Segundo ele conta, sua mãe dizia que ele nasceu na manhã de um Domingo, quando o sino da igreja de Vila Real de Santo António tocava à "elevação", à consagração, como agora se diz. Quando mais tarde, o jovem Sezinando quis entrar no Seminário de Faro e foi ordenado sacerdote, sua mãe, que guardara o momento do parto no seu coração, não pôde deixar de ver nessa coincidência um sinal de Deus.Um sinal de Deus é sem dúvida, também, a sua longevidade. Não é para toda a gente completar cem anos e Monsenhor Sezinando é o sacerdote mais idoso do País e o mais antigo em ordenação. Nasceu em 1911 e foi ordenado em 1934. 100 anos de vida e 77 de sacerdócio. Há dois anos reunimo-nos em Vila Real de Santo António para celebrar as bodas de diamante da sua missa nova, agora em Alcantarilha, onde reside, para dar graças a Deus pelo seu centenário!
O que mais impressiona, é que isto acontece com alguém que marcou a juventude e foi uma grande referência para os católicos portugueses do século vinte. Nos anos quarenta, cinquenta e sessenta do século passado, Mons. Sezinando como Secretário-Geral da Acção Católica Portuguesa galvanizou o País, em Congressos, Peregrinações e outras jornadas, que tinham o seu ponto culminante anual no dia da Acção Católica, no último Domingo de Outubro, Festa de Cristo-Rei. Quando estivemos os dois na Paróquia da Guia, entre 2000 e 2003, encarregava-me muitas vezes de fazer a homilia, mas no Domingo de Cristo-Rei nunca aceitava e pedia-lhe para ser ele a nos falar desses tempos gloriosos da Acção Católica.
Amou e serviu a Igreja, no Algarve e no País, nos mais altos postos e responsabilidades. Tem um curriculum sacerdotal verdadeiramente singular. Nunca foi um teórico, mas um homem de acção, um organizador, com elevado sentido prático das coisas e apesar de ter sido tudo aquilo que foi na Igreja em Portugal e ainda Vigário Geral da Diocese do Algarve, não se importou que a sua última nomeação canónica fosse, com 89 anos de idade, para Administrador Paroquial da Guia, uma pequena Paróquia perto da sua residência. Deu a mesma resposta que tinha dado quando o convidaram para ir para Lisboa: "Fui ordenado para servir onde a Igreja precisar de mim".
Monsenhor Sezinando, uma "eternidade" de amor e serviço à Igreja, é um exemplo de humildade, simplicidade, zelo e dedicação, para todos nós, particularmente para os padres, diáconos e catequistas, nestes tempos de nova evangelização.