O título deste apontamento parece, à primeira vista, uma antinomia, mas não o é, como podemos facilmente verificar se observarmos o que é ser livre e ao mesmo tempo comprometido do ponto de vista cristão.

De facto, quem existe aí mais livre do que o cristão comprometido, e quanto mais comprometido mais livre?!

Mas, nada de confusões, pois, antes de mais, convém ter presente que o conceito de liberdade anda por aí muito abastardado…

Ser livre não é poder fazer tudo o que se quer, tudo o que vem à mente de cada um, não, ser livre é escolher o bem, é praticar o que é recto e justo, sempre e em todas as circunstâncias.

É que muita gente confunde liberdade com libertinagem.

A liberdade é, no fim de contas, responsabilidade. E o verdadeiro cristão deve ser o homem mais responsável não só do ponto de vista meramente humano, como do ponto de vista espiritual e sobrenatural.

Daí que o comprometimento do cristão abranja toda a sua actividade quer individual, quer colectiva.

Daí também que o cristão se comprometa e se empenhe, ao mesmo tempo e com igual esforço, tanto com a construção da cidade terrena como com a construção do Reino Eterno que, no fim de contas, já começa aqui, neste mundo.

Por isso, não é de estranhar que vejamos cristãos conscientes inteiramente entregues aos mais diferentes misteres, com responsabilidades assumidas perante a comunidade a que pertencem.

Assim, aí os vemos na Comunicação Social procurando cumprir e seguir, com denodo e até como missão, os ensinamentos e as directrizes da Igreja expressos nos vários documentos emanados da Santa Sé e do Romano Pontífice.
Aí os vemos, a colaborarem de alma e coração, neste ou naquele movimento de apostolado, de acção social e humanitário…

Aí os vemos entregues ao ideal de anunciadores da Boa Nova através da palavra e, sobretudo, do exemplo.

Aí os vemos no campo da política a tecer armas por causas justas e a ser voz dos que não têm…

Aí os vemos a denunciar, sem ódio assim, mas também sem medo, os desmandos, as corrupções, e todas as opressões do poder…

Aí os vemos, no silêncio dos templos, a orar por todos os irmãos necessitados mas, sobretudo, pelos que mais sofrem perseguições, fome e toda a espécie de injustiças de uma sociedade egoísta e hedonista como é esta nossa!…

Em todas as linhas, desde a vanguarda à retaguarda eles aí estão com os olhos postos no ideal que perseguem e que muitos teimam em combater de todas as formas e feitios…

Porém, todos estes cristãos comprometidos sabem muito bem o que querem e para onde caminham.
É certo que, como não podia deixar de ser, terão que sofrer pressões, incompreensões e dissabores de toda a ordem, mas, por outro lado, sabem que estão na Verdade e que a sua luta ultrapassa sempre as lutas mesquinhas que terminam apenas no domínio, no poder terreno.

Sim, o cristão consciente que se compromete nesta ou naquela actividades, incluindo, como não podia deixar de ser, a política e o poder, não pelo mesmo poder, não para favorecer os seus amigos, os seus correligionários, mas para levar por diante e estabelecer a justiça social que, em suma, é o estabelecimento do Bem Comum.

Daí que, em corolário, possamos concluir o seguinte:

O cristão é um homem inteiramente comprometido com todas as causas de injustiças, de opressão com todos os deserdados da fortuna, numa palavra, com todos os que sofrem dos males do corpo ou, da alma.

Enfim, o cristão é, em síntese, um homem duplamente e radicalmente comprometido com o Reino de Deus, sem dúvida, que começa aqui, neste mundo e, por isso mesmo, com a construção da cidade terrena.

Joaquim Mendes Marques

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico