Foto © Samuel Mendonça

A partir da constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, saída do Concílio Vaticano II, o padre Carlos de Aquino explicou as quatro motivações que levam a Igreja Católica a venerar a Maria, mãe de Jesus.

“Porque é mãe de Deus”, “porque está intimamente unida à obra de salvação do Filho”, “porque em Maria se admira e exalta o fruto mais excelso da vida”e “porque nela se contempla (…) tudo quanto a Igreja deseja e espera ser”, justificou o sacerdote na jornada teológico-pastoral que a Diocese do Algarve promoveu no passado sábado, através do seu Centro de Estudos e Formação de Leigos do Algarve (CEFLA).

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Naquela segunda jornada teológico-pastoral, que teve lugar no Centro Pastoral de Pêra sob o tema “Maria, Mãe e Discípula” com a participação de cerca de 200 pessoas de todo o Algarve, o orador, encarregue da dimensão litúrgica daquela iniciativa de formação, que abordou o tema “A Virgem Santa Maria na liturgia da Igreja”, sublinhou que se trata de venerar e não de adorar e lamentou que haja cristãos que não o façam. Neste sentido, criticou quem “adora tanto Nossa Senhora” que se esquece de Jesus ou quem pensa que há devoções marianas mais importantes do que outras.

O padre Carlos de Aquino destacou assim que “a Igreja faz memória de Maria na celebração do ciclo dos mistérios de Cristo e sempre em íntima relação com eles”. “As festas solenes ou as memórias da Virgem e mesmo dos santos recebem luz e significado em Cristo. As festas em honra da Virgem, por isso mesmo, não são um ciclo paralelo ao dia das festas do Senhor, nem podem adquirir um maior significado que este”, sustentou.

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O sacerdote lembrou que o culto à Virgem surgiu na Igreja antiga. “Sabemos de algumas manifestações do culto mariano em Roma nos alvores do II século”, afirmou, acrescentando que “só no século V surgem as primeiras festas em honra de Nossa Senhora para o Ocidente”. “Foi sobretudo a partir da declaração de Éfeso (431), onde Maria é proclamada como a mãe de Deus, que se deu também o marco decisivo no culto à Virgem, sempre associada a Cristo, que o Segundo Concílio do Vaticano confirmou, particularmente no capítulo VIII da constituição Lumen Gentium”, completou.

O orador explicou que a“primeira e mais importante orientação” da reforma conciliar a respeito do culto à Virgem foi a de se “enquadrar essa veneração na celebração do mistério de Cristo, na sua relação estreita com a liturgia”. Neste sentido, disse que o critério reformista foi “respeitar a centralidade da Páscoa e conservar a unidade de todo ano em torno das celebrações dos mistérios de Cristo”, procurando “aproximar as festas mais unidas” a eles e tornando-as “mais fiéis ao percurso bíblico, àquilo que a própria Escritura revela sobre a vida e a missão de Nossa Senhora”.

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O sacerdote lembrou que se conservaram as “grandes solenidades” dedicadas a Maria – a Imaculada Conceição e a Assunção – e se introduziu a 1 de janeiro uma outra – Santa Maria, Mãe de Deus –, recuperada de uma antiga celebração que era celebrada a 11 de outubro. “A solenidade da Anunciação do Senhor, a 25 de março, foi elevada à categoria de festa do Senhor e não da Virgem. A antiga festa da Purificação, ainda hoje assim intitulada, a 2 de fevereiro, chama-se agora Apresentação do Senhor e a Festa da Visitação de 2 de julho, passou para 31 de maio, mais enquadrada porque é colocada entre a Anunciação (25 março) e o Nascimento de João Batista (24 de junho)”, acrescentou.

O padre Carlos de Aquino exortou ainda à valorização de solenidades e festas de Nossa Senhora para celebrar “valores constantes, e por isso mesmo fundamentais”, ao longo da história da Igreja, associados a Maria como o da “maternidade divina” ou o da Virgem como “figura e mãe da Igreja, a primeira discípula” ou ainda caraterísticas como a “Nova Mulher” ou a “Associada do Redentor”. O sacerdote considerou serem “afirmações muito bonitas que poderiam servir para celebrações comunitárias eclesiais sobre a Virgem”, destacando-as como “propostas para valorizar a figura de Maria” nas comunidades e “temáticas que poderiam servir para se construírem celebrações que antigamente à reforma conciliar eram chamadas paraliturgias (celebrações da palavra) sobre Nossa Senhora”.

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“Nas solenidades e festas devíamos valorizar muito a Virgem porque é onde se comemora eventos salvíficos em que Maria é protagonista estreitamente associada ao Filho Jesus: o mistério da encarnação e redenção. E estas solenidades e festas têm muito mais valor do que outras memórias ou outras celebrações a que chamamos festa, mas que não estão propostas pelo calendário da Igreja”, justificou, lembrando que o Advento e Natal é o “grande tempo litúrgico de Nossa Senhora”.

Neste sentido apelou, sobretudo, à valorização das festas e solenidades da Imaculada Conceição (8 de dezembro), de Santa Maria, mãe de Deus (1 de janeiro), da Natividade da Virgem (8 de setembro) e Nossa Senhora de Fátima (13 de maio). Quanto às memórias, das obrigatórias destacou a de Nossa Senhora das Dores (15 de setembro) e a de Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro) e, das facultativas, a do Imaculado Coração de Maria e a de Nossa Senhora do Carmo (16 de julho).

A terminar, destacou ainda que a presença da mãe de Deus na oração e na liturgia da Igreja manifesta-se também em diversas orações como o Credo, o Ato Penitencial da confissão, a Liturgia das Horas ou o Angelus, bem como nas orações eucarísticas e nos prefácios, sobretudo nos quatro a ela dedicados, e lembrou o missal e o lecionário com 46 títulos sobre Nossa Senhora organizados para a valorização do sábado como dia também dedicado à Virgem, o diretório da piedade popular com propostas de tríduos, septenários ou novenas, as orações do Angelus Domini, Regina Celi, rosário ou terço, tendo também desafiado à realização de Lectio Divina a partir de textos sobre Nossa Senhora ou de consagrações feitas no contexto de festas.

O orador, que iniciou a sua intervenção com uma oração tirada de uma coleta, oração inicial da missa comum de Nossa Senhora no tempo do Natal, concluiu com a recitação do prefácio de Nossa Senhora da oração eucarística V.

Conferência do padre Carlos de Aquino:

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