O Papa Francisco nomeou o cónego José Pedro Martins “Capelão de Sua Santidade” com o título de “monsenhor”, como reconhecimento da sua “dedicação” à Igreja do Algarve e do seu “testemunho de amor e vivência sacerdotal”.

O título de “monsenhor” foi-lhe concedido por Francisco no passado dia 28 de agosto e entregue pelo bispo do Algarve no início da Eucaristia deste domingo, na paróquia de Santa Bárbara de Nexe, da qual o cónego José Pedro Martins é pároco.

No pedido do referido título ao Papa a 29 de junho passado, o bispo do Algarve destacou que o sacerdote algarvio constitui para a Igreja diocesana “um exemplo reconhecido de doação e entrega ao longo de todo o seu ministério presbiteral, vivido exemplarmente nos muitos e diversificados serviços de que foi incumbido ao longo dos seus já longos anos de ministério sacerdotal”.

D. Manuel Quintas evocou ainda “o seu inestimável contributo musical, pelas suas qualidades como compositor de música sacra, detentor de um vasto e diversificado repertório para os diferentes tempos litúrgicos, com o desempenho de uma ação reconhecida inclusive a nível nacional, pelo seu contributo para a adequação da música sacra e litúrgica à reforma litúrgica conciliar”.
O bispo diocesano, que lembrou todo o percurso do sacerdote, disse não ter dúvidas de “interpretar o sentir” da Igreja diocesana, certo de que este gesto do Papa será “motivo de grande alegria” para os cristãos algarvios.
Na Missa desta manhã, D. Manuel Quintas referiu o “sentimento de gratidão” que interpreta o “sentir de toda a diocese”.

O cónego José Pedro Martins considerou tratar-se de uma “capelania honorária” que o “implica em mais ação de graças, fidelidade e responsabilidade na doação em especial comunhão eclesial”. “Eu não mereço estas coisas todas. Para mim, o importante e o essencial é a graça de ordenação de presbítero, já lá vão 53 anos. Tudo o mais, só o entendo na dimensão do serviço em ordem à promoção da fé e ao crescimento da Igreja. Mesmo os títulos que me foram concedidos só os sinto e vejo como serviço na edificação do reino de Deus”, acrescentou, considerando o novo título “mais um apelo à dádiva” da sua vida e à “responsabilidade pessoal de corresponder à missão” para que se ordenou e foi chamado.

“Agradeço, sem mérito algum da minha parte, todos os desígnios que o Senhor assim me foi pedindo e, particularmente, este agora inesperado no contexto das minhas precárias forças”, afirmou, assegurando que o Papa poderá contar com a sua “doação orante”.
O cónego José Pedro de Jesus Martins, que assinalou as suas bodas de ouro sacerdotais no dia 29 de junho de 2020, é natural da freguesia de São Sebastião de Lagos, onde nasceu a 26 de outubro de 1942. Cresceu no seio de uma família católica e foi batizado na paróquia de Santa Maria pelo pároco de então, padre Francisco António Carmo, mas foi na paróquia de São Sebastião que frequentou a catequese. A paróquia de Santa Maria de Lagos viu-o também ser crismado pelo bispo do Algarve da altura, D. Francisco Rendeiro, e ordenado diácono.

Pertenceu à Juventude Operária Católica (JOC). Estudante na Escola Industrial e Comercial de Lagos, pertenceu também ao Corpo Nacional de Escutas. Em 1961 entrou no Seminário de Almada. Depois de dois anos naquele Seminário, continuou estudos no dos Olivais, onde esteve mais cinco anos. Tendo concluído, em 1970 com 28 anos, o Curso de Teologia no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Lisboa, foi ordenado diácono no dia 29 de maio, em Lagos, e sacerdote no dia 29 do mês seguinte na Sé de Faro, pelo bispo do Algarve de então, D. Júlio Tavares Rebimbas.
Foi depois nomeado prefeito e professor de música, história e português do Seminário de Faro. Foi membro do Secretariado Diocesano da Liturgia, Música e Arte Sacra, assistente diocesano da Liga Agrária Católica Feminina e do Secretariado da Obra das Vocações. Lecionou Português e também Educação Moral e Religiosa Católica, não apenas na Secundária de Olhão, mas também no então Liceu e na Escola Tomás Cabreira, em Faro.

