Na Via-Sacra, que ontem à noite se realizou pelas ruas de Tavira e que uniu portugueses e ucranianos, o pároco daquela cidade afirmou que estes, vítimas da invasão militar protagonizada pela Rússia, “são os crucificados de hoje”.


“Quaresma é tempo de encontro mais íntimo com Jesus Cristo e com a sua Palavra para termos os mesmos sentimentos e assumirmos as suas opções, sobretudo, a solidariedade com os nossos irmãos ucranianos que sofrem com as separações familiares, a perda dos seus bens e dos seus entes queridos, estes são vítimas de uma dor profunda na alma, pelos seus refugiados, estes são os crucificados de hoje”, afirmou o padre Miguel Neto no início daquela iniciativa conjunta com a comunidade ucraniana no Algarve que teve inicio na igreja de São Sebastião, no bairro da Atalaia, e terminou na igreja de Santo António.


O sacerdote referiu-se a um “caminho de Esperança” para os tempos atuais “cheios de incertezas, pela guerra na Ucrânia, pela pandemia e pelas catástrofes naturais”.


O capelão da comunidade ucraniana no Algarve considerou que “o povo ucraniano está em guerra com o exército mais forte da Europa e talvez do mundo”. “O nosso povo heróico está se defendendo do ataque da Rússia. Estamos protegendo, não apenas a nós mesmos, mas o resto da Europa e todo o mundo civilizado do doente Putin”, afirmou o padre Oleg Trushko, considerando que a bandeira da Ucrânia se tornou um “símbolo de resistência à tirania”.


“Hoje reunidos na Via-Sacra pelas ruas da antiga cidade de Tavira, ucranianos e portugueses, estamos caminhando juntos o caminho que Jesus Cristo percorreu, carregando a pesada cruz. Sacrificamos este caminho da cruz pela paz e tranquilidade na Ucrânia, pelo fim da guerra e para que a paz volte à nossa terra sofredora. Nós dizemos não à guerra. Hoje há guerra na Ucrânia. Amanhã poderá ser no resto da Europa”, prosseguiu na celebração que contou com a participação da presidente da Câmara de Tavira.


O sacerdote agradeceu o apoio manifestado ao povo ucraniano. “Vemos quantos milhares de pessoas estão preocupadas e simpatizam connosco e o mais importante é que nos querem ajudar com o que podem”, destacou, acrescentando que “Jesus é luz que vence qualquer escuridão na vida humana”. “Somos cristãos e Deus está connosco. Se Deus está connosco, quem pode estar contra nós?”, interrogou.


Ao longo da Via-Sacra, em que também se cantou e se rezou em ucraniano, lamentou-se que “que no mundo de hoje, existem muitos «Pilatos» que, nas suas mãos, detêm as rédeas do poder e usam-nas ao serviço dos mais fortes”. “Muitos são aqueles que, fracos e covardes face a estas correntes de poder, empenham a sua autoridade ao serviço da injustiça e espezinham a dignidade do homem e o seu direito à vida”, criticou-se.


Os participantes, em número de cerca de uma centena, rezaram por “aqueles que têm autoridade neste mundo, para que governem na justiça” e pediram por “todos os homens e todos os povos humilhados, atacados e atribulados, sem paz, em especial a Ucrânia”.


Evocaram os “irmãos vítimas da guerra, refugiados, sem-abrigo, os pobres e as crianças sujeitas à violência e à exploração” e afirmaram que o “mundo está cheio de mães aflitas, de mulheres feridas na sua dignidade, lesadas pelas discriminações, a injustiça e o sofrimento”.
Rezaram também “pelas vítimas da violência e das guerras que devastam toda a Ucrânia, vários países do Médio Oriente e também outras partes do mundo”, “para que os desalojados e os emigrantes forçados, possam voltar o mais rápido possível às suas casas e às suas terras” e por “um mundo novo, mais fraterno, mais pacífico e mais justo, e que esses países recuperem as suas civilizações, os seus valores espirituais e humanos”.
A Via-Sacra consiste em acompanhar espiritualmente o trajeto que Jesus percorreu até à morte, sepultura e ressurreição, com momentos de meditação e oração ao longo de 14 estações.