No cenário atual, de rápida digitalização, a Igreja Católica encontra-se diante de uma encruzilhada crucial. A ascensão das redes sociais e dos influenciadores digitais está a transformar profundamente a maneira como a fé é vivida, compartilhada e, até mesmo, compreendida pelos fiéis. Este fenómeno, conhecido como “mediatização da religião”, apresenta tanto desafios, quanto oportunidades para a Igreja e seus seguidores.
Por um lado, as plataformas digitais oferecem um meio sem precedentes para a evangelização e o envolvimento com os fiéis. Cada católico tem, no presente, o potencial de ser um “micro influenciador”, partilhando sua fé e experiências pessoais com um público global. Isso democratiza a disseminação da mensagem católica, permitindo que vozes diversas sejam ouvidas.
No entanto, essa mesma acessibilidade traz consigo riscos significativos. A proliferação de “influenciadores católicos” nem sempre alinhados com o magistério oficial da Igreja, pode levar à fragmentação e à polarização dentro da comunidade católica. Vemos o surgimento de “bolhas eclesiais” e, podemos mesmo dizer, de um “magistério paralelo”, que, em alguns casos, desafia abertamente a autoridade tradicional da Igreja. Particularmente preocupante é a tendência de alguns desses influenciadores, de promoverem uma visão ultraconservadora do catolicismo, claramente em oposição direta às posições do Papa Francisco e de outros líderes progressistas da Igreja. Isso, não apenas cria divisões dentro da comunidade católica, mas também pode distorcer a mensagem central do Evangelho, reduzindo-a a debates políticos ou morais estreitos, ou seja, sem profundidade e abertura à pluralidade.
Além disso, a natureza algorítmica das plataformas dos media pode exacerbar essas divisões, criando câmaras de eco, tribalismos claros e muito vincados, que reforçam visões particulares e limitam a exposição a perspetivas diversas. Isso vai contra o espírito de universalidade e diálogo que está no cerne da tradição católica.
Diante desses desafios, é crucial que a Igreja desenvolva uma abordagem proativa e esclarecida relativamente à sua presença no digital. Isso inclui, não apenas o uso estratégico dos media sociais, mas também a formação dos fiéis – e também dos consagrados e do clero -, para serem consumidores críticos e produtores responsáveis de conteúdo digital.
A Igreja deve, também, reafirmar a importância da comunidade tangível e da experiência vivida da fé, que não pode ser totalmente substituída por interações online. Ao mesmo tempo, deve reconhecer e abraçar as novas formas de comunidade e expressão de fé, que surgem no espaço digital.
No fundo, o que se necessita é que se possa promover um “discernimento digital”, incentivando uma abordagem reflexiva e orante para no que diz respeito à comunicação e vida online. Isso inclui a capacidade de distinguir entre conteúdo autêntico e desinformação, bem como a sabedoria para navegar nas complexidades éticas do mundo digital.
Em última análise, o desafio para a Igreja Católica na era digital não é simplesmente adotar novas tecnologias, mas fazê-lo de uma maneira que preserve e promova os valores fundamentais do Evangelho: amor, comunhão, justiça e verdade. Só assim a Igreja poderá navegar com sucesso nas águas turbulentas da mediatização, transformando os desafios em oportunidades para uma evangelização mais profunda e abrangente no século XXI.