
No contexto do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que se assinala amanhã (3 de dezembro), a Igreja Católica do Algarve realizou logo ontem na paróquia das Ferreiras, no concelho de Albufeira, um encontro para pessoas portadoras de deficiência e suas famílias que foi também participado por alguns doentes idosos.
Promovida em colaboração com o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), a iniciativa, sob o tema “Quebrar Barreiras”, teve início com o acolhimento dos cerca de 50 participantes, seguindo-se a abertura da jornada por Maria Isabel do Vale que explicou que o SPPD foi criado pela Conferência Episcopal Portuguesa em novembro de 2010 no âmbito da Pastoral Social com o intuito de “dinamizar a sensibilidade da Igreja para acolher as pessoas com deficiência”.
Aquela responsável destacou a vontade do bispo da diocese para que o primeiro encontro nacional fosse realizado no Algarve. “Estamos a colaborar com a diocese que quis e aceitou este desafio”, elucidou.
No painel que se seguiu, sob o tema “Uma vida que chega e se anuncia diferente – como alimentar a esperança?”, Céu Neto deixou o seu testemunho como mãe de um filho de 22 anos que nasceu com espinha bífida, uma má formação da medula, ao qual mais tarde foi também diagnosticada uma hidrocefalia. “Revoltei-me contra tudo e contra todos, até contra Deus”, testemunhou, acrescentando ter sido acompanhada por um sacerdote amigo que lhe disse que Deus lhe tinha dado um filho assim porque sabia da sua capacidade para o acolher.

© Samuel Mendonça
“O meu objetivo era ter um filho vivo”, confidenciou, lembrando que, entre 1997 a 2003, Tito Neto foi operado 13 vezes para implante de várias válvulas que foram sendo substituídas, incluindo as cinco intervenções realizadas no último ano daquele período. “Sofre-se muito, ele, os pais e até os próprios médicos. Isto é traumatizante para nós e para ele. Não há um único dia em que ele não me pergunte se a válvula está bem”, testemunhou.
Céu Neto aludiu à importância da determinação. “Pelo facto de termos um filho diferente não nos podemos acobardar. O meu filho não pediu para nascer e eu, como mãe, sinto-me na obrigação de fazer tudo para que ele seja feliz”, referiu, advertindo que “as pessoas com deficiência não são uns coitadinhos”. “São seres humanos iguais a todos nós. Dentro deles existe uma força inexplicável que ninguém conhece, são uns lutadores. Experimentem tratá-los com carinho e afeto. Somos todos diferentes e todos iguais”, desafiou.
Leonor e Carlos Mendonça, pais de um adolescente com síndrome de Asperger, testemunharam travar “uma luta permanente contra tudo”. “As pessoas passam-nos atestados de incompetência porque o Afonso não tem nenhum sinal aparente”, contou a mãe, lembrando que “quando se tem um filho com características diferentes aprende-se a viver as conquistas”. “O Afonso está na escola a fazer o 9º ano. Não é nada fácil para ele, nem para nós”, acrescentou.
Também o pai se referiu à experiência, sublinhando que “os pais ficam com uma sobrecarga terrível”. “Somos obrigados a enfrentar coisas para as quais não estávamos preparados. Tivemos de nos reorganizar. É como se o mundo tivesse desabado”, comparou, acrescentando: “para trabalhar a deficiência é preciso muita vocação. Temos de aprender a trabalhar com a obrigação sem que isso seja penalizador”.
Completando Leonor Mendonça, que disse alimentarem a esperança, acreditando em Deus, acrescentou que “a esperança reside no amor”. Neste sentido, considerou que “a paróquia tem um papel importante”. “Faz todo sentido que, nas paróquias, se encontre lugares especiais. Com a crise, há áreas que estão a ser devastadas. As pessoas mais vulneráveis são as mais afetadas em situação de dificuldade e isso está a sentir-se na deficiência. As paróquias têm aqui um papel importante”, justificou.
Carlos Mendonça destacou ainda que “a deficiência não é mais do que uma limitação numa área”. “Nas outras áreas [as pessoas portadoras de deficiência] são iguais ou melhores”, sustentou.
Patrícia Correia, técnica da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, testemunhou o seu trabalho com utentes com várias deficiências, referindo-se também a “outras barreiras” “que têm a ver com as atitudes”. “Cabe-nos a nós, enquanto técnicos, encontrar estratégias para ultrapassar estas barreiras”, acrescentou, sublinhando que a “falta de informação” é uma delas.
Aquela técnica, que enumerou as atividades ocupacionais realizadas pelos utentes da misericórdia, reconheceu que “os voluntários trazem sempre uma lufada de ar fresco” aos utentes da instituição e apelou a que se continue a trabalhar para tornar a sociedade inclusiva.
A parte da manhã terminou com o visionamento de três trabalhos de vídeo realizados por três paróquias algarvias (ver abaixo) e com uma gincana promovida pela APEXA – Associação de Apoio à Pessoa Excecional do Algarve, que após o almoço, fez a apresentação do seu trabalho.

© Samuel Mendonça
A parte da tarde teve continuidade com a intervenção de Alice Caldeira Cabral, do SPPD, que deixou à diocese algarvia o desafio de fazer, até dia 18 de outubro do próximo ano, um levantamento das barreiras arquitetónicas existentes nos seus edifícios. Aquela responsável aludiu ainda ao Movimento Fé e Luz que promove a constituição de pequenos grupos de encontro de famílias com pessoas com deficiência, assegurando que a comunidade de Évora está disponível para apoiar o surgimento de um núcleo no Algarve caso haja interesse.
Após a reflexão de Teresa Venda, o encontro encerrou com a celebração da eucaristia, seguindo-se um gesto simbólico final com a largada de balões brancos com o desafio implícito ao compromisso com a inclusão das pessoas com deficiência.
Vídeo, intitulado “Surdez e Mudez não é barreira”, realizado pelo grupo de jovens ‘Logos’ da paróquia da Sé de Faro sobre a deficiência em geral:
Vídeo, intitulado “Quebrar barreiras”, realizado pelo grupo de jovens da paróquia de Ferreiras sobre a deficiência visual:
http://www.youtube.com/watch?v=mF8yDrlX7t0&feature=player_embedded
Vídeo, intitulado “Basta”, realizado pelo grupo de jovens das paróquias de Raposeira, Sagres e Vila do Bispo e sobre a deficiência física: