
Duas Coreias: foi o que nos habituámos a ver nos mapas, desde o final da Segunda Guerra Mundial, altura em que os Estados Unidos da América e a União Soviética dividiram o território da Península Coreana em dois, ficam o norte sob tutela comunista e o sul sob tutela americana.
Poucos se lembrarão ou saberão da história deste território, que nas últimas semanas tantas páginas da imprensa tem gerado. Na verdade, a Coreia do Norte não quis participar nas eleições de 1948, supervisionadas pelas Nações Unidas e foi esse facto que acabaria por determinar a existência até hoje de dois territórios com administrações distintas e que pelo meio teve uma guerra (a Guerra da Coreia, em 1950 – 1953), a assinatura de um armistício, cujo texto e termos vigoraram até 2013, altura em que foi suspenso pela Coreia do Norte, já então determinada em pôr de pé um programa nuclear, que tanto preocupou o mundo.
De então para cá foi governada por um só partido, liderado por uma dinastia familiar, fundada por Kim Il-sung e seguida pelo seu filho Kim Jong-il e, posteriormente, pelo atual governante e neto, Kim Jong-un, o senhor conhecido mundialmente pelo penteado estranho e pelo secretismo da sua vida.
Localizado num ponto geográfico de grande importância estratégica, este território tem sido alvo das atenções mediáticas, não só pelo seu excêntrico e misterioso líder, classificado por muitos como imprevisível e pouco confiável, mas pelo perigo que representa o poder ter armas nucleares à sua disposição, já que poderá, caso tal situação se mantenha, ser o ponto de partida para um conflito que se pode alargar à escala global, com consequências, como será fácil de perceber, muito dramáticas e imprevisíveis.
E depois de semanas de grande tensão, após os testes nucleares registados e anunciados com pompa e circunstância, eis que Kim Jong-un se mostra recetivo à assinatura de acordos de paz com a Coreia do Sul e de desnuclearização, à realização de uma cimeira internacional, que envolva os Estados Unidos e o seu Presidente Trump, bem como o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in.
Muitas são as vozes a nível internacional que alertam para o facto de o líder da Correia do Norte ser pouco confiável e imprevisível, facto que não constituirá um bom augúrio para esta situação. Para além disso, quer naturalmente negociar condições vantajosas para si e para o seu estado, tendo conseguido uma conjuntura favorável a isso. Também há quem diga que Kim Jong-un apenas se aventurou por esta solução diplomática e pela desnuclearização porque o local onde se realizavam as experiências (Punggye-ri, localizado ao que consta, no interior de uma montanha) terá desabado completamente após o último teste, deixando o país totalmente impossibilitado de recomeçar os testes e, por isso, desnuclearizado na prática.
Todavia, também a esperança se levanta, sobretudo para as muitas famílias que vivem separadas desde o final da Segunda Grande Guerra e que não tiveram possibilidades de voltar a encontrar-se. A esperança de voltar a unir um pais e um povo, de poder ter portas abertas de um lado do território e do outro, alenta o coração de muitos, que durante tantos anos sofreram, com os resquícios tristes e lamentáveis da guerra fria.
E poderá ser que o tempo volte a ser o mesmo em toda a Península Coreana, já que os relógios do Norte deixarão de estar adiantados 30 minutos em relação aos do Sul, como acontecia desde 2015, por decisão de Kim Jong-un.
O “tempo de Pyongyang” é agora ou, creio, nunca, porque se não se aproveitar o momento para criar uma paz verdadeira e sólida, o retrocesso será tão grande que nada se poderá fazer para que os relógios voltem a marchar ao ritmo normal, aceite e aceitável para todos os homens. E assim o desejo, para que todos os que sofreram com este longo intervalo possam retomar com alegria e com qualidade o rumo das suas histórias.