(texto para mães e pais)
Se calhar este texto vai ser uma repetição do Galinha Gorda.
Se calhar é uma maçada estar sempre a falar dos filhos e do amor pelos filhos e da tentação de proteger os filhos e disto e daquilo dos filhos. Bem, será relativa, essa maçada, presumo. Para qualquer mãe, (e pai) os filhos serão sempre uma fonte inesgotável de assunto, mesmo que não sejam o ÚNICO assunto (e ainda bem). Até porque, penso que há uma fronteira grande entre o adivinhar dos problemas dos filhos, do intuir o que se passa com eles, do perceber nas entrelinhas as angústias e antecipar-lhes os medos e o resolver, tudo isso, o tirá-los da arena da decisão e da vivência própria do que se vai passando, atropelando uma gestão própria que são eles que têm de fazer e um crescimento que é deles e só deles, mesmo que seja um crescimento doloroso e mesmo que se veja que está a doer. Serão dores de crescimento, eu sei…
Sim, é tentadora a ideia de os pôr debaixo da asa, a tal asa da tal galinha do outro texto, mas é imperioso o sabermos recuar e baixar a cabeça, ouvir e pressentir, mas passar para a segunda linha da decisão e da gestão do problema. Já não são nossos e nossas. São deles próprios, das suas próprias vidas e essa é uma aprendizagem que todas as mães e pais devem fazer e que nem sempre é fácil.
Por estes dias, tenho pensado muito nisto: vejo, apercebo-me, adivinho até…, mas recuo silenciosa e amorosamente, dando espaço e lugar para decisões que já não são minhas.
O coração das mães (e pais) continuará a ser elástico, pois lá continuarão a caber todos os filhos. É verdade. Caberão mesmo. Mas também tem de caber lá dentro uma grande capacidade de discernir que continuamos a ser pais e mães normais, amorosos, acolhedores, infinitamente presentes e lúcidos, se soubermos recuar e ceder-lhes, quando é preciso, o papel principal.
E por isso, esta reflexão hoje, não é sobre filhos. É mesmo sobre pais e mães como eu.