A atividade regional de comemoração do Dia de São Paulo, patrono de Caminheiros e Companheiros, (escuteiros dos 18 aos 22 anos, respetivamente dos ramos terrestre e marítimo, pertencentes à IVª secção) dos agrupamentos algarvios do Corpo Nacional de Escutas (CNE) ficou marcada pelo voluntariado social que realizaram com pessoas carenciadas da freguesia de São Bartolomeu de Messines.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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No sábado de manhã, na abertura de campo, os escuteiros foram advertidos para a atividade que os esperava, um serviço que talvez os fosse “ajudar a refletir de outra maneira” sobre a vida. “Tentem não julgar”, pediu-lhes de antemão a chefe Marta Almeida, do Departamento Regional da IVª Secção da Junta Regional do Algarve do CNE que preparou o fim de semana de comemoração do Dia de São Paulo em colaboração com o Agrupamento 1339 de São Bartolomeu de Messines.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Munidos de vassouras, pás, esfregonas, detergentes, escadotes, ferramentas e demais utensílios, os jovens – divididos na véspera por oito grupos (clãs) – embrenharam-se freguesia adentro ao encontro das pessoas indicadas pela Junta e que são regularmente por ela acompanhadas. “Queríamos muito ajudar pessoas pobres, sozinhas, sem amor”, explicou à reportagem do Folha do Domingo Vanda Brazona, a chefe de Departamento da IVª Secção, acrescentando que aquela vivência se relacionou com o filme proposto para visionamento como preparação da atividade. ‘Paul, Apostle of Christ’ (Paulo, Apóstolo de Cristo) de 2018, realizado por Andrew Hyatt, com Jim Caviezel, James Faulkner e Olivier Martinez nos papéis principais, conta a história da conversão do antigo perseguidor de cristãos e serviu de pano de fundo à edição deste ano daquela atividade escutista que teve como imaginário a primeira carta do apóstolo aos coríntios.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Vanda Brazona explicou que a missão dos escuteiros consistiu então em deixar a casa dos beneficiários “o melhor possível”, por forma a que “tivessem pelo menos uma noite melhor, mais confortável”. Em todas as casas, para além das limpezas, arrumações e pequenos arranjos, os escuteiros confecionaram o almoço de sábado para os habitantes e deixaram outras refeições feitas. Em cada uma das oito habitações deixaram ainda um cabaz de alimentos não perecíveis com bens alimentares que cada um trouxe para aquele fim. Numa delas, o morador, que não tinha onde dormir, ganhou ainda uma cama que os escuteiros conseguiram angariar com a colaboração da Junta de Freguesia.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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O grupo que o Folha do Domingo acompanhou dirigiu-se por uma estrada serpenteada por meio de extensos laranjais até chegar à moradia de uma idosa que vive numa casa arrendada com os filhos com problemas do foro mental e que, por isso, são acumuladores de objetos sem valor. Chegados à residência, os escuteiros dividiram-se entre os que se concentraram no trabalho no interior da mesma e em conversar com a moradora e os que ficaram no exterior a desimpedir um barracão e o espaço envolvente cheio de tralhas. O grupo tentou ainda resolver alguns dos problemas do telhado, embora sem grande sucesso porque a maioria deles eram do foro estrutural do edifício em muito mau estado de conservação.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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“Eles vieram felizes por terem podido ajudar e isso notou-se no fogo de conselho e na Eucaristia”, garantiu Vanda Brazona ao Folha do Domingo, explicando que inicialmente a organização ainda teve alguns receios. “Tínhamos muitos noviços e era um receio nosso que fosse demasiado, que muitos Caminheiros não estivessem preparados, mas não. Foi um choque quando lá chegaram, até para os chefes”, concretizou aquela dirigente, explicando que a caminhada de 8,5 quilómetros que fizeram logo na noite de sexta-feira, de São Bartolomeu de Messines até à ermida de Sant’Ana onde montaram o acampamento, foi uma boa preparação. “Fizemos quase o ‘Roteiro das Ermidas’. Passámos por três capelas para além da de Sant’Ana. Na capela de São Pedro, a última antes da de Sant’Ana, viram um excerto do filme ligado à carta paulina do imaginário”, contou, explicando que o visionamento do trecho culminou num momento simbólico: o acendimento de uma luz que cada um levou para o resto do caminho.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Aquela responsável acrescentou que “o assistente regional ajudou muito o Departamento da IV Secção a preparar as reflexões do raide”. “O assistente é um elemento fulcral na organização destas dinâmicas”, sustentou, garantindo que “a avaliação é muito positiva”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Na sexta-feira à noite, a atividade, participada por 122 elementos, entre 97 caminheiros e 25 dirigentes, teve início junto à estátua de João de Deus, o herói proposto para este ano pela Junta Regional do Algarve do CNE. A personagem do pedagogo, natural daquela terra, apareceu mesmo aos escuteiros para declamar um dos seus poemas que tem por inspiração a carta de São Paulo que serviu de imaginário e acabou por chamar os chefes de clã (dirigentes). De seguida, a dinâmica introduzida permitiu aos escuteiros receberem uma frase inicial correspondente a uma das cartas paulinas juntamente com um ID com o seu nome que tinha como objetivo descobrirem qual dos chefes de clã seria o seu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Os oito clãs, compostos em média por 13 elementos e identificados com nomes dos destinatários das cartas do apóstolo, iniciaram então a longa caminhada numa noite de muito baixas temperaturas em que chegaram ao acampamento por volta das 2h15. Pelo caminho, munidos de uma longa vara que foi entregue aos chefes de clã, foram construindo um totem com os panos brancos que todos trouxeram de casa com a inscrição da frase da carta paulina do imaginário que mais os tocou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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No sábado, regressados a campo após o voluntariado, jantaram e realizaram o tradicional fogo de conselho e no domingo iniciaram o dia com a oração decorrida em clã, seguindo-se um jogo inspirado na batalha do Remexido, ocorrida junto àquela ermida de Sant’Ana. Naquela dinâmica, em que o totem de cada clã voltou a ter destaque, foram as cartas de São Paulo que voltaram a ter o papel principal. A atividade do patrono de Caminheiros e Companheiros permitiu-lhes ainda ganhar uma das cinco peças de metal que constituem a insígnia do centenário do CNE: a flor de lis, relacionada com a mística e a simbologia, dimensões que foram reforçadas na realização daquela atividade que teve como lema “Leva a Tua voz + alto”.

Depois da desmontagem de campo e do almoço realizou-se a Eucaristia, frente à ermida de Sant’Ana, presidida pelo novo assistente regional, o padre Rui Fernandes.

O CNE, fundado em 1932 no Algarve pelo cónego José Augusto Vieira Falé, conta atualmente com 34 agrupamentos num total de mais 2.000 elementos.