A terceira e última das formações previstas este ano para os animadores juvenis, promovidas pelo Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve, alertou-os ontem à noite para a necessidade de anunciarem Jesus aos jovens com “proximidade, normalidade, qualidade, originalidade e profundidade”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No encontro, que teve lugar no complexo da igreja de São Pedro do Mar, em Quarteira, com quase 50 daqueles responsáveis e de catequistas do 10º ano de catequese, o diretor do Departamento Diocesano da Pastoral de Jovens de Lamego começou por alertá-los para a “tentação” de “aplicar fórmulas que funcionavam há 30, 20 ou até 5 anos”. “Os jovens de 2016 e os que temos agora, quase 10 anos depois, são completamente diferentes. A nível de pensamento e de relação com a religião são muito diferentes. Isto está a mudar cada vez mais rápido”, alertou o padre Luís Rafael Azevedo na sua intervenção sobre o tema “Comunicar Jesus sem papas na língua”.

O formador considerou que falar daquela forma de Jesus aos jovens é anunciá-lo “de forma clara, compreensível, sem enrolar ou complicar”. “Eles têm de nos entender”, realçou, considerando que a “linguagem na Igreja é demasiado complexa, demasiado formal e não dá para entender muita coisa”. “Temos uma espécie de linguagem, o «catoliquês», que são aquelas palavras que ninguém usa noutros contextos, mas nós usamos e ninguém entende nada”, constatou, acrescentando ser preciso “deixar o «catoliquês» e passar ao compreensível”.

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Considerando que o “desafio” atual daqueles educadores “é o de comunicar perante uma geração que estagnou numa fé claramente infantil”, defendeu que a linguagem da Igreja não deve ser banida, mas explicada. “Temos de usar palavras que eles entendam, temos de ter também propostas e simbologias”, acrescentou, explicando que as “dinâmicas têm de ser diferentes”. “Estamos a tentar passar uma mensagem para os nossos jovens com a linguagem bíblica. É um perigo muito grande porque a mensagem está certa, mas a maneira como a estamos a comunicar inclui uma simbologia antiga”, alertou, explicando que o “perigo” é o de se estar “constantemente a tentar comunicar com a geração atual com uma simbologia e uma lógica desatualizada”.

O padre Luís Rafael disse ainda que “tem de haver uma qualidade na comunicação”. “Muitas vezes comunicamos mal. Temos a melhor mensagem para comunicar. Precisamos de qualidade, de profissionalismo cada vez mais” referiu, explicando que se deve comunicar de forma atrativa e que isso pode implicar ter de investir. “Não serve um cartaz qualquer, nem serve uma música qualquer”, alertou.

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Lembrando que “Jesus comunicava não apenas com palavras, mas também com gestos”, sublinhou que estes “dizem muito”. Nesse sentido, realçou que os jovens “precisam mais de testemunhas do que de mestres”. “A comunicação tem de casar o que eu digo com os gestos que eu tenho e com a maneira como eu vivo”, alertou, sublinhando a importância da “profundidade”. “Para se falar de Jesus é preciso falar com Jesus”, disse, aludindo à importância da oração. “Eles têm de sentir em nós gente que também reza, gente que acredita e gente que, na sua vida, faz diferente porque acredita em Jesus. A oração é o alicerce da vida de um animador de grupo de jovens”, frisou.

O mestrando em Comunicação Aplicada defendeu que, na comunicação, “a dimensão simbólica tem de ser aproveitada porque tem muito potencial nesta geração”. “Não podemos comunicar de forma analógica para uma geração que já nasceu com os telemóveis na mão, que nasceu numa fase de comunicação em que é tudo ao segundo”, sustentou, garantindo que “a Igreja está a ter muita dificuldade em acompanhar” este ritmo.

O formador considerou que o que falta atualmente é “tentar perceber como é que as coisas funcionam” e como é que se consegue “marcar de forma positiva e impactante para que a mensagem passe”. “Não nos podemos limitar a ir atrás. Temos de estar à frente”, considerou.

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O sacerdote considerou “a empatia é um ingrediente essencial”. “Devemos estar à vontade com eles e falar das coisas que eles falam”, referiu, admitindo que “esta proximidade implica um esforço muito grande”, passando, por exemplo, por “saber que música ouvem” ou “que séries andam a ver”. “O choque geracional passa se nos aproximarmos daquilo que eles ouvem, veem e gostam”, garantiu.

O padre Luís Rafael aconselhou ainda os educadores à “normalidade” para não parecerem “estranhos”. “Se eles olham para nós como uma figura inatingível, desistem logo. É preciso reconhecer que temos falhas, mostrar-lhes as nossas fragilidades, o nosso caminho quando caímos e quando nos levantamos”, aconselhou.

O formador definiu a idade da juventude dos 15 aos 35 anos e aludiu à imagem de um triângulo para explicar como deve constituir-se o grupo de jovens. “Dividimos esse triângulo em três partes [horizontais] em que a base tem de ser composta pelos que têm dos 15 aos 25 anos. Se no total temos um grupo de 10 jovens, significa que cinco têm de ter menos de 25 anos; dos 25 aos 35 anos têm de ser dois ou três e os que passam dos 35 anos têm de ser apenas um ou dois”, explicou, alertando que se o triângulo estiver invertido, ou seja, composto por apenas um elemento com 22 anos, quatro com menos de 35 anos e oito com mais de 35 anos, “o triângulo vai tombar”. “Precisamos constantemente de renovação”, advertiu, alertando para o “risco de deixar de ser um grupo de jovens para passar a ser um grupo fechado de amigos”.

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O sacerdote comparou a dinâmica do grupo de jovens a uma montanha-russa, considerando que os seus primeiros tempos de vida são “sempre a subir” e que depois de chegar ao auge desce a pique. “90% dos grupos de jovens depois desta descida, acaba”, garantiu, acrescentando que o “difícil não é criar”, mas “manter um grupo de jovens”.

O padre Luís Rafael aconselhou os responsáveis dos grupos a “relativizar” porque “a montanha-russa volta a subir”. “Qual é a missão das comunidades e dos líderes de jovens? É que quando chega lá abaixo dar impulso outra vez”, acrescentou.

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O sacerdote aconselhou ainda aqueles responsáveis a proporcionar aos jovens “antes do Crisma”, “uma experiência positiva de Igreja, de grupo e de oração”. “Depois vai-se caminhando com eles a partir daí. Começamos pela dimensão mais humana e depois acrescentamos a experiência de fé, como nos catecismos”, finalizou.