Padre Miguel Neto
Padre Miguel Neto

Estes últimos dias têm sido de consternação e tristeza para todos os que acreditam na paz, na liberdade, na justiça, na segurança…

Paris e os atendados que mataram mais de uma centena de pessoas e deixaram feridas cerca de trezentas outras foram o clique que muitos precisaram para perceber o que se está a passar neste mundo.

Quando em França os terroristas executavam os sete ataques que deixaram um rasto de morte, em Beirute, a mesma organização fazia outras centenas de mortos e feridos, sempre em nome da dignidade, dizem, da sua religião e do seu Profeta…

Também no Quénia uma cidade era tomada pelos extremistas, ligados à mesma organização, sendo mortas nem se sabe bem quantas pessoas e ficando limitadas em tudo, todas as que ali residem…

Dias antes, circulava a notícia do fuzilamento de mais de 200 crianças, também em nome da dignidade e da fé professada por essa organização…

E na Síria e no Iraque, quantos já perderam a vida, por discordarem, por não acreditarem no mesmo?!…

Diariamente os relatos são mais que muitos.

As vozes que se levantam e apontam a manipulação dos media, subjugados a interesses económicos fortes e a agendas marcadas pela conveniência do momento, não podem, ainda assim, contrariar a verdade e a dimensão destes factos e destes números. E todos sabemos que há quem vende armas, quem toma partido, quem fomenta os conflitos.

Nada justifica a violência. Nada. Dizia o Papa Francisco a propósito, pouco depois de saber que em Paris tinha ocorrido uma enorme tragédia: «Não há justificação, nem religiosa nem humana. Isto não é humano». E no Angelus de domingo, clarificava, para não deixar margem para dúvidas: «Diante de tais atos, não se pode deixar de condenar a inqualificável afronta à dignidade da pessoa humana. Quero reafirmar com veemência que o caminho da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade e que utilizar o nome de Deus para justificar esse caminho é uma blasfémia!»

A história, também amarga para os cristãos, que já foram os perseguidores, revela aquilo que acreditamos ser a verdadeira vocação humana: viver em paz e tolerância, respeitando tudo e todos, porque o ódio e a guerra só trazem destruição e amargura, pobreza e doença, só trazem aquilo que de pior pode acontecer: deixarmos de olhar para os outros com o olhar da misericórdia e da fraternidade, quer sejamos opressores, quer sejamos vítimas, espoliadas de toda a dignidade.

Quem é crente só o pode ser se, definitivamente, colocar o seu coração ao serviço dos outros, ou não estará a professar a sua fé, qualquer que ela seja, pois não há religião – que o seja verdadeiramente – que possa promover a desumanidade e a desumanização.

Acreditar é, pois, construir, edificar, fazer florescer, é deixar que todos possam sorrir e pensar e cantar, porque acreditar é saber que Deus vela pelos homens e que aos homens cabe zelar pelo mundo e pelos irmãos.

Essa tem de ser sempre a nossa agenda!

A todos os que sofrem e a quem as bombas deste mundo causaram mágoas profundas, deixo o meu coração de homem que chora, mas que sabe que somos capazes de melhor, de muito melhor.

Pe. Miguel Neto