Na UAlg todo o programa assenta num modelo importado do Canadá conhecido como Ensino Baseado em Problemas (PBL), que começa logo no primeiro ano e é complementado com seminários e idas semanais aos centros de saúde.
O processo de seleção dos futuros médicos também foge ao tradicional: em vez das notas do Secundário e dos exames nacionais, os candidatos são escolhidos através de provas de conhecimento, de língua inglesa e de dez mini entrevistas.
“Se não fosse um bom sistema, universidades de referência a nível internacional não o usariam”, resume Paulo, biólogo e estudante do 1.º ano, que considera bem mais interessante lidar com casos reais do que com “coisas abstratas e teóricas”.
Com 36 anos, viajou desde os Açores até ao Algarve para se dedicar a uma nova vida e acredita que através deste método de seleção conseguem escolher-se pessoas “com uma componente humana mais adequada à profissão de médico”.
Na aula a que a Lusa assistiu, a missão dos oito alunos que compõem o seu grupo de trabalho era traçar o diagnóstico de um homem que apareceu na consulta de Medicina Geral e Familiar com queixas de cefaleias, tosse e falta de ar.
Sendo fumador e obeso, este mecânico de 55 anos pode tanto ter um enfisema como uma bronquite crónica ou até um tumor. O caso será debatido ao longo de três sessões até que se chegue a um diagnóstico e se prescreva um tratamento.
“Acho que os alunos preferem estudar casos baseados em problemas porque veem uma aplicação imediata do que estão a estudar”, diz Álvaro Tavares, bioquímico e um dos professores que inaugurou o curso.
Em vez de uma disciplina associada a cada área específica, o ensino é feito de forma integrada até que, no fim do curso, os alunos tenham estado perante um sem fim de casos que cubram todas as áreas da Medicina, diz o docente.
Apesar das críticas que choveram sobre o modelo, distante do clássico ensino de Medicina, Cláudia, de 25 anos, não duvida de que dali vão sair médicos “extremamente competentes” e com uma “grande bagagem”.
A enfermeira e estudante do 1.º ano nasceu e estudou em Viseu, mas é no Algarve que vai passar os próximos quatro anos. Não faz parte do grupo dos que falharam Medicina por décimas, mas sentiu falta de “algo mais”.
Nas duas turmas do curso existe um pouco de tudo: desde médicos veterinários a dentistas, farmacêuticos ou biólogos. Todos se lançaram numa aventura que em vez de sete vai durar quatro anos. E nenhum parece arrepender-se.