

Ordenado sacerdote no dia 15 de agosto de 1968 na Sé de Braga pelo então arcebispo da arquidiocese D. Francisco Maria da Silva, o padre Domingos da Silva Fernandes vai celebrar 50 anos de sacerdócio marcados pelo serviço nas paróquias algarvias de Marmelete, Pêra e Estômbar que mais tarde se desdobrou também nos vicariatos da Mexilhoeira da Carregação e do Parchal.
Natural da freguesia de Touguinha, Vila do Conde, onde nasceu em 1941, Domingos da Silva Fernandes, nascido numa família católica com mais oito irmãos, começou a frequentar a catequese e entrou com 12 anos para o Seminário da Companhia de Jesus (jesuítas) em Macieira de Cambra motivado pelos exemplos de um tio e de um colega que também tinham sido seminaristas. Passou no quarto ano para o Seminário Diocesano de Braga, tendo sido condiscípulo de D. Jorge Ortiga (atual arcebispo de Braga) e de D. Pio Alves (bispo auxiliar do Porto) e feito parte também nos tempos de seminarista do Movimento de Schoenstatt, ao qual diz ainda estar “bastante ligado”.
A entrada no curso de Teologia no Seminário Maior despertou em si a possibilidade de vir trabalhar para a Diocese do Algarve devido ao conhecimento com uma religiosa de Monchique que trabalhava num colégio em Vila do Conde. Através da irmã Isaura Ventura, ainda viva, iniciou contacto com o então bispo do Algarve D. Júlio Rebimbas e com o então vigário geral da diocese algarvia monsenhor cónego Manuel Francisco Pardal. “Fui recebendo o jornal Folha do Domingo para me ir adaptando e conhecendo a Diocese do Algarve”, recorda, lembrando que se preparou para trabalhar na pastoral juvenil porque D. Júlio Rebimbas lhe deu a entender que o seu serviço na diocese seria nessa área. “Assim, fui-me valorizando na atividade escutista e realizei o curso da Insígnia de Madeira [associada ao primeiro curso de formação de dirigentes do Corpo Nacional de Escutas (CNE)] no campo-escola do Fraião, em Braga”, recorda o sacerdote que aderiu ao CNE com 18 anos.
Depois de ordenado, no dia 5 de outubro de 1968 chegou ao Algarve após uma viagem de 12 horas, tendo sido recebido no Paço Episcopal de Faro por D. Júlio Rebimbas que o nomeou prefeito e professor do Seminário de São José, numa equipa formadora constituída ainda pelos padres João Sustelo (reitor) e São José (prefeito) daquela instituição que acolhia na altura cerca de 60 seminaristas, maioritariamente de fora do Algarve. Simultaneamente começou então a lecionar a disciplina Religião e Moral na Escola Afonso III em Faro, tendo como colega o conterrâneo padre António da Rocha. “Foi-me também solicitado pelo D. Júlio Rebimbas a reorganização do movimento escutista, surgindo a Junta Regional do CNE, atendendo que nessa altura o mesmo era sustentado pelo chefe Manuel Gonçalves Rodrigues Júnior, chefe de expansão que vinha de Lisboa”, acrescentou.
Em outubro de 1970 deixa as funções em Faro porque D. Júlio Rebimbas pede-lhe que vá coadjuvar o pároco de Alferce, Marmelete e Monchique, padre Francisco Melo, na pastoral juvenil. Em Monchique começou também a lecionar Religião e Moral e História no então Colégio de Santa Catarina e na Escola Básica, onde chegou a ser presidente do conselho diretivo. Na vila ajudou a fundar em 1973 o agrupamento do CNE e a companhia da Associação Guias de Portugal. “No Alferce foi construída a capela do Monchicão com a minha responsabilidade”, lembra, acrescentando que durante a sua estadia em Monchique começou também a lecionar latim no Liceu de Portimão. “Deixei de lecionar no Colégio [de Santa Catarina] e deslocava-me para Portimão, atividade esta que mantive até à minha aposentação”, conta.
Em setembro de 1974, passando a residir em Portimão, foi nomeado pároco de Marmelete, tendo deixado a colaboração com as paróquias de Alferce e Monchique. “Durante os seis anos em Marmelete foi restaurado o interior e o telhado da igreja” recorda, lembrando que iniciou nessa altura a licenciatura em História. “Íamos às aulas aos sábados e aos domingos à tarde em Faro nos primórdios daquilo que viria a ser a Universidade do Algarve”, conta, explicando que de 1976 a 1978 esteve sem paróquia para conseguir concluir a formação académica.
Em outubro de 1978, o então bispo do Algarve D. Ernesto Costa nomeou-o pároco da paróquia de Pêra. “Foi um desafio pastoral interessante ali realizado durante 11 anos. Foi um trabalho notável a nível de serviços e da pastoral familiar”, lembra, considerando mesmo aquele serviço como o “ponto mais marcante”, em termos pastorais, no seu ministério. “Foi o mais marcante porque comecei do nada. Quando saí deixei uma pastoral familiar, de ministérios e serviços litúrgicos e catequeses”, justifica.
Em agosto de 1989, o então bispo do Algarve D. Manuel Madureira Dias nomeou-o pároco de Estômbar que nessa altura abrangia a Mexilhoeira da Carregação e o Parchal, paróquia onde esteve durante 25 anos, até setembro de 2014. Para dar resposta pastoral a duas zonas que tiveram um enorme crescimento populacional no final do século passado lançou-se na construção das igrejas do Parchal, concluída a 15 de abril de 1990, e da Mexilhoeira da Carregação, concluída a 7 de outubro de 2001, que deram origem, respetivamente, aos atuais vicariatos de São Francisco de Assis e de Santo António. Em outubro de 2001, data da ereção do vicariato do Parchal, foi então nomeado seu vigário paroquial e em junho de 2008 do vicariato da Mexilhoeira da Carregação, data da ereção do mesmo.

A sua passagem pela paróquia de Estômbar e pelos dois vicariatos tem vindo a ser também marcada pela obra no campo social. Em janeiro de 1992 foi inaugurado o Centro Paroquial de Estômbar com as valências de Centro de Dia (chegando a acolher 20 utentes) e Apoio Domiciliário (apoiando 35 idosos). Em abril de 1993, aquele centro paroquial iniciou também a valência de Creche no edifício da Junta de Freguesia. Quando as valências de apoio a idosos foram mais tarde assumidas pela Santa Casa da Misericórdia de Estômbar, o espaço do centro paroquial foi adaptado a jardim-de-infância (que ainda acolheu 36 crianças) e que acabou por ser transferido para o infantário da Mexilhoeira da Carregação quando deixou de ser pároco de Estômbar.

Em setembro de 2007 foi inaugurado o infantário da Mexilhoeira da Carregação com as valências de creche e jardim-de-infância (108 crianças e 22 funcionárias no total). Além das infraestruturas sociais, os espaços para a pastoral da juventude não foram esquecidos. Assim, no Parchal foram adquiridos três apartamentos onde funciona a catequese e feita uma sede para o escutismo.

Na Mexilhoeira da Carregação, por baixo da igreja, foi construído o salão paroquial e as salas para a catequese. A comunidade acolheu também o CNE e a sede do agrupamento também foi construída, juntamente com uma residência com capacidade para acolher uma equipa pastoral que possa futuramente ali trabalhar.

O padre Domingos Fernandes foi ainda assistente regional do CNE no Algarve e vigário da vara da vigararia de Albufeira. Ao analisar este meio século de “vida consagrada a Deus e aos homens na Diocese do Algarve”, o aniversariante diz sentir-se “feliz”. “Fiz parte de uma geração de sacerdotes que viveram os primeiros tempos do Concílio Vaticano II que fez despertar em nós o «ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova». Foi esta missão que procurei trazer para a vida pastoral, principalmente no campo da catequese e no movimento do escutismo, ao qual me dediquei na assistência regional e nos agrupamentos”, refere, acrescentando que o lema do CNE – “Sempre alerta para servir” – foi o que o orientou desde a juventude.
O sacerdote participou no passado dia 16 de junho em Viana do Castelo num encontro do seu curso com antigos colegas. Para assinalar os seus 50 anos de ordenação sacerdotal será celebrada uma eucaristia de ação de graças no próximo dia 15 de agosto, pelas 18h, na igreja do Parchal, na qual o bispo do Algarve presidirá à ereção paroquial daquela comunidade. No dia 19 de agosto, o sacerdote celebrará também o aniversário na sua terra natal.