Foto © Nuno Fox/Lusa

O Presidente da República quis receber ontem a imprensa portuguesa centenária para lhe prestar homenagem pelo contributo que tem dado para o exercício da liberdade no país.

“A minha primeira palavra é uma palavra de homenagem, homenagem à imprensa portuguesa, o que faz todo o sentido no Dia da Liberdade homenagear o exercício de uma liberdade fundamental inscrita na Constituição, mas inscrita, sobretudo, na vivência cívica nacional. Não haveria essa liberdade se não existissem as instituições que vossas excelências representam”, começou por destacar o Chefe de Estado, considerando que “uma coisa é a liberdade em abstrato, consagrada na Constituição, e outra coisa é essa liberdade vivida todos os dias com grandes sacrifícios, com uma dificuldade crescente”.

Na cerimónia, realizada às 15h na Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém, em Lisboa, onde estiveram presentes representantes dos órgãos de comunicação social de todo o país que se publicam ininterruptamente há mais de cem anos, membros da Associação Portuguesa de Imprensa e da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu institucionalmente às publicações centenárias pelo “«milagre» que é recriar a imprensa em Portugal”. “É com muita alegria que vos recebo para vos testemunhar o que já não é apenas uma gratidão pessoal, é uma gratidão institucional. É o Presidente da República que vos agradece em nome de todos os portugueses”, afirmou.

Garantindo conhecer “bem” o setor da imprensa, referiu-se às suas “vicissitudes” que disse acompanhar, particularmente no que se refere à “sobrevivência económica e financeira” dos órgãos de comunicação social. “Sei bem como é difícil a produção, como é muito difícil a distribuição, como é um problema cada vez mais grave a publicidade. E, por isso, a minha segunda palavra, se a primeira é de homenagem, é de preocupação. Homenageio a vossa coragem, determinação e persistência, mas estou seriamente preocupado com o panorama da imprensa em Portugal”, referiu.

Salientando não faltar “liberdade”, “criatividade”, nem “determinação” na imprensa, considerou que “as condições objetivas, nomeadamente económicas e financeiras, são cada vez mais limitativas”. “E são-no nas publicações em papel e na sua versão eletrónica”, acrescentou, lamentando o “peso esmagador da publicidade de grandes empresas multinacionais no que respeita à imprensa eletrónica”. “Estamos a falar de 80% ou mais da publicidade detida por um número muito limitado de empresas multinacionais. Isso, a prazo muito curto, constitui um problema. Sei que o Governo está atento a esse problema, que impõe [a necessidade] medidas que permitam ir ao encontro das vossas aspirações e das vossas necessidades”, referiu.

Foto © Presidência da República

O Presidente da República destacou ainda o significado da condecoração que atribuiu à Associação Portuguesa de Imprensa com o título de membro honorário da Ordem do Mérito e comprometeu-se em galardoar os títulos centenários que ontem estiveram em Belém. “Não sendo possível, na mesma cerimónia, galardoar todas as vossas instituições – isso será feito, paulatinamente, ao longo dos próximos meses e anos – havia que, simbolicamente, agraciar o vosso mérito, a vossa tenacidade, a vossa resistência. Nada melhor do que condecorar a associação. E por isso a condecoração à Associação Portuguesa de Imprensa é uma condecoração a todos vós”, explicou.

Esta receção pelo Chefe de Estado insere-se no âmbito da intensão de reconhecimento da imprensa centenária portuguesa como Património Cultural Imaterial e partiu da Associação Portuguesa de Imprensa (API), a instituição representativa da imprensa de Portugal.

Conforme explicou o presidente da API, João Palmeiro, no almoço que precedeu a cerimónia no Palácio de Belém, aquela entidade pretende apresentar uma candidatura à UNESCO para reconhecimento da imprensa centenária portuguesa como Património Cultural Imaterial da Humanidade, o que deverá acontecer até julho deste ano. Participou também na receção presidencial o diretor geral da Global Editors Network, Bertrand Pecquerie.

O jornal Folha do Domingo, o mais antigo órgão de comunicação social em publicação no Algarve, cujo centenário foi celebrado nos dias 18 e 19 de julho de 2014, foi o único da região a estar presente neste reconhecimento.

Os restantes órgãos foram o ‘Açoriano Oriental’ (Ponta Delgada, 1835), ‘A Aurora do Lima’ (Viana do Castelo, 1855), ‘Diário de Notícias’ (Lisboa, 1864), ‘Diário de Notícias da Madeira’ (Funchal, 1876), ‘Soberania do Povo’ (Águeda, 1878), ‘O Penafidelense’ (Penafiel, 1879), ‘A Voz do Operário’ (Lisboa, 1879), ‘Jornal de Santo Thyrso’ (Santo Tirso, 1882), ‘O Jornal de Estarreja’ (Estarreja, 1883), ‘Jornal de Abrantes’ (Abrantes, 1884), ‘Maria da Fonte’ (Póvoa de Lanhoso, 1886), ‘Jornal de Notícias’ (Porto, 1888), ‘Correio do Ribatejo’ (Santarém, 1891), ‘Correio da Feira’ (Vila da Feira, 1897), ‘A Comarca de Arganil’ (Arganil, 1901), ‘O Concelho de Estarreja’ (Estarreja, 1901), ‘Boletim Salesiano’ (Lisboa, 1902), ‘A Guarda’ (Guarda, 1904), ‘Folha de Tondela’ (Tondela, 1906), ‘Cardeal Saraiva’ (Ponte de Lima, 1910), ‘Notícias da Covilhã’ (Covilhã, 1913), ‘A Ordem’ (Porto, 1913), ‘Notícias de Gouveia’ (Gouveia, 1914), ‘João Semana’ (Ovar, 1914), ‘O Amigo do Povo’ (Coimbra, 1916) e ‘O Despertar’ (Coimbra, 1917).

Do grupo de centenários fazem ainda parte o ‘Diário dos Açores’ (Ponta Delgada, 1870), o ‘Mensageiro do Coração de Jesus’ (Braga, 1874), ‘O Comércio de Guimarães’ (Guimarães, 1884) a ‘A Crença’ (Vila Franca do Campo – Açores, 1915).

Recorde-se que foi a 19 de julho de 1914, sob o impulso do então cónego Marcelino Maria Franco (que mais tarde viria a ser bispo do Algarve) com o apoio do bispo do Algarve da altura, D. António Barbosa Leão, que nascia o jornal Folha do Domingo, órgão de comunicação da Diocese do Algarve.