Foto © Samuel Mendonça

Considerando que a “instituição do matrimónio” “está a enfrentar uma situação muito delicada”, o casal Nuno e Catarina Fortes, da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, desafiaram as famílias católicas algarvias à “responsabilidade fundamental” de “transformar a sociedade”.

“Temos um papel fundamental a trazer a esperança de Cristo, esta verdadeira alegria do amor que é a entrega absoluta, fiel e indissolúvel de um para com o outro, em que um e o outro se aceitam total e absolutamente na realidade do matrimónio como Cristo se entregou pela Igreja. Não podemos ter medo de o propor, pois isto vai ao encontro daquilo que é a necessidade mais profunda e mais íntima de toda e qualquer pessoa”, afirmou Nuno Fortes na ação de formação que a Diocese do Algarve, através do seu Sector da Pastoral Familiar, começou a promover para constituir agentes da pastoral familiar nas paróquias algarvias.

Lembrando que a Pastoral Familiar se faz “em primeiro lugar em família”, os formadores alertaram que “se a experiência de fé não for uma experiência comum, vivida e aprofundada no seio das famílias, vai-se perdendo”. “Daí a importância de trabalhar, cada vez mais, em famílias. Que seja a base de dinâmicas da nossa pastoral pelo efeito que tem na vivência na sociedade”, defenderam, sublinhando ser “fundamental” para a evangelização “a família ser agente evangelizador da própria família”. “Este princípio tem de ser transversal na nossa ação pastoral: promover que as famílias sejam famílias e sejam agentes de evangelização enquanto famílias”, reforçaram.

O casal, que começou por se referir ao “desígnio de Deus sobre o matrimónio e sobre a família”, destacou não só a “vocação para o amor” à qual todos são chamados, mas a “complementaridade” da “comunhão de amor entre o homem e a mulher” no desenvolvimento do “plano criador” “através da procriação”. “Temos de começar por esta proposta de vida plena que é viver o amor, para, a partir daqui, ir ao encontro de cada uma das situações particulares”, afirmaram no encontro que teve lugar na igreja de São Pedro do Mar, em Quarteira, no passado dia 25 de fevereiro com a participação de 58 pessoas.

Os oradores evidenciaram o matrimónio como sacramento, sublinhando que o mesmo “é a ação de Cristo na vida do casal, através da ação do Espírito Santo”. “O matrimónio é uma aliança de amor e de fidelidade, constituído à imagem da sua própria união [de Cristo] com a Igreja”, afirmaram, citando a Gaudium et Spes (uma das quatro constituições saídas do Concílio Vaticano II) e sublinhando “a fidelidade, a indissolubilidade e a fecundidade” como as caraterísticas fundamentais do sacramento, as mesmas que “traduzem aquilo que é a relação de Cristo com a Igreja”.

Foto © Samuel Mendonça

O casal defendeu que a “proposta de pastoral familiar” deve “ter presente toda a família”. “A oportunidade de estarmos juntos é algo de que, muitas vezes, nos esquecemos na ação pastoral que, tantas vezes, é desagregadora da própria família”, lamentaram, propondo a criação de redes de apoio, constituídas por técnicos vários, e de estruturas de pastoral familiar que “sejam um sinal e uma resposta social às questões concretas com que as famílias se deparam”.

Neste sentido apelaram também à criação de “uma verdadeira pastoral do acolhimento”, tendo como finalidade “integrar as pessoas para que elas sintam que estão a fazer caminho e se sintam participantes”. Neste contexto, deram como exemplo o acolhimento e acompanhamento de jovens casais e de pessoas separadas, recasadas ou em uniões de facto. Por outro lado, destacaram a “pastoral familiar na celebração dos sacramentos” que consideraram uma “porta de entrada na Igreja”. “Os sacramentos são momentos fundamentais para acolher aqueles que nos procuram. Temos a missão de lhes apresentar Cristo. Que seja um espaço, não apenas de preparação para o sacramento, mas um espaço de encontro com Cristo”, exortaram.

Complementarmente frisaram a importância da espiritualidade conjugal e da educação cristã para a família, na qual se insere a criação de encontros preventivos de divórcios, desafiaram à criação de catequese familiar e intergeracional e à introdução ou valorização no calendário litúrgico de propostas de celebração doméstica e comunitária como orações ou as celebrações para grávidas, bebés, jubileus matrimoniais, aniversários batismais, dia dos avós, dia da mãe, dia do pai, dia da Sagrada Família.

A segunda parte da formação, que terá lugar no mesmo local no próximo sábado, continuará a reflexão sobre os critérios de ação na pastoral da família, evidenciando também o que é que o magistério da Igreja tem dito sobre a família, com um especial destaque para a transformação ocorrida a partir do Concílio Vaticano II. “O magistério da Igreja sobre a Família”, “A situação atual da família”, “Problemáticas da família no mundo contemporâneo” e “Critérios teológicos e programação pastoral” serão os temas a abordar no segundo módulo.