Antes de iniciar a minha crónica de opinião, necessito de fazer uma declaração de interesses. Sou completamente apartidário, e é me totalmente indiferente qual a força partidária que me governe, desde que ela respeite os direitos fundamentais do ser humano, da liberdade e da democracia.

Depois de uma longa campanha eleitoral em que muitas vezes se falou de tudo, menos daquilo que nós, portugueses, mais desejávamos, ou seja, quais as soluções que são necessárias para que Portugal saía desta crise imensa, gostaria, neste meu espaço quinzenal, apresentar um tópico de reflexão que me ficou da noite eleitoral.

José Sócrates teve a atitude que se espera de um líder político numa noite de autêntico desastre eleitoral: Demitiu-se! Porém, antes da sua retirada, ainda teve oportunidade de mostrar a sua face mais negra em relação àqueles que lhe colocam questões que o incomodam. Depois do seu discurso, durante o diálogo com os jornalistas, o nosso ainda primeiro-ministro, reagiu muito mal, juntamente com todos os seus apoiantes que se encontravam no Hotel Altis, a uma pergunta de uma jornalista da Rádio Renascença, sobre a possibilidade de haver novos processos judiciais em que o nome de José Sócrates é falado, ou novos dados sobre os processos judiciais em curso. De imediato a sala vaiou a referida jornalista, e o Sr. José Sócrates mostrou a sua cara de admiração ao país, quase não acreditando na pergunta que lhe era dirigida, limitando-se, depois de ter acalmado a sala, a responder de uma forma genérica e superficial a uma pergunta inteligente de uma jornalista credível. O governo de José Sócrates foi o governo com mais problemas com os jornalistas e com a comunicação social no período pós 25 de Abril. Nos últimos 30 anos nunca houve um governo que colocou tantos processos por difamação a profissionais da comunicação social. Há que acrescentar que a maioria dos processos por difamação foi ganha por esses profissionais em detrimento do governo de José Sócrates. Fica claro que José Sócrates lida muito mal com o contraditório e com as questões da verdade e da justiça até no momento da sua despedida. "Quem não deve, não teme. José Sócrates se teme e foge é porque se calhar deve e tem receio.

Aliás, para terminar, gostaria apenas de apresentar um pequeno detalhe que me fez refletir. A mesma rádio, onde a referida jornalista trabalha, a Rádio Renascença (que por acaso completa este ano 75 anos, sendo por isso mais velha que o Partido Socialista e que o Sr. José Sócrates), é a rádio com mais audiência geral em Portugal, sendo por isso a Rádio mais ouvida no nosso país. No entanto, e apesar de assim ter a possibilidade de ser escutado pela maior parte dos portugueses, o Sr. José Sócrates, ao contrário dos seus adversários políticos diretos, não quis dar uma entrevista à Rádio Renascença a propósito desta campanha eleitoral. Não sei o motivo que o levou a negar essa entrevista, espero, no entanto, que o motivo que o tivesse levado a negar uma entrevista à Rádio mais ouvida em Portugal não fosse o medo das perguntas do entrevistador ou da entrevistadora. O medo é algo que fica mal a político, sobretudo quando ele é primeiro-ministro.

Miguel Neto