Licenciou-se em História em 1980 pela Faculdade de Letras de Lisboa. Fundou e dirigiu, como primeiro diretor artístico, o Coro do Conservatório Regional do Algarve, onde também lecionou a disciplina de História da Música. Em 1980 foi nomeado pároco de Pechão e Quelfes, serviço que manteve até 1983, tendo sido também vigário da vigararia de Faro, e, desde então membro do Conselho Presbiteral.
Foi também o fundador e primeiro diretor do Coral Ossónoba, em 1980, função que suspendeu em 1983 por ter sido nomeado pároco de Vila Real de Santo António que na altura incluía também a de Monte Gordo, posteriormente desmembrada. Regressou ao Seminário de Faro, tendo sido nomeado vice-reitor.
Em 1989 foi nomeado reitor da instituição e vigário geral da diocese com jurisdição sobre a pastoral para aplicação da reforma litúrgica no Algarve e a consequente reestruturação da pastoral da diocese. O então bispo do Algarve D. Manuel Madureira Dias pediu-lhe para frequentar o Curso de Atualização Teológico-Pastoral no Instituto Superior de Pastoral da Universidade Pontifícia de Salamanca que terminou em 1994. É autor de diversos subsídios para a pastoral.
Foi ainda coordenador da Pastoral Profética e da Pastoral Litúrgica, diretor do Secretariado Diocesano de Liturgia e do Secretariado da Catequese. Como vigário geral foi também administrador da Tipografia União e da Folha do Domingo.
Em 1996, D. Manuel Madureira Dias nomeou-o cónego para o Cabido da Sé de Faro de que foi chantre e deão.
Em 2003 voltou a ser pároco. D. Manuel Madureira Dias nomeou-o pároco da matriz de Portimão, serviço que manteve até 2009, e vigário episcopal para a Pastoral. Em 2009 voltou a Faro para paroquiar a paróquia da catedral, continuando como Vigário Episcopal e sendo novamente nomeado reitor do Seminário de São José. Em 2017 foi dispensado destes cargos e nomeado diretor do Arquivo Histórico da Diocese, continuando o exercício das funções de deão do Cabido da Catedral e assumindo a paroquialidade de duas paróquias periféricas da cidade de Faro, Santa Bárbara de Nexe e Estoi, serviço que ainda mantém.
O interesse pela música na vida do cónego José Pedro Martins aconteceu ainda em Lagos, onde chegou a pertencer a um coral da JOC, e prosseguiu nos Seminários com o ensino musical. Consagrou-se como um dos maiores nomes da música litúrgica nacional. O cónego José Pedro Martins tem vários álbuns editados e o seu nome consta mesmo da Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, do Círculo de Leitores e alguns dos seus cânticos foram traduzidos e inseridos em coletâneas oficiosas, como o Cantoral Liturgico Nacional de Espanha. É autor de um grande espólio de música litúrgica com algumas publicações e gravações editadas em Portugal, Espanha, Brasil e Itália. Mas grande parte das suas composições estão divulgadas em folhas avulsas. Em 1980 foi jurado do Festival RTP da Canção, em representação do Algarve.
A apresentação da coletânea que recolhe parte das partituras musicais do cónego José Pedro Martins está prevista para breve.
Em 2017 foi também o responsável pela criação da Escola de Órgão da Catedral de Faro.
Em 1988, a Câmara de Faro atribui-lhe a medalha da cidade.
Monsenhor é um título honorífico concedido pelo Papa a alguns sacerdotes, como reconhecimento de seus serviços prestados à Igreja; o número de monsenhores por diocese não deve superar 10% dos sacerdotes incardinados.
