Reportagem de António Rodrigues (Mais Algarve) e Samuel Mendonça (Folha do Domingo)

Na noite de ontem, 02 de setembro, na catedral da Diocese do Algarve, a “polifonia das orações” uniu-se à “consonância da música”, como fez questão de realçar o deão do Cabido daquela Sé de Faro, para “recordar” e “agradecer” os “25 anos de ministério apostólico” de D. Manuel Quintas ao serviço da Igreja e da região algarvias.

Foto © Samuel Mendonça

A catedral diocesana acolheu o concerto de homenagem ao bispo do Algarve levado a cabo pelo Coro e Orquestra do Algarve e oferecido pela Câmara de Faro. Como referiu o cónego Mário de Sousa, o “sopro invisível, que dá origem à beleza do som”, como “parábola viva do Espírito de Deus, que torna a vida e a missão em lugares da beleza transcendente”, inundou a catedral com a música que “rasga o tempo e eleva a alma”.

Foto © Samuel Mendonça
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Ao longo de uma hora, a orquestra, conduzida pela batuta do maestro Pablo Urbina, e o coro interpretaram um repertório que incluiu peças de Ludwig van Beethoven (Gratulations-Menuet, WoO 3), Charles Gounod (Hino Pontifício do Vaticano), Johann Sebastian Bach (Suite Orquestral no.3 em Ré Maior, BWV 1068), Franz Joseph Haydn (Sinfonia n. 30 em Dó Maior, Alleluja) e Georg Friedrich Händel (Zadok the Priest, HW 28).

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Na palavra de abertura da noite cultural, o cónego Mário de Sousa começou por manifestar a “gratidão a Deus” por “nunca desistir de transformar” a “história pessoal e comunitária em história de salvação” “através de mediações”. O representante do Cabido Catedralício, responsável pela organização da celebração do Jubileu de D. Manuel Quintas, lembrou que estes 25 anos de ministério apostólico foram “todos eles vividos, plena e intensamente, ao serviço da Igreja diocesana, numa constante e generosa encarnação do lema que ilumina o seu ministério episcopal: «Ecce. Amen, para glória de Deus»”.

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“Obrigado, pelo seu «Ecce» quando a Igreja lhe pediu que recebesse das mãos dos apóstolos (através da sucessão bimilenar dos bispos de Ossónoba, de Silves, de Faro, que o antecederam) o tesouro do Evangelho, dos sacramentos e das graças, que ao longo destes 25 anos transportou e distribuiu por cada recanto deste nosso Algarve. Muito obrigado, senhor bispo, por todo o bem que Deus, por seu intermédio, realizou na vida de tantos!”, agradeceu, considerando aquela iniciativa a “antecâmara dessa sinfonia eucarística” que esta quarta-feira também terá lugar naquela catedral com a celebração do “memorial eucarístico, que envolverá na grande ação de graças ao Pai, por Cristo e com Cristo, este louvor grato que, do Sotavento ao Barlavento, em cada comunidade do litoral, do barrocal, das serras e dos vales” da diocese, brota nestes dias”.

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O presidente da Câmara de Faro considerou tratar-se não da celebração de uma data, mas de “um percurso de vida marcado pela entrega ao próximo, pela construção de pontes e pela fidelidade ao serviço”. “Celebramos um ministério que ao longo de um quarto de século se confundiu com a própria vida deste nosso Algarve e das suas gentes. Esta efeméride não assinala apenas um marco biográfico. É sobretudo um momento de especial importância para a comunidade cristã e para toda a sociedade algavia”, afirmou Rogério Bacalhau, considerando também que o trajeto de D. Manuel Quintas “é testemunho de vocação e de missão”.

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O autarca classificou o bispo do Algarve como “um pastor atento, dedicado e profundamente humano, cuja biografia se confunde com a entrega à defesa da dignidade e à valorização dos rostos menos visíveis” da sociedade algarvia, mas também “um pastor presente, próximo e incansável”. “A sua ação pastoral, social e cultural tem-se revelado transformadora e profundamente humana, sendo centrada nos valores do acolhimento, da justiça e da promoção da dignidade de cada pessoa. Nos tempos difíceis que vivemos, marcados pela polarização, pela indiferença e por desafios sociais acrescentes, a sua voz tem sido, entre nós, a voz da concórdia, da proximidade e da esperança”, sustentou.

Rogério Bacalhau referiu que D. Manuel Quintas “tem sido sinal vivo dessa igreja inclusiva e acolhedora”. “A sua presença ativa na Conferência Episcopal, o trabalho pela mobilidade humana, pela pastoral social e pelo turismo, evidencia um olhar largo, atento ao mundo e às suas transformações, comprometido com a justiça, com o diálogo entre culturas e com a paz. É exemplo de uma Igreja aberta e viva”, prosseguiu, acrescentando: “A Igreja do Algarve, e com ela a nossa cidade de Faro e toda a região algarvia, tem muito a agradecer-lhe. A sua atenção aos mais vulneráveis, a colaboração com as autarquias e instituições locais, a valorização do património humano e espiritual da nossa terra são marcas do seu legado e justificaram por inteiro a justiça, a atribuição da medalha de honra da cidade de Faro em 2019”.

O presidente da Câmara de Faro manifestou ainda a “gratidão pelo muito partilhado, pela forma serena, humana e generosa com que sempre colaborou com a autarquia e com a sociedade civil”. “Gratidão por ter feito da Igreja do Algarve um espaço aberto e dialogante e solidário. Gratidão pelo testemunho de serviço discreto, mas firme, sempre inspirado pelos valores do Evangelho”, especificou.

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Rogério Bacalhau deixou uma “palavra de agradecimento profundo”, desejando que o “exemplo de entrega, sabedoria e humanidade” do homenageado continue a inspirar os algarvios. “Bem-haja senhor D. Manuel, pelo seu testemunho. Bem-haja pela luz da sua palavra. Bem-haja pelo seu serviço, bem haja pela sua amizade. Muito obrigado”, concluiu, ofertando ao bispo do Algarve um ramo de flores e um retrato seu, realizado pelo artista Pedro do Vale, autor de desenhos realistas.

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No final do concerto, D. Manuel Quintas manifestou-se “profundamente comovido e agradecido” por aquela “efeméride de gratidão e de esperança”, destacando que as peças apresentadas e escutadas naquele “ambiente único”, proporcionaram “uma experiência de beleza que eleva o espírito” que “recorda e confirma que as artes, como a música, constituem verdadeiramente um caminho de encontro com a presença viva de Deus”.

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O bispo do Algarve, que agradeceu a todos quantos tornaram possível aquela “experiência tão gratificante para todos” e quantos estiveram presentes, apelou ao desejo de todos se sentirem “irmanados pela música, esta arte de passar da harmonia dos sons à harmonia interior, à harmonia de povos culturalmente tão diferentes como distantes”. D. Manuel Quintas destacou a música como “linguagem universal capaz de unir diversidades linguísticas e culturais ao serviço da construção duma verdadeira fraternidade universal”, como pediu insistentemente o Papa Francisco. “Que este este desejo do Papa Francisco e os sons que hoje encheram a nossa catedral inundem, sobretudo, o meu coração de pastor e me predisponham para um compromisso renovado de continuar a servir com amor e dedicação a nossa Igreja diocesana e o nosso Algarve, sempre conduzido pelo exemplo de Cristo, Bom Pastor”, concluiu.

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O concerto de ontem contou ainda com a presença do monsenhor José António Teixeira, encarregado de negócios da Nunciatura Apostólica, e dos arcebispos D. Francisco Senra Coelho, metropolita da Província Eclesiástica do sul à qual pertence a Diocese do Algarve e responsável da Arquidiocese de Évora, e D. José Cordeiro, arcebispo da Arquidiocese de Braga, e dos bispos D. Manuel Linda, responsável da Diocese do Porto, D. Delfim Gomes, auxiliar da Arquidiocese de Braga, D. João Marcos, emérito da Diocese de Beja, e D. António Montes Moreira, bispo emérito de Bragança-Miranda.

Presentes estiveram também o presidente da Assembleia Municipal de Faro, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve e várias entidades da administração pública desconcentrada, magistrados, representantes do corpo consular, oficiais militares, policiais, de segurança, de socorro e proteção civil. Esteve ainda o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Faro e vários representantes do movimento associativo.

O programa de comemoração do Jubileu Episcopal de D. Manuel Quintas tem hoje o seu ponto alto com a celebração da Eucaristia, pelas 18h, na Sé de Faro.