Foto © Samuel Mendonça

A psicóloga clínica, especialista em perturbações do desenvolvimento e psicologia da web e cyberbullying, Rosário Carmona e Costa defendeu na última edição das “Tertúlias da Fé”, promovida no passado sábado pela paróquia de Armação de Pêra, a necessidade de reduzir o acesso de crianças e adolescentes aos ecrãs.

Na iniciativa, que voltou a ter lugar no Centro Pastoral de Pêra, desta vez sobre as novas tecnologias e o seu impacto na família e nos relacionamentos, aquela técnica assegurou que, na maior parte dos casos que lhe aparecem a pedir ajuda, o que diagnostica, “e que acaba por ser quase sempre o pano de fundo, é o uso inadequado dos ecrãs”.

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A psicóloga clínica, que apresentou uma palestra sobre o tema “Socorro, as novas tecnologias estão a invadir a nossa família!”, lembrou mesmo a recomendação da Academia Americana de Pediatria que aconselha que crianças até dois anos de idade não tenham contacto com ecrãs. Carmona e Costa discordou dos pais que entendem que essa experiência promove o desenvolvimento. “Até aos dois/três anos não promove. Até esta idade não há aprendizagem tão forte como a da relação, como a da experiência, a da modelagem, a de ver fazer” considerou.

A especialista acrescentou que até à adolescência o uso dos ecrãs deveria ser limitado e que os pais, quando entregam aos filhos uma consola de videojogos, um tablet ou um smartphone, deveriam estabelecer quando podem ser usados e durante quanto tempo.

Rosário Carmona e Costa defendeu que os telemóveis (também à noite) devem ficar fora do quarto e que os computadores devem estar em “locais de passagem”. “Isto é o primeiro comportamento preventivo”, considerou, acrescentando que os próprios adolescentes esperam que os pais saibam impor “limites e regras” em relação aos quais devem ser “consequentes”. “Os pais têm que voltar ao poder”, afirmou, sublinhando que as novas tecnologias para os filhos têm que ser “um privilégio” e não “um direito”.

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Para além da não permissão de ecrãs nos quartos, a oradora enumerou outras “estratégias simples para eliminar ecrãs em contexto familiar”. “Eliminar a televisão de fundo”, “não permitir ecrãs às refeições” e “promover um leque variado de atividades”, foram outros dos conselhos deixados pela psicóloga que apontou a “regra de ouro”: “se há oportunidade de relação, não há ecrãs”.

Rosário Carmona e Costa criticou a propósito os pais que não dão o exemplo. “Os miúdos estão a crescer com a ideia, infelizmente real, de que tem de competir com os ecrãs pela atenção dos pais. E estão a competir com a tentação dos pais de tirarem uma fotografia e publicarem, de verem mais um email ou de ficarem a ver o telejornal e depois a telenovela”, lamentou.

A oradora frisou que o que fica por adquirir, quando as crianças têm acesso precoce e desregrado aos ecrãs, são a “competência da autorregulação”, a “tolerância à frustração” e o “adiamento da recompensa”.

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Carmona e Costa lembrou estar comprovado que a dependência dos ecrãs “ativa exatamente as mesmas áreas cerebrais que as dependências de substâncias”, ou seja, “os circuitos da recompensa e da gratificação imediata”. “Procuro estímulo, recebo estímulo. Os circuitos do prazer estão muito ativados e as áreas cerebrais mais afetadas é a zona cinzenta que é aquela onde está grande parte do nosso controlo emocional, das nossas capacidades de aprender, da nossa capacidade de manter a atenção”, especificou, lembrando um paciente que era praticante de videojogos durante 22 horas diárias.

A especialista, autora do livro “iAgora? Liberte os seus filhos da dependência dos écrans”, explicou ainda que, muitas vezes, os computadores servem também para determinadas funções em défice, tais como uma baixa autoestima ou ansiedade social.