
Hoje foi dia de Carnaval. Muita música, muita dança, muita animação reinou pelas ruas e praças das nossas cidades, pelos canais de televisão, pelas instituições e colectividades. Importava, nestes dias, ser feliz. Ou, pelo menos, ser feliz para a foto, para selfie, que nos fez acreditar que o mundo pode ser sempre assim.
Plumas, lantejoulas, brilhos. Cor, fantasia, sátira. Tudo vale neste tempo festivo. Tudo é permitido, pelo menos quando queremos envolver-nos neste corrupio, nesta roda-viva dos corsos e dos carros alegóricos.
E não há nada a criticar, nem tão pouco a menosprezar. Precisamos desta energia. Precisamos de momentos de libertação, para que as pressões internas deixem de nos atormentar. Precisamos de sentir uma alegria sem razão, sem moderação, sem contenção. Precisamos de dançar, de sorrir, de fantasiar.
E agora? O que acontece depois? Somos mais felizes e melhores?
Fica a questão, porque as virtudes – entre as quais encontraremos a alegria, a partilha, a solidariedade, o companheirismo, tantas vezes associadas a estes momentos de folia e de animação – são aquilo que devemos ter no coração nos próximos dias, aquilo que devemos buscar como meta e como ferramenta de ação. E se o carnaval serviu para as reanimar nos nossos corações, estaremos prontos a viver e a ser úteis, a ser soldados proativos ao serviço do bem, do bem de todos.
O desfio é esse mesmo: olharmos para nós, mas não nos ficarmos pelo olhar. Há que abraçar o que mais nos desafia, para sermos, mais que tudo, construtores de um mundo novo, de um mundo melhor, onde o carnaval possa acontecer mais do que uma vez por ano, porque a alegria estará em cada esquina e em cada ser humano. Onde a verdadeira alegria é a Pascal, que assenta na criação e no reconhecimento da vida nova, da vida plena e livre.
Como nos diz o Papa Francisco, na sua mensagem para a Quaresma de 2017, este é «o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados».
Uma Santa Quaresma, pela da alegria da renovação!