “colher deste instrumento de salvação uma lição de amor e de vida”.



O dia de Sexta-feira Santa, em que imperam o silêncio, o jejum e a oração, é um dia alitúrgico por ser o único do ano em que não se celebra a Eucaristia. O bispo do Algarve desafiou os cristãos a verem naqueles sinais um “incentivo” para assumirem e interiorizarem “o mistério do amor total de que a cruz é sinal”.
A celebração prosseguiu então com as preces da oração universal que procuram abranger todas as necessidades e todas as realidades da humanidade. O presidente da celebração evocou todos os que sofrem “todo o tipo de violência”, rezando para que Deus lhes conceda o seu “abraço de compaixão, ternura e misericórdia, no tempo de purificação e reparação”.


Reza-se pelos governantes de todas as nações, “para buscarem sempre a verdadeira paz e a liberdade de todos os povos”, e “para que se fortaleça em toda a terra a prosperidade das nações, a segurança da paz e a liberdade religiosa”, para que Deus “livre o mundo de todos os erros, afaste as doenças e a fome em toda a terra, abra as portas das prisões e liberte os oprimidos, proteja os que viajam e reconduza ao seu lar os imigrantes e desterrados, dê saúde aos enfermos e a salvação aos moribundos”.
Tendo também em conta “os que sofrem toda a espécie de tribulações”, os católicos rezam também pela Igreja, pelo papa, pelo bispo local e todos os restantes bispos, presbíteros, diáconos, pelos que exercem na Igreja algum ministério e por todo o povo de Deus, pelos catecúmenos, por todos os que creem em Cristo, pelo povo judeu, pelos que não creem em Cristo e pelos que não creem em Deus.
Seguiu-se a apresentação da cruz. A veneração foi-lhe prestada por uma fila imensa de fiéis. Depois realizou-se a comunhão da Eucaristia ontem consagrada.