D. Graziano Borgonovo/Itália lançou-nos um apelo de gerar âmbitos de verdadeira busca porque Jesus quer chegar ao coração do homem e à sua vida para que esta dê fruto. Aspectos distintivos do humano (segundo o Santo Padre, na sua visita ao Equador): Gratuidade e memória/memória da gratuidade, fundamentos para que cada um possa pensar na própria vida em termos de Serviço e Alegria, que são consequências dos primeiros dois fundamentos.

A memória de tudo isto nasce da família e é cada vez mais importante evidenciar, sobretudo numa fase em que é tão difícil abordar esta temática diante de todas e tantas equiparações frágeis nos dias de hoje, a que a família é sujeita. É necessário voltar às raízes. A família é o primeiro lugar de educação da memória.

Quito quer ser uma imensa tenda eucarística. Sonhamos com uma fraternidade redimida e curada pelo amor total de Cristo. Nazaré converteu-se no lugar, âmbito, da vida, da luz e da paz (imagem do quadro “Otoño o Nazaret” – Georges Rouault).

Como ensinou o Papa João Paulo II, “os esposos participam na obra criadora de Deus” (FC). S. Tomás comparou o matrimónio ao sacramento da ordem. A família dos batizados chega a ser como a igreja, mestra e mãe.

Algumas atitudes favorecem o crescimento da maturidade humana no contexto familiar. A educação nas virtudes, a começar pelos pais que recebem esta chamamento pela sua vocação própria de quem serve desinteressadamente, manifestam-se nas seguintes formas: ternura, respeito, fidelidade, abnegação, domínio de si, são-juízo e perdão.

Missão profunda e verdadeira é a educação da consciência. A oração diária familiar é o primeiro testemunho de igreja que as crianças recebem. A família sai de si e oferece-se, fazendo isto encontra-se a si mesma, sem se perder. O amor esponsal é dar a própria alma (KW). A beleza do amor e o cuidado das pessoas são o rosto profundo e mais verdadeiro da realidade.

O matrimónio é onde o amor fiel de Cristo pela Igreja se manifesta e expressa. O matrimónio não é uma formalidade que se quer cumprir… queremos fundar o matrimónio no amor de Cristo. A família é uma riqueza social que originariamente forma a sociedade. A família é o hospital mais próximo, é uma escola, um grupo e um lar onde os mais velhos se reclinam (Papa Francisco). A família é a força da sociedade porque é um lugar quente e seguro para os seus membros.

Duas imagens sobre a vida: a viagem (peregrinação – meta, sentido e orientação) e a navegação (vagabundo solitário que reside em cada um de nós) na internet, aqui tudo parece livre, aberto e liberto… muitos colocam a família também nos bastiões a derrubar. Hoje, muitas vezes a vida reduz-se a um vagabundear solitário… ficamos em circulo sobre nós mesmos e as patologias que nascem da frustração aumentam muito… Porquê? – porque muitas vezes tentamos uma relação com a realidade que nos precede. O mundo de hoje está pouco preservado de proteção diante do relativismo e do subjetivismo. Diante disto a família entra em crise. Defender a família é defender a necessidade do ser humano ser educado.

Só o dom supremo de Deus na Eucaristia pode converter a família em escola de fraternidade na construção da cidade terrena dos homens, segundo o coração de Jesus, como fizeram os antepassados deste povo em Quito.

Ainda neste contexto escutámos o testemunho de Andrea Losi e a sua família fazem parte da missão “Mato Grosso”. São voluntários (há 20 anos) italianos e vivem aqui no Equador. Vivem numa zona bem rural. Andrea teve uma vida religiosa/paroquial muito habitual, estável e responsável, mas deparou-se com muitas dificuldades na vida diante das desigualdades sociais… havia um vazio existencial por preencher… buscou muito, também politicamente, mas não encontrou experiências. Bonitas. Foi convidado para um campo de trabalho para os pobres da América Latina. Foi um relâmpago na sua vida… Ana, foi diferente. Estudava fisioterapia. Foi impelida a ir a Assis por um colega, lá experimentou a beleza de um encontro consigo num curso vocacional dedicado aos jovens que buscam sentido e direção para a vida… Deus foi reconstruindo o seu coração e dando ordem. Percebeu que tinha de deixar tudo, ir e seguir Jesus de outra maneira, e transformar este apelo em vida. Foi a “operação Mato Grosso” – é uma “ong” nascida em 1968 por parte de um sacerdote salesiano. O objetivo era deixar as palavras e sujar as mãos. O “primeiro rico que há que converter sou eu”. Busca verdadeira de si próprio com muitos trabalhos, especialmente braçais… começa-se um caminho espontâneo e surge um caminho que se pode fazer… assim se formou um caminho conjunto que fez com que construísse uma família que nasceu da missão.

P. Pedro Manuel
Delegado Diocesano ao Congresso Eucarístico Internacional – Quito/Equador