O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura disse ontem aos cerca de 90 participantes das jornadas de atualização do clero das dioceses do sul que “é uma urgência evangelizar a cultura”.

“A urgência de evangelizar a cultura é também a urgência de sermos evangelizados pela cultura e de evangelizarmos através da cultura”, complementou José Carlos Seabra Pereira, que refletiu sobre o tema “A Evangelização da Cultura. Tarefa ingente da Igreja”, lembrando haver “muitas formas de estar da cultura” e “muitas formas também de entrar em diálogo esse mundo”.

Aquele investigador e professor universitário explicou tratar-se de “razões de urgência, também e sobretudo, pela positiva, por aquilo que a cultura traz no exercício necessário de autointerpretação na dinamização da fé e da prática cristãs”.

Lembrando o desafio do Papa Bento XVI no seu encontro em Fátima com os agentes da cultura, disse ser necessário “estabelecer um novo pacto criativo com a cultura e com a arte”. “Eis aí o melhor programa para nós neste campo da evangelização da cultura”, acrescentou.

O orador defendeu que hoje “um dos grandes riscos dissolventes das tendências culturais não-cristãs é a própria dissolução, ocultação ou mesmo negação explícita da própria noção de uma natureza humana”, o que disse “potenciar de uma forma exacerbada e deslocada o poder de autonomia pessoal, a autarcia da consciência e a ideia de que tudo é construção sóciocultural ao longo dos tempos”.

“Temos, próximo de nós, consequências dessa dissolução ou ocultação da natureza humana quando estamos a discutir questões hoje tão candentes e de tão forte confrontação como a posição perante a eutanásia, perante o aborto ou mesmo a moral sexual, quando tudo aquilo que é remetido para um libertarismo irrestrito, cujos fundamentos são de que não há uma natureza humana subjacente ao estar no mundo de cada homem, mas é cada homem que livremente decide aquilo que quer fazer na vida e com toda a legitimidade”, sustentou, abordando a “necessidade de uma antropologia cristã”.

José Carlos Pereira disse que estamos num “contexto de multiculturalismo” e numa “relação de interculturalidade”, referindo-se à interculturalidade como “o diálogo e a permuta entre mentalidades abertas”.

O conferencista advertiu para a “intenção ideológica que há muitas vezes de manipular certas tendências culturais para subverter outros sistemas de valor, nomeadamente o cristão, sobretudo no Ocidente”. “Devemos adotar esse regime de confrontação evangelizador porque, perante estes discursos e estas forças, ao enfrentá-los com energia evangélica também estamos a enfrentar as feridas do mundo de que falava o cardeal Tagle”, desenvolveu.

“Que possamos aparecer numa atitude de escuta, de acolhimento, de diálogo, mas também com a nossa identidade”, pediu, acrescentando que os católicos devem “testemunhar, assinalar, cada um no domínio que domina melhor, o que é essa presença cristã” na cultura. “Temos que abalar essa inércia, essa suposta suficiência, a indiferença agnóstica, provocar aquilo a que o cardeal chamou o momento da verdade, pelo menos provocando a interrogação”, prosseguiu.

A atualização de bispos, padres e diáconos das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal está a decorrer desde ontem, pelo segundo ano consecutivo por causa da pandemia, em formato online, através da plataforma Zoom, sobre o tema “Testemunhar com audácia o Evangelho, força renovadora da humanidade”.