Em reflexão enviada à Assembleia Geral das conferências do Conselho Central do Algarve da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), que decorreu no passado sábado no Centro Paroquial de Santa Luzia, o assistente espiritual daquele organismo lamenta que amar não seja o “critério comum da mentalidade utilitarista atual”, mas sim o “ter sucesso, com a agravante de ser considerado o substrato dos critérios que mais orientam o comportamento das pessoas” que entende ser “o ter”, “ou a ânsia de riqueza e posse”; “o gozar”, “ou a ânsia de retirar da vida as maiores vantagens e o maior prazer”; e “o saber”, “como meio de poder mais, de ter mais e de gozar mais”.

“Quem se atreve a falar que servir é um valor? Perante as tentações modernas do poder económico, da silhueta perfeita, da postura politicamente correta, de determinadas influências ideológicas, quem se atreve a ver a vida para além de um jogo e de uma competição?”, interrogou o cónego Carlos de Aquino na sua comunicação, intitulada “Só o Amor salva – o serviço evangelizador duma Igreja sinodal e missionária”, destinada àqueles agentes da pastoral social.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Se perguntarmos aos economistas, aos juristas, aos psicólogos, aos sociólogos e filósofos da moral sobre que forças se baseia o funcionamento social, responderão que são o contrato e o mercado! Nunca dirão, nesta cultura do poder e da ditadura do Relativismo, que é o espírito do serviço, da generosidade, da humildade, do dar de si, do amor! Preferem recordar que existem leis, regras do jogo e no interior destas pessoas fazem acordos, fazem-se trocas de serviços de forma a obter uma vantagem recíproca”, prosseguiu.

O sacerdote considerou, então, que “servir é um valor humano por excelência, mas não natural”. “Não pode ser puro dever. Eticamente ninguém tem de servir. Fá-lo por generosidade, não por obrigação. Se se não pode exigir o amor, pode-se escutar, cultivar, aprender, reconhecer e apreciar. Servir não é uma forma estável de estar, é uma busca, um querer, um ato criativo, um acordar. Tem a ver com o amor, a doçura, a ternura, tudo aquilo que é nobre, alto, admirável. Com o que suscita e estima e respeito”, desenvolveu, concluindo: “creio, cada vez mais, que o espírito de serviço se expressa religiosamente na doação; eticamente na dedicação; e eclesialmente na generosidade”.