Padre Miguel Neto

Gosto de tentar analisar o ser humano a partir de fora. Sobretudo, nós, que nos dizemos seres racionais, estamos cheios de irracionalidade. E o que me tem encantado nesta análise, nos últimos tempos, é encontrar permanentemente a busca da efémera e vã glória humana por todos os meios e formas.

Comecemos pela busca da glória humana à custa de um falso currículo ou grau académico. Nos últimos tempos, temos assistido, em demasia, a casos de políticos e outros agentes sociais a alegadamente acrescentarem, de forma indevida, ligações académicas ou graus académicos em várias universidades aos seus curricula. Outrora foram assessores do governo; recentemente um foi um alto dirigente partidário; há uns anos atrás já tínhamos assistido a uma licenciatura de um ministro e até ao episódio de um antigo primeiro-ministro, cujo um importante exame terá ocorrido a um domingo… Enfim, todos à procura da glória humana, afirmando possuir conhecimentos que não têm.

Quem mente numa licenciatura ou noutro trabalho académico não gosta de estudar nada e acha que o sucesso é fruto do acaso ou do “chicoespertismo”, não valorizando aqueles que estudam, trabalham, enfim, lutam por serem competentes e profissionais na sua vida e por porem a render os talentos/dons que Deus lhes Deus em prol dos outros, pois quem aprende e usa o que aprende é isso que faz. E felizmente que há muitos.

Mas também há quem procure a glória através da efémera fama proporcionada pelos “media”. Aí temos gente que se fecha para quem os rodeia, mas mostra a todo o mundo os seus mais negros segredos e pobrezas. Gente que supostamente se deixa hipnotizar a um domingo à noite para fazer os outros rir, num qualquer programa de TV onde tudo se expõe a troco de cinco minutos de fama.

E no nosso meio eclesial, também vemos gente que vem para as redes sociais vociferar contra bispos, padres e até o próprio Santo Padre, quando não dizem aquilo que eles querem ouvir ou ler, colocando-se num postura de autêntico escrutínio da hierarquia eclesiástica, como se estivessem num patamar superior, uma espécie de “céu médio”, entre este mundo de pecadores mortais e o céu, onde habita Deus, como sucedeu, a titulo de exemplo, com a reação à recente entrevista do novo bispo do Porto, D. Manuel Linda, ao jornal Observador.

E este conjunto de exemplos poderia prosseguir, em escala mais pequena, nas nossas vidas e nas nossas localidades, com as vaidadezinhas bacocas, que se sentem tolhidas, sabe-se lá porquê (ou porque sim…) e usam as redes sociais, as cartas para este e para o outro, denegrindo o bom nome de quem trabalha nas mais diferentes áreas, incluindo a igreja, para que o bem comum possa ser uma realidade ou para que o progresso chegue e se lhe abram portas.

Quem procura a vã glória humana procura-a acima de tudo e de todos, procurando desvalorizar quem está à sua volta. O ambiente digital facilita isso, mas também nos ajuda a conhecer melhor o verdadeiro coração do ser humano. Para nós, cristãos, a verdadeira glória devia de ser só uma: a Glória de Jesus Cristo. Aos olhos dos homens e vendo-O somente na perspetiva da vã glória humana, olhamos para alguém que é condenado, que foi colocado num cruz alta para a ser um exemplo a não seguir. Mas para o nosso olhar crente, Aquele que vemos não só é um exemplo a seguir, como nos atrai. Olhamos para Ele que, amando-nos como somos, sem falsos graus académicos ou falsas fama, nos salva na cruz, fazendo de cada um de nós alguém verdadeiramente singular e único para Deus. E fica a pergunta: para quê saber da glória dos homens, da vã glória dos homens, quando o que nos garante a eternidade e a vida glorificada é a glória de Jesus Cristo, Filho de Deus, Mestre, Caminho, Verdade e Vida?

A todos desejo uma Santa Páscoa, repleta da alegria e da esperança trazida pelo Ressuscitado, que todos ama.