
Fizz, Lex, Marquês, Monte Branco, Fenix, Furação, Remédio Santo, Labirinto, Zeus, etc…. Podiam ser nomes de vinhos, de livros ou até de filmes, mas não! Estes nomes fazem parte da imensa lista de operações de investigação levadas a cabo pelo Ministério Público nos últimos cinco anos.
Primeiro, há que louvar a imaginação de que quem atribui os nomes de código. Não sei quem é, mas se precisar de ajuda, eu estou disponível para colaborar, pois joguei muitos jogos de computador e nomes não vão faltar certamente!
Segundo, há que questionar o porquê de tanta investigação e descoberta de corrupção, branqueamento de capitais e tráfico de influências nestes últimos anos. Será que Portugal se tornou um país de corruptos, à imagem do Brasil ou de alguns países africanos ou da América Central e do Sul? Esperem! Fomos nós que colonizamos o Brasil e diversos países africanos. Então, será melhor não ir por aí!
Pensando de outra forma: será que a corrupção e o crime de capitais aumentou ainda mais em Portugal? Ou será, simplesmente, porque a nossa sociedade se tornou mais transparente e a Procuradoria-Geral da República investiga com mais isenção e liberdade desde a saída do Sr. Dr. Pinto Monteiro?
Eu voto claramente nesta terceira hipótese. A sociedade em rede e a era digital tornou o mundo mais transparente e, por consequência, as nossas vidas mais transparentes. Torna-se cada vez mais difícil, nesta era digital, neste mundo em rede esconder seja o que for das autoridades e dos cidadãos. O rasto que deixamos por onde passamos e do que fazemos é cada vez mais percetível. E, por isso, nós próprios temos uma cultura cada vez maior de absoluta transparência na nossa vida e exigimos mais transparência na vida dos outros. Sobretudo, na daqueles que deviam ser exemplo para nós. Esta maior visibilidade resulta no facto de o escrutínio sobre o poder ser cada vez maior. A nossa informação sobre esse poder também aumenta a cada passo.
Por outro lado, é de inegável valor o trabalho da atual Procuradora-geral da República, por oposição ao seu antecessor. Estou convencido que agora não há mais corrupção, branqueamento de capitais ou tráfico de influências que não seja passível de ser investigado e detetado! O que há é mais investigação, exigência e sobretudo transparência e a procura dela por parte de quem exerce a função de fiscalização. Para mim, esta visibilidade dos processos e atos de corrupção não é motivo de preocupação, mas de contentamento pela investigação e separação absoluta de poderes. A Lista da Joana é uma lista que revela trabalho e empenho, mas que revela, sobretudo, respeito pela Justiça, que para além de cega, cada ve estava mais mutilada e esfarrapada.
O triste, mesmo, é que já todos sabemos – a começar por Joana Marques Vidal – que a sua passagem pela Procuradoria tem os dias contados. Dizem que por vontade própria, mas o que ficou bem vincado foi a vontade alheia, a do Governo, que, essa sim, me preocupa, pois não sei se revela preocupação pelo cansaço e esforço da Procuradora, ou se revela preocupação pela exposição, sorte (ou falta dela…), incompetência ou somente falta de honestidade de muitos membros da classe política, vários, como sabemos, ligados ao partido do Governo.
Fica outra sugestão: que os cognomes, outrora marcantes das vidas e histórias dos nossos reis, não sejam, no presente, somente nomes de operações de investigação. Que possam alargar-se a quem investiga, para que um dia também aqueles cujo sentido de justiça fica para a história, sejam facilmente relembrados. Como “joana, sem medo”, quem sabe…