Neste início de ano de 2011, não faltam assuntos que possam ser objeto de análise nesta coluna de opinião pessoal. Aliás, o facto de estamos a viver um período de campanha eleitoral proporciona-nos um leque vastíssimo de temas. Assuntos, que vão desde o perplexamente fútil ao incrivelmente humorístico, deixando de fora, no entanto, os assuntos que poderiam entrar para a categoria dos verdadeiramente importantes!
Porém, apesar desta esterilidade dos assuntos abordados na campanha eleitoral para as presidenciais, gostaria aqui de dar um olhar especial sobre um episódio sucedido com o atual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na qualidade de candidato presidencial.
Cavaco Silva foi abordado, em Almada, por uma pobre mulher, como tantas outras que vagueiam desesperadas pelas nossas cidades. Só que esta mais corajosa e afoita dirigiu-se diretamente ao nosso Presidente da República. Confrontou-o com o facto de ter perdido o rendimento mínimo e de não poder trabalhar por motivos de saúde. Queixando-se, ainda de não ter dinheiro para alimentar o filho, mostrando-lhe de seguida sacos com coisas que disse ter recolhido do lixo.
Confrontado com esta situação, o nosso Chefe de Estado disse imediatamente à senhora:
– "Olhe, vá a uma instituição de solidariedade que não seja do Estado!"
Ups! Como?! O nosso Chefe de Estado assume perante uma senhora carenciada que o Estado, não só, não consegue resolver o seu problema, como a solução para o mesmo está numa instituição fora da esfera estatal?!
E para que não restasse duvidas, o nosso governante continua a afirmar, diante da revelação da senhora tem recorrido à Assistência Médica Internacional (AMI) para comer, e diante do olhar incrédulo dos jornalistas e dos populares que o acompanhavam o seguinte:
– "É o que eu estava a dizer. São essas instituições que, perante situações de pobreza e de privação, pessoas sem alimentação, estão neste momento a ajudar o nosso país. Instituições da Igreja, outras que são misericórdias, grupos de voluntariado, são esses que estão ainda a reduzir este nível de pobreza que alguns querem esconder, mas eu nunca esconderei! Erguerei sempre a minha voz!", respondeu-lhe Cavaco Silva.
Pois bem! Para uns, esta situação, é uma gafe eleitoral do nosso Chefe de Estado. Na minha opinião é constatação de alguém que está dentro do sistema e que se apercebe que esse mesmo sistema, do qual ele é chefe, não funciona!
A função e o objetivo do Estado de Direito é o Bem Comum dos seus cidadãos. Quando o Estado não zela, em primeiro lugar, por esse Bem Comum, precisa de ser repensado! O problema é quando muitos defendem que está tudo bem, e vai tudo mal!
Ainda bem que há instituições que, perante as situações de pobreza e de privação, pessoas sem alimentação, estão neste momento a ajudar o nosso país. Instituições da Igreja, grupos de voluntariado, etc. São, de facto esses que estão a responder à pobreza que alguns querem esconder! Mas o Estado tem que concretizar o Bem Comum de todos os cidadãos. Se não consegue, por ter implementado uma máquina burocrática impossível de funcionar, aumente o financiamento e não coloque obstáculos burocráticos às tais Instituições de Solidariedade. Pertencendo ou não à igreja, tais instituições estão fora da alçada do Estado, mas muitas vezes veem o seu trabalho dificultado pelo mesmo, quer pelo excesso de burocracia, quer pela dificuldade em conseguirem financiamento para ajudarem quem precisa. Porém, são essas instituições que primeiro ajudam quem está com fome e carenciado e só depois se preocupam em preencher os incontáveis formulários para saberem se a pessoa, em causa pode ter acesso a algum subsídio. A pessoa humana deve estar acima de tudo!
P.S. A partir deste número, esta coluna será escrita, na medida do possível, em português atual, ou seja, respeitando a nova ortografia.
O autor deste artigo escreveu-o ao abrigo do novo Acordo Ortográfico