Muitas vezes ouvimos dizer que o mundo, no geral e o nosso país em particular, está pior do que era há uns anos atrás. Há mais violência, há mais corrupção, há mais crimes económicos, os jornais estão cheios de notícias trágicas com o aumento da violência doméstica ou os casos de pedofilia e abusos de menores que atingem todos os setores da sociedade e da vida pública. Enfim isto “vai de mal a pior” e já não podemos confiar em ninguém, diz-se nas conversas de café. Nem na Igreja Católica, onde também é tudo igual ao mundo, porque, lá está, é composta de homens e mulheres como os demais, embora nos esqueçamos disso.

Mas eu lamento informar que esta visão do mundo não só é pessimamente negativista, como é uma mentira existencial, transformada numa verdade aparente. A única realidade diferente e que alterou substancialmente a nossa perceção do que nos rodeia é a capacidade e velocidade de circulação e difusão de informação, de análise da mesma, que consequentemente levou a Humanidade a um enorme desejo de transparência. Hoje, maioritariamente preferimos a certeza dura da verdade, do que a brisa suave da mentira ou a subtileza aparentemente bonita de uma realidade disfarçada ou caracterizada como nos filmes de ficção, para parecer mais doce. Não há mais corrupção hoje do que há 50 anos atrás. Simplesmente há 50 anos atrás ninguém sabia dos casos de corrupção, porque os jornalistas não podiam ou não “queriam” informar o público desses casos. Não há mais violência doméstica hoje do que há 50 anos atrás. Simplesmente há 50 anos atrás as mulheres eram agredidas e ficavam caladas, porque para além de a sociedade ser profundamente machista e ver essa violência como a normalidade da vida, a maioria dessas mulheres dependia economicamente e socialmente dos seus maridos para sobreviverem. A era da informação e da sociedade em rede, embora tenha trazido aspetos negativos, fomentou e criou muitos outros aspetos positivos. E a busca da transparência é absolutamente uma delas.

Hoje há mais Fake News (noticia falseada)? Sem dúvida que há, porque existe um caudal maior de informação. Mas também há mais possibilidade de se saber que se trata de uma Fake News, porque temos acesso a mais fortes de informação para confrontar e alcançar a verdade.

Nunca, como agora, as diversas classes sociais tiveram a possibilidade de ter acesso à mesma informação e à mesma formação. Outrora a formação era só para uns quantos iluminados e ricos e a informação era para quem viva nas grandes cidades físicas. Hoje, felizmente, há um acesso mais igualitário quer à informação, quer à formação e ambas podem realizar-se no conforto da nossa casa, com acesso a um computador.

O Papa Francisco sabe disso e certamente este aspeto, entre muitos outros, foi um dos que pesou na sua decisão histórica e tão importante de terminar com o sigilo pontifício nos casos de abusos sexuais e de pessoas vulneráveis por parte de membros do clero. A transparência leva, sem dúvida nenhuma, a que se saiba a absoluta verdade sobre qualquer pessoa. E agora isso é ainda mais verdade.

E como para nós cristãos não há melhor notícia nem verdade mais profunda do que a que nos garante que Deus nos ama tão profundamente que mandou à terra o Seu Filho Jesus e em poucos dias assinalaremos precisamente o Seu nascimento, desejo a todos um Santo Natal, vivido na graça e na verdade desse Amor que nos une e que nos irmana. Santas Festas!