O padre Nelson Rodrigues deixou claro na passada sexta-feira à noite que a espiritualidade de São Carlo Acutis assenta em cinco dimensões que enumerou: “Eucaristia, Nossa Senhora, exemplo dos santos, prática da caridade e humildade”. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na conferência que teve lugar na Sé de Faro, no âmbito do programa formativo que acompanha a exposição internacional sobre os milagres eucarísticos no mundo ali patente até 01 de novembro – concebida e levada a cabo pelo jovem italiano, falecido em 2006 com 15 anos, que foi canonizado pelo Papa Leão XIV no passado dia 07 de setembro – o sacerdote da Diocese do Algarve disse ser um “apaixonado” pelo novo santo da Igreja, conhecido como o “santo padroeiro da internet”. 

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Na reflexão, intitulada “O Apóstolo da Eucaristia”, o padre Nelson Rodrigues começou por explicar que Acutis “fez da presença de Jesus na Eucaristia o centro da sua vida e da sua missão”. O sacerdote contou que, ao receber a Primeira Comunhão com apenas sete anos, o italiano “tomou uma decisão que mudou a sua rotina de vida”, a de participar diariamente na Eucaristia. “Carlo Acutis já tinha a Missa como centro do seu dia”, evidenciou o orador, explicando que depois da celebração “gostava de ficar alguns minutos em oração diante do Sacrário” em adoração eucarística, “conversando em silêncio com Jesus”. “Além disso, também tomou o hábito de se confessar uma vez por semana para receber a Eucaristia sempre com um coração puro”, acrescentou. 

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O padre Nelson Rodrigues disse que Acutis “compreendeu que a comunhão frequente não era um luxo de gente muito piedosa, mas quase uma questão de sobrevivência para a alma”. “Ele dizia que assim como não se pode ficar muito tempo sem comer, sem enfraquecer o corpo, a alma também precisa de se nutrir regularmente de Jesus eucarístico, o pão da vida”, sustentou, acrescentando que na comunhão acontece o oposto do que ocorre com a ingestão de alimentos que se diluem no corpo de quem os come. “Com Jesus na Eucaristia acontece o contrário: ao comungá-lo e ao ser digerido em nós, somos nós que nos vamos tornando n’Ele. Esta experiência fê-la também São Carlo”, concretizou.

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O sacerdote disse também que, devido ao “seu amor profundo por Jesus na Eucaristia”, Carlo expressou entender o sacramento como a sua “autoestrada para o céu”. “Para um jovem que gostava de tecnologia e de viagens, a imagem de uma autoestrada indica sempre o caminho mais rápido e direto para chegar ao destino”, afirmou, explicando que “a Eucaristia para ele era uma antecipação do paraíso” que “procurava receber todos os dias”.

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“Acredito que a principal lição que São Carlo nos dá é a de que o centro da nossa fé é a Eucaristia porque a Eucaristia é o próprio Jesus vivo connosco”, acrescentou, realçando que “a espiritualidade eucarística não é algo reservado a místicos extraordinários”, mas “chamamento para cada cristão”. Neste sentido, destacou o “convite” de Acutis ao crescimento “no amor a esta espiritualidade eucarística” e exortou que se valorize a Missa dominical, “participando nela com mais fervor, entendendo que ali acontece o maior milagre do mundo”. “Cada Missa, mesmo a mais simples, tem um valor infinito porque nela o sacrifício de Cristo na cruz atualiza-se e os frutos são derramados no coração de cada um de nós”, desenvolveu, desafiando cada cristão a fazer da Eucaristia o seu “tesouro mais precioso”.

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O padre Nelson Rodrigues explicou ainda que a aquela exposição sobre os milagres eucarísticos procura “ajudar quem tem um coração mais incrédulo a perceber que realmente Jesus está presente na Eucaristia”. “Porque é que existem estes milagres? Por causa da nossa falta de fé. O Senhor respeita sempre a nossa liberdade. Ele coloca diante de nós as evidências, mas deixando margem até para a gente recusar”, justificou. 

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A título de exemplo, o orador destacou dois dos cerca de 136 dos principais milagres eucarísticos que integram a exposição, referindo-se concretamente ao de Lanciano (Itália), onde, “durante a Missa, a hóstia transformou-se em carne viva e o vinho em sangue” diante do incrédulo celebrante. “A carne é tecido muscular do coração humano, miocárdio, e o sangue é do tipo AB, o mesmo que consta no tecido do Santo Sudário de Turim. Após três séculos, não se corromperam sem conservantes. Os coágulos são de tamanhos diferentes e pesam todos exatamente o mesmo”, referiu o sacerdote, citando o relatório científico da ocorrência. O conferencista referiu-se ainda ao milagre ocorrido Portugal, concretamente em Santarém, em que outra hóstia consagrada, ao ser levada da igreja para fins de feitiçaria, começou a ensopar de sangue a roupa de quem praticou aquele ato. 

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Explicando o “amor que ele tinha a Nossa Senhora”, que o levou a organizar também uma outra exposição sobre as aparições marianas, o sacerdote contou que Carlo Acutis “rezava o terço todos os dias”,  “consagrou-se a Nossa Senhora e confiava-lhe todas as suas preocupações”. Para além disso, “também venerava os anjos, em especial São Miguel Arcanjo e o seu anjo da guarda” e defendia que “os santos não são para ser imitados”, mas devem servir de inspiração. “A amizade com os santos e o estudo da fé foram outro pilar da vida de São Carlo, um ponto notável, porque ele procurava mesmo aprender como é que os outros fizeram para ser santos”, referiu também o padre Nelson Rodrigues, informando que, para além da exposição dos milagres eucarísticos e da exposição mariana, São Carlo Acutis organizou ainda mais duas outras: uma sobre os santos e outra sobre anjos e demónios.

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O conferencista contou que o jovem italiano, ao perceber a “seriedade da doença”, reagiu a esse “maior desafio da sua vida” “com uma fé impressionante”. “Carlo já tinha manifestado o desejo de ser sepultado em Assis, cidade de São Francisco, por quem nutria um grande amor, e os seus pais atenderam ao seu pedido. A fama de santidade espalhou-se logo. Aliás, a presença dos pobres no seu funeral testemunhava essa santidade”, referiu ainda, explicando que “ninguém fazia ideia que a sua mesada estava a ser usada para comprar sacos cama e mantas” para os pobres. 

A conferência terminou com o convite à visita à exposição.