A Ordem dos Médicos (OM) alertou ontem para a situação de “rutura” em que se encontra a cirurgia geral do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), o que pode afetar a realização de cirurgias de urgência.
“Neste momento, a especialidade de cirurgia geral, uma das especialidades básicas e fundamentais nos hospitais, encontra-se em rutura”, lê-se num comunicado do conselho distrital do Algarve da OM, ontem divulgado.
Segundo aquele organismo, na última semana, alguns turnos de 12 horas de urgência foram assegurados “apenas por um especialista”, o que pode colocar em causa as cirurgias de urgência ou obrigar à transferência de doentes para outros hospitais.
A OM acusa ainda o Conselho de Administração do CHA de “completa incapacidade” e “inaptidão” para resolver o problema, que diz arrastar-se há dois anos e que terá começado com a perda de idoneidade formativa em cirurgia na unidade de Faro.
Acrescenta que, “graças ao espírito de sacrifício” dos médicos, ainda não houve doentes a serem transferidos para outros hospitais para a realização de cirurgias.
A OM observa ainda que um dos serviços da cirurgia está há dois anos sem diretor, o que tem agravado a estabilidade daquele serviço e contribuiu para o atual estado de rutura da cirurgia geral, problema que é “muito urgente” resolver.
Aquele organismo lamenta também que não se tenha conseguido fixar os jovens especialistas formados anteriormente, quando havia idoneidade formativa, que se têm ido embora para outros hospitais por terem que trabalhar quase exclusivamente para a Urgência.
O CHA admitiu já hoje “constrangimentos” na urgência da Cirurgia Geral, que justificou com o facto de três médicos do serviço se terem recusado a fazer trabalho extraordinário e de um outro ter pedido rescisão de contrato.
Em comunicado, a administração do CHA acusou aquela estrutura de utilizar “situações pontuais”, que acontecem quando há “carências de recursos humanos” para “jogos de natureza política”, defendendo que os profissionais de saúde dos três hospitais algarvios têm assegurado “de forma exemplar” a assistência aos utentes, no “intenso período de verão que sobrecarregou a região”.
“A informação agora divulgada pela OM resultou de uma situação pontual relacionada com o facto de três médicos do serviço terem optado por não efetuar trabalho extraordinário e um outro médico ter solicitado rescisão de contrato, factos esses que naturalmente causaram constrangimentos nas equipas de urgência em que os mesmos se encontravam integrados”, lê-se no comunicado.
A situação, acrescenta o CHA, foi “prontamente resolvida” através do apoio de dois médicos-cirurgiões da unidade de Portimão, que reforçaram as equipas de urgência de Cirurgia Geral de Faro, uma resposta “só possível pela articulação entre as três unidades hospitalares que integram o Centro Hospitalar do Algarve”.
A administração do CHA refutou ainda as acusações da Ordem dos Médicos de incapacidade para fixar profissionais, argumentando que as dificuldades inerentes à captação e fixação de médicos no Algarve “são uma das grandes preocupações” da administração.
Segundo o CHA, é “imperioso” haver uma discriminação positiva para o Algarve no que respeita a incentivos para a fixação de médicos, o que já está a ser concretizado para as especialidades de Ortopedia, Pediatria e Medicina Interna.
com Lusa