Padre Miguel Neto

A semana foi agitada pelas notícias políticas. Mesmo em tempo de verão, com muitos a irem a banhos, a agitação fez-se sentir e gerou longos textos, horas de debate televisivo, hordas de comentário politico….

Na verdade, a mim não me ocupou muito tempo, mais do que o necessário, creio, já que não sou daqueles que se alheia da política, nem tão pouco considero que essa seja uma atividade sem interesse e sem aplicação prática. Pelo contrário. Julgo, mesmo, que se todos fossemos mais atentos, a política seria algo mais… saudável e mais bem visto por todos. Mas as particulares circunstâncias desta semana – demissões e trocas governamentais – não me ocuparam muito tempo, porque creio que resultam de verdadeiras tonterias, de brincadeiras de gente grande que ainda se julga em tempo de infância e juventude, em que tudo é permitido e aceite.

Ir à bola sempre foi um passatempo meu e quem me conhece desde a infância certamente já me viu no estádio do Olhanense – o meu clube do coração -, assistindo a inúmeros desafios desta modalidade. Gostaria, em muitos momentos, de ir ver outros jogos, os grandes, como os da selecção nacional, mas naturalmente não me possível, quer por razões monetárias, quer pela escassez de tempo que existe neste momento na minha vida de presbítero. Já os nossos governantes, não têm qualquer problema em deslocar-se para esses eventos e, como todos pudemos perceber, com despesa paga… E não há, nem nunca haverá almoços grátis! Não me importa se foram privados ou públicos a custear tais viagens. Não me importa se esta é uma prática socialmente aceite e regular. O que me importa, enquanto cidadão, é que quem tem responsabilidades politicas se esforce por cumprir a lei! Ela existe por alguma razão e se nestes casos não há problema em passar por cima dela, fico sempre, como diz o povo, com “a pulga atrás da orelha”: noutros casos, quem sabe com graus de gravidade muito superiores, a facilidade em ignorar o que diz a lei será igual! Está em causa o princípio, o ato em si de desrespeito e não a situação particular da ida à bola, encarada como algo banal e inofensivo. Quem aceita prendas de 100 euros, também pode aceitar de 1000 e continuar a ser imparcial e justo, mas a janela fica aberta para que a dúvida, na hora de tomar uma decisão importante, surja e se revele tentadora…

Os servidores públicos deveriam aceitar os cargos que lhes são confiados como cargos de serviço e somente isso. Porque era isso que os políticos deveriam ser: servidores públicos. Poderiam até ser melhor pagos. Mas seria tudo transparente. Se assim fosse, teríamos, com certeza, uma classe política mais respeitada, com uma capacidade de liderança muito maior e com um grau de eficiência altamente superior, até porque só seriam chamados os que são verdadeiramente competentes e capazes. E acabar-se-iam as trocas e baldrocas e os embaraços.