Encontro ficou ainda marcado pelo testemunho de um membro que fez o seu curso há 53 anos
A ultreia do Movimento dos Cursos de Cristandade (MCC) que se realizou ontem à tarde na Diocese do Algarve deixou claro que a continuidade dos seus membros assenta em três dimensões: as ultreias, o sacrário e a direção espiritual.

A ideia, à qual foi associada a importância da “perseverança”, foi transmitida por alguns dos vários cursistas que apresentaram o seu testemunho (rolho) no encontro que teve lugar na igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, em Tavira, e corroborada pelo bispo do Algarve que presidiu à atividade e à Eucaristia que se lhe seguiu.

Na missa, D. Manuel Quintas disse que “o segredo” daquele movimento são aquelas três dimensões. O bispo diocesano explicou que o sacrário tem a ver com a “oração pessoal”, a participação na Eucaristia e a “inserção na vida da paróquia e da diocese” e que para além da participação nas ultreias, importa não descurar a “direção espiritual com o sacramento da reconciliação”. “Sem estes apoios é difícil viver em fidelidade no seguimento de Cristo”, alertou.
O responsável católico começou por referir precisamente que “é preciso alimentar esta identificação com Cristo”. “É o Espírito que, verdadeiramente, nos configura com a pessoa de Jesus, que faz de nós cristãos de verdade”, afirmou.
O bispo do Algarve sublinhou o contributo daquele movimento para ajudar os seus membros a serem “melhores discípulos de Jesus” e saberem “discernir e orientar” a sua vida e as suas opções. “É importante que vejamos isto como um caminho que estamos a percorrer ao longo de toda a vida”, referiu.

No encontro que precedeu a missa, participado por cerca de 80 elementos vindos de diversas paróquias do Algarve, D. Manuel Quintas reconheceu que aquele movimento “é importante para a Diocese do Algarve” e para os seus membros “em primeiro lugar”. O bispo diocesano referiu-se à importância da corresponsabilidade na Igreja, a partir do batismo. “Aquilo que este movimento exprime e realiza na nossa Igreja diocesana tem a ver exatamente com isso”, sustentou.
O bispo do Algarve comparou o movimento a um “centro florido” com diversas espécies de flores como o que enfeitava a mesa da presidência. “Só tenho que estar agradecido a este movimento e o que mais desejo é que continue”, concluiu, transmitindo ainda uma “palavra de muita gratidão a Vítor Baltazar por tudo o que tem dado e porque se tem dado a este movimento na Igreja diocesana”.

O presidente do secretariado do Algarve do MCC, que tinha falado antes, lembrou ter trabalhado no movimento durante os últimos anos “com afinco e dedicação”, mas acrescentou que “tudo quanto tem um princípio, tem um fim” e que “não há ninguém insubstituível”. “Penso que é o momento próprio de passar os desígnios deste movimento para outro leigo. Quero que todos aceitem esta minha decisão. Temos que dar lugar aos novos e há momentos da nossa vida que temos de dar o apoio à família. Estou muito grato por todos quantos trabalharam comigo, não como elementos secundários. Todos têm o seu valor e todos têm de desempenhar o seu papel porque não é o presidente que faz o secretariado. Não trabalharam para mim, nem para o padre A ou B. Trabalhámos para o Senhor, para a Igreja do Algarve, para dilatar a nossa Igreja, para dar a conhecer aqueles que descobrimos no movimento”, afirmou Vítor Baltazar, que, emocionado, agradeceu à mulher pelo apoio e incentivo para que se dedicasse àquele movimento.

O assistente espiritual do MCC lembrou a propósito que o secretariado está a terminar funções. “Dentro de algum tempo o senhor bispo nomeará uma nova equipa e um novo secretariado. Sabemos que os que estiveram até agora serviram com generosidade, como também temos a certeza que quem vem a seguir vai trabalhar com muita generosidade”, afirmou o cónego Rui Barros Guerreiro.
O sacerdote disse ainda que este tem sido “um ano muito feliz” para o MCC no Algarve porque “finalmente” conseguiram concluir o Curso de Cristandade de Senhoras “que tinha ficado em standby desde o início da pandemia”. “Foi uma graça este curso que tivemos”, considerou, desejando que aquela ultreia possa também “ser um estímulo” para o regresso de algum cursista que ande mais afastado.

A tarde, orientada por David Gonçalves do MCC de Tavira, ficou ainda marcada pelo testemunho de José Matinhos, que fez o Curso de Cristandade em 1969. O orador lembrou que após o curso foi chamado para a “escola de responsáveis” e o apoio dado aos diversos núcleos pelo Algarve, em momentos de alguma dificuldade. “Também para a minha formação contribuíram muito os minicursos e cursos de orientação espiritual que frequentava sempre que havia uma oportunidade”, acrescentou, garantindo que “têm sido anos de grande dedicação ao movimento”.
“Foram muitas graças que recebi ao longo dos anos. Sempre vivi com muito interesse o andamento de cada um dos cursos, embora não participasse neles. Tive a sorte de entrar no MCC numa altura em que muitos sacerdotes se dedicavam com afinco ao movimento”, prosseguiu, lembrando que “naquela altura não se viam homens nas igrejas”. “Propriamente eram senhoras, e algumas delas, já com alguma idade”, concretizou.
Por fim, renovou a sua disponibilidade para com o movimento. “Sempre tenho estado disponível para o movimento e continuo a estar. Os anos passam, o espírito fica, a vontade continua”, concluiu.

O primeiro cursilho em Portugal realizou-se em 29 de novembro de 1960 e no Algarve ocorreu a 18 de março de 1964, sendo destinado a homens, ao qual se seguiu o primeiro cursilho de senhoras em abril do ano seguinte.

O MCC é um movimento eclesial, fundado por Eduardo Bonnin em Palma de Maiorca (Espanha) em 1949, que propõe uma vivência de vida segundo os fundamentos da fé. Depois da participação num curso ou cursilho (termo adaptado do original espanhol) de três dias e meio, onde é feito o primeiro apelo à fé, os participantes são convidados a continuarem a caminhar em grupo, nas comunidades, realizando encontros (ultreias) onde partilham as suas experiências de fé.