O Boletim do Algarve, de 11 de Janeiro de 1914, é uma homenagem a D. António Barbosa Leão. As boas-vindas foram dadas pelo cónego Manuel Alexandre da Silva: "É um bispo reduzido à pobreza, expulso do seu paço, a contas com tribunais civis; um bispo que acaba de cumprir uma penalidade de desterro, imposta pelo ministro da justiça em pleno regime de liberdade de cultos".
As suas deslocações pelas Diocese eram feitas de comboio. Tinha um passe anual e também o seu secretário.
D. António Barbosa Leão sofreu amargamente com a República devido à anarquia reinante. Em várias localidades teve de travar uma luta destemida para que a ordem pública fosse restabelecida e os direitos humanos fossem cumpridos. Lagos e Lagoa, embora a história ainda esteja por fazer, foram duas localidades onde a acção republicana foi mais feroz e aviltante para a Igreja. "Agora não há lei, esse tempo já passou. Agora estamos em outros tempos. Cada cidadão republicano é a Lei, e um só basta para oprimir, impunemente, um povo inteiro", comentou o P.e Humberto Augusto Chagas da Paz, ajudador em Boliqueime.
Neste conturbado tempo nem todo o clero acatou as determinações da Igreja, sobretudo por razões económicas, e alguns foram suspensos e até excomungados quando praticaram actos de usurpação de jurisdição ou tiveram comportamento moral reprovável e foram rebeldes à autoridade eclesiástica. Outros sofreram no corpo a tirania da I República.
Sacerdotes suspensos e/ou excomungados
1. António Bernardo Salgado. Prior de São Marcos da Serra. Foi intimado, em 1912, a declarar se aceitava ou não a pensão republicana. Pensionista republicano suspenso em 1915. Em 1917 ainda se encontrava suspenso e excomungado.
2. António Maria Barros Santos. Ajudador em Santa Catarina da Fonte do Bispo. Pensionista republicano. Ficou suspenso, em 1912, atendendo que era rebelde à autoridade eclesiástica, tinha vida dissoluta e usurpara a jurisdição.
3. António Máximo de Sousa Calado. Prior de São Bartolomeu de Messines. Foi intimado a declarar se aceitava ou não a pensão que lhe foi arbitrada pela República. Pensionista republicano, ficou suspenso em 1912.
4. Humberto Augusto Chagas da Paz. Ajudador em Boliqueime. Pensionista republicano. Ausentou-se da Diocese em 1911 e ficou suspenso.
5. João Henrique. Ajudador em São Bartolomeu de Messines. É co-fundador de um jornal em Lagos. Por questões pessoais e políticas foi maltratado e ausentou-se para o Brasil em 1911. Regressou ao Algarve, em 1915, e foi pároco no Azinhal. Abandonou a paróquia para estudar em Faro e ficou suspenso, em 1916, e ausentou-se novamente para o Brasil.
6. João Jacinto Sequeira. Prior de Santa Bárbara de Nexe. Pensionista republicano. Saiu compulsivamente da paróquia e ficou suspenso em 1914.
7. João de Assunção Pereira Galvão. Ajudador em Castro Marim. Pensionista republicano, foi suspenso do exercício de ordens e , em 1917, estava ainda suspenso e excomungado.
8. João de Jesus Cabrita. Ajudador em Albufeira. Ficou suspenso em 1917.
9. Joaquim Marreiros Mascarenhas Neto. Prior de Alte. Pensionista republicano. Fez a apologia da Lei da Separação e confirma publicamente: "aceito a pensão" (1911). Em 1917 ainda estava suspenso do exercício de ordens sacras.
10. José Augusto Cansado. Prior na Bordeira. Pensionista republicano. Ficou suspenso em 1912. Foi integrado no presbitério em 1929.
11. José Horácio de Mendonça e Quintanilha. Prior de Cachopo. Pensionista republicano. Rebelde à autoridade eclesiástica, ficou suspenso em 1912 e excomungado em 1916.
12. José Paulino de Jesus. Prior de Ferragudo. Pensionista republicano. Conflituoso, não acatou as orientações do Bispo do Algarve, ficou suspenso em 1912 e excomungado.
13. Manuel da Silva Ramos. Ajudador em Santa Maria do Castelo, Tavira. Pensionista republicano e auto-suspendeu-se. Foi suspenso em 1912 por não dialogar com o Bispo e ausentou-se para Coimbra onde se formou em Direito. Secularizou-se.
14. Manuel Simões da Costa. Rebelde à autoridade eclesiástica, estava ainda suspenso do exercício de ordens sacras em 1917.
15. Pio Lino. Ajudador em Alcantarilha. Pensionista republicano e foi suspenso em 1912.
16. Sebastião de Jesus Palma. Pároco no Ameixial. Pensionista republicano e recusou sair da paróquia. Foi suspenso e excomungado em 1911.