
Nesta última semana fomos todos confrontados com imagens de inúmeras crianças (cerca de 2300, dizem os media) colocadas em “jaulas”, separadas dos seus pais e familiares, que tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos, a partir da fronteira com o México.
A política de tolerância zero do Presidente Donald Trump implicava a aplicação do mesmo tipo de medidas para todos os que tentassem entrar no país, quer fossem pacatas famílias em busca de uma vida melhor, quer fossem narcotraficantes ou outro tipo de criminosos. E como a lei americana impede que as crianças sejam “detidas”, eram separadas dos pais e literalmente colocadas em jaulas, em centros de “acolhimento”, onde esperariam pela resolução da situação das suas famílias.
As imagens foram de choque: o choro de muitos pequenitos que não entendiam de todo o que lhes estava a acontecer enfureceu o mundo e colocou, mais uma vez, a ênfase nas “Trumpalhadas” que se vivem pelo s EUA. Não bastava armar professores para acabar com a violência nas escolas; não bastava aprovar leis xenófobas e desrespeitadoras dos direitos humanos; não bastava criar barreiras à importação de produtos, nomeadamente da União Europeia, e tantas outras coisas, Trump conseguiu colocar crianças em jaulas, como animais acossados e feridos, que não entendem a razão de ser da sua sorte.
Na verdade, tais atos configuram um grave desrespeito dos Direitos das Crianças, consignados na Declaração Universal aprovada em 1959 pelos países membros da ONU e que diz, no seu Princípio VI, que «a criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo circunstâncias excecionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe».
Barack Obama, o anterior presidente americano, publicou no Twitter um depoimento a propósito do Dia Mundial do Refugiado, referindo-se a esta situação. Dizia: «Ver em direto estas famílias a serem separadas levanta uma pergunta simples: somos um país que aceita a crueldade de se arrancarem crianças dos braços dos pais, ou seremos um país que valoriza a família e que trabalha para a manter junta? Olhamos para o lado ou vemos naquelas pessoas um pouco de nós e dos nossos filhos?».
Nem os aliados de Trump conseguiram “engolir” este tipo de ação, apelidando-a de vergonhosa e imoral, como de facto é. A própria primeira-dama, Melania Trump – ela mesma de origem eslovena, pasme-se e, portanto, com um historial de imigração! – trabalhou na sombra para evitar algo que afirmou não gostar: «Não gosto de ver famílias separadas». E conseguiu que alguma coisa mudasse, mas pouco. Trump assinou um decreto presidencial que acaba com a separação das famílias de imigrantes ilegais quando entram nos EUA, mantendo, ao mesmo tempo, a política de “tolerância zero” que lhe é tão querida. O documento prevê que pais e filhos fiquem todos detidos no mesmo espaço e por tempo indeterminado enquanto, diz o Presidente norte-americano, «assegura que temos uma fronteira poderosa e muito forte», que como já percebemos, é um dos seus grandes desideratos.
Todavia, diz a ONU, as crianças já detidas permanecerão separadas dos pais e nada mudará para elas.
Trump apresenta-se como cristão, homem que defende uma Fé que certamente não conhece, pois se assim não fosse, recordar-se-ia das palavras do Cristo, Senhor Jesus (Lucas 18, 15-17), que disse: «Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele». E com um gesto só, um gesto de um verdadeiro presidente, de uma grande nação, impediria que tantos sofressem e fossem humilhados